Capítulo 7

0 0 0
                                    


7

Estúdio 3

***

[Los Angeles, CA; 26 de julho]

Sarah fez a gentileza de me levar ao estúdio na manhã seguinte. Isso era mais uma garantia de que eu não iria cagar com nada do que uma gentileza, para falar a verdade — e, sejamos honestos, havia uma enorme possibilidade de acontecer. Mas fiquei agradecida de qualquer maneira.

Mesmo com o ar abafado de Los Angeles me deixando um pouco tonta, tentei me manter confiante. Estava sendo mais fácil após passar a noite com Nina. Eu tinha a sensação de que, se eu havia sido capaz de enganar alguém tão próximo da minha irmã, não havia porque o resto do mundo desconfiar. Ainda assim, vez ou outra eu ainda me perguntava o porquê de ter aceitado passar por isso. Eu já estava bastante orgulhosa da minha personificação — de certa forma, Rose e Lydia eram diferentes uma da outra, o que facilitava essa coisa de "entrar no personagem".

Claro, já fazia seis anos desde que ela havia se mudado para Los Angeles, e as pessoas mudam o tempo todo, mas eu suspeitava que era mais do que simplesmente o efeito do ar Californiano no cérebro humano e decidi perguntar a Sarah, enquanto caminhávamos do carro até o estúdio:

"Rose passou por alguma lavagem cerebral quando chegou aqui ou algo assim?"

"Algo assim," respondeu desinteressada, antes de suspirar e abaixar seu tablet. "Primeiro, não é a cidade, é a indústria. E em segundo lugar, você só sofre uma lavagem cerebral se permitir. Lydia assinou o primeiro contrato com uma corporação gigantesca quando chegou aqui, e para manter seu emprego — em uma série adolescente, devo lembrá-la — ela tinha que aparecer e agir de uma certa maneira em público. Então, obviamente, ela começou a se vestir diferente, pintou o cabelo, e aprendeu a falar de forma mais delicada e feminina. Era tudo parte da personagem. Mas esse contrato acabou há quase quatro anos. Se ela mantém esses hábitos até hoje é porque quer."

"Você acha que isso prova que não foi lavagem cerebral?" Contorci o lábio ao murmurar. Não soou como uma pergunta.

"Lydia está pegando papéis mais adultos agora, se veste da forma que quer e, só pra você saber, ninguém pediu o sotaque californiano. Isso ela pegou das amizades que fez por aqui. A agência em que ela está agora não a impede de agir como quiser." Ela me olhou de relance. "Isso é, contanto que ela não se meta em nenhum escândalo." Ela me olhou de relance antes. "Eu poderia explicar todos os trâmites contratuais da carreira dela, mas você não iria entender. É para isso que eu sou paga."

"Ela entende?" questionei.

Não houve resposta.

Respirei fundo e balancei a cabeça, tentando pensar em outra coisa. Estávamos prestes a entrar no barracão, eu não podia perder mais tempo analisando questões que não vinham ao caso no momento.

Logo ao chegar no portão e nos identificarmos, fomos encaminhadas ao estúdio 3, onde uma garota de cabelo azul, um pouco mais baixa e uns bons dez quilos mais magra que eu nos recebeu. Ela não devia ter mais de dezoito anos, e isso era um chute um tanto alto.

"Bom dia, Srta. Kinsley," disse ela animada. "Meu nome é Andy, vou te acompanhar por hoje caso precise de alguma coisa."

"Obrigada," murmurei, tentando parecer ao mesmo tempo simpática e indiferente.

"Vamos, vou te levar até seu camarim."

Sarah e eu a seguimos, e perguntei se esse era o tipo de trabalho de meio período que os jovens em Los Angeles tinham com frequência. Em casa, eu teria feito qualquer coisa por um trabalho desses, mas o programa de TV — leia-se jornal — mais próximo era gravado em Albany, a mais de uma hora de distância, e trabalhar num teatro pela região era como participar dos Jogos Vorazes. O palco mais próximo ficava na cidade vizinha, e as vagas estavam sempre preenchidas.

A Outra Lydia KinsleyWhere stories live. Discover now