𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒖𝒍𝒐 1

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ㅡ Eu não acredito que depois desse tempo todo você ainda tem vontade de voltar para aqueles loucos que chama de família. - disse Celine, indignada por você insistir em voltar para o Japão.

ㅡ Eu não estou voltando por eles, quero voltar para minha terra, não suporto mais ter que viver minha vida às custas dessa profecia de merda. Vou tomar minha liberdade de volta! - você falou, risonha, tentando diminuir a estranheza dessas palavras.

ㅡ Mas [Nome], nós já estamos formadas, quase terminando nosso mestrado. Você não precisa mais deles, já tem 25 anos. Vamos apenas seguir nossa vida, uma cuidando da outra. - ela dizia, com os olhos enchendo d'água, não estava preparada para dizer adeus.

ㅡ Não faz assim, Celine. Por favor, isso só me deixa mais culpada. Eu preciso mesmo resolver isso, até para minha própria paz. - você disse sentando ao lado dela, tentando passar conforto.

ㅡ Então resolve isso logo e vamos fugir em busca da nossa felicidade. - Celine falou chorosa, mas, com um ar cômico, mostrando que te apoiava em qualquer decisão.

Desde pequena, você nunca teve a sensação de pertencer a algum lugar. Sua vida era baseada em seguir uma profecia estúpida de sua família. Não entendia como nos tempos de hoje eles ainda acreditavam tão fielmente em algo tosco assim.

Por ter que se submeter a esse tipo de coisa, e perder boa parte de seu livre arbítrio, apenas odiava o fanatismo que lhe impuseram. Você não era religiosa, longe disso, mas era obrigada a aceitar os termos de sua família, caso quisesse o apoio financeiro que tinha para os estudos e para se manter. E isso só te deixava ainda mais frustrada, não suportava mais ter que abaixar sua cabeça para todas as decisões deles.

Além de toda a pressão psicológica que eles causavam, você não tinha nenhum tipo de presença familiar, o único contato que tinham era quando ligavam para confirmar que o dinheiro havia caído na conta.

Até seus nove anos você seguia uma vida relativamente normal, mesmo que tivesse uma educação domiciliar, longe de qualquer contato com pessoas de fora, ainda tinha o conforto da presença e afeto de seus pais. Assim que completou dez anos, as coisas mudaram de vez, sua família não planejava mais continuar com seus estudos em casa, e muito menos queriam que você estudasse em escolas locais do Japão, eles não poderiam arriscar perder todo esse tempo de cuidados.

Foi quando decidiram lhe mandar para a Europa, mais especificamente para Londres, onde passou o resto de sua infância e adolescência em um internato tradicional e extremamente rigoroso. A sensação de solidão era horrível, mesmo havendo outras centenas de crianças à sua volta.

E quando finalmente concluiu o ensino médio, você poderia sair dali e ter o mínimo de liberdade possível. Com 19 anos começou a faculdade de Serviço Social, e pelo menos uma vez na vida, teve autonomia para fazer sua própria escolha, era um curso que sempre te interessou e no qual pretendia atuar, achava impressionante como o assistente social atuava em diversas áreas e podia ajudar tantas pessoas, era isso que você queria, ser necessário para alguém, e auxiliar essas pessoas no que fosse preciso.

Ao entrar na faculdade, foi quando conheceu Celine, sua primeira amiga da vida. Foi com ela que conheceu e aprendeu muitas coisas sobre o mundo de fora. Ela era sua guia e maior confidente, com quem sempre contava para tudo. Foi Celine que te fez sentir pela primeira vez o sentimento de acolhimento, e você era muito grata à ela. Vocês faziam o mesmo curso, e desde então, todas as decisões que tomavam eram as mesmas. Quando terminaram a faculdade aos 23 anos, decidiram fazer mestrado logo em seguida, e tinham planos para assim que terminassem.

Primeiro iriam viajar ao redor do mundo, você queria aproveitar o tempo que perdeu, queria conhecer tudo aquilo que lhe foi tomado. A ânsia por aventura estava sempre presente. E depois que tivessem feito tudo o que sentiam vontade, se firmariam em algum lugar que mais as agradassem. Pelo menos esses eram seus planos enquanto ainda era mais nova. Você não tinha noção que com o passar dos tempos, a necessidade de voltar para seu lugar de origem ia aparecer.

𝑶𝑼𝑹 𝑭𝑰𝑵𝑨𝑳 𝑵𝑰𝑮𝑯𝑻 𝑨𝑳𝑰𝑽𝑬, akaashi keiji [EM REVISÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora