🩸 Capítulo 3

2.7K 480 137
                                    

E1

Apoio as duas mãos na ampla janela de vidro da sala e fico observando com aflição Ethan tremer em cima da cama e tossir tão alto que dá para ouvir do lado de cá, mesmo pelas paredes grossas do local. Seu peito está buscando ar de forma desenfreada, o que torna difícil a tarefa de continuar olhando para ele. Eu sei muito bem como é essa sensação, já vivenciei experiências como essa mais vezes do que consigo contar, mas quando é com os garotos o sentimento é pior.

Dá uma impotência, um aperto no peito por não poder tirar a dor deles e colocar em mim.

Ethan é o caçula, porém, tem se mostrado o mais forte de todos. Seu organismo produz os anticorpos ainda mais rápido e de forma mais concentrada aguçando a curiosidade dos médicos por respostas do motivo disso acontecer. Em uma pessoa comum, a produção de anticorpos específicos para combater um patógeno demora de uma a duas semanas enquanto no garotinho poucas horas.

Hoje ele recebeu uma alta dose de Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) para verificar em quanto tempo será o combate do seu corpo ao intruso. Também conhecida como superbactéria, nos humanos comuns muitas vezes ela é fatal por ser resistente à maior parte dos antibióticos disponíveis no momento. Acompanho o doutor Russell se aproximar dele na cama coberto dos pés à cabeça com uma roupa branca que o protege de ter qualquer contato. Além do traje especial, ainda há luvas, óculos, máscara e protetor facial.

Com um tablet nas mãos, ele vai anotando as informações preliminares que os aparelhos acoplados ao Ethan mostram. Essa checagem é feita a cada 10 minutos para monitorar a reação do corpo. Tudo é minimamente registrado para que os outros profissionais possam esmiuçar e tentar achar um padrão depois.

É a sala mais sofisticada e também a única que exige essas roupas especiais aqui embaixo. James me explicou que, por testarem muitas vezes vírus e bactérias altamente contagiosos, é necessário esse cuidado maior para que não se prolifere no ar ou nos objetos e afete o ambiente lá de fora. Todos que entram precisam passar por um tubo de vidro, grudado à porta, para fazer a descontaminação ao sair.

— Queria que tivesse outra forma de desenvolver os anticorpos que não fosse colocar essas coisas dentro de nós. — Matthew para ao meu lado e fita com raiva a mesma imagem que eu.

Ethan ainda está tossindo muito, seu rosto pálido nada faz lembrar o garotinho animado que tem sempre um sorriso para nos oferecer. Não é uma cena bonita de se ver, por isso, raramente os outros garotos ficam acompanhando quando um está passando pelos testes.

— Eu também queria, mas infelizmente, não é possível — lamento, colocando uma das mãos no seu ombro. — Temos que focar no lado bom, que é salvar milhares de vidas em breve.

Essa é uma das primeiras lições que aprendemos nas aulas. O corpo reage diariamente aos ataques de bactérias, vírus e outros micróbios por meio do sistema imunológico. Essa barreira é composta por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e o manter funcionando livre de doenças.

Na maior parte das pessoas os remédios e as vacinas ajudam os glóbulos brancos a eliminar esses microrganismos, mas nós não precisamos de nada disso. Criamos a barreira sozinhos e combatemos em tempo recorde os intrusos. Só que, para saber como vamos combater, precisamos ter tais microrganismos dentro de nós. É uma parte incomoda, é verdade, porém, por sorte, o desconforto dura poucas horas e logo ficamos curados. Esse é o grande diferencial que temos.

Quando eu recebi o KPC precisei de 10 horas e 47 minutos para conseguir expulsá-lo completamente. Ethan deve demorar metade desse tempo pelos últimos resultados que obteve. As reações desagradáveis são sinal de que está no ápice do combate e logo sairá vitorioso.

Experimento [DEGUSTAÇÃO | DISPONÍVEL NA AMAZON]Where stories live. Discover now