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"Eu acho que eu banquei muito de vítima, mas isso e o que um monte de mulheres fazem"
- Jodie Foster

Adriana

Dulce não precisava me dizer nada, tudo o que ela fez foi me entregar uma passagem de avião. Ela não ia me forçar a ir. Ela nem precisaria perguntar, foi minha escolha, e eu simplesmente peguei a passagem e sai do quarto.

De todas as pessoas na tripulação de Dulce, eu era a única que ela jamais iria forçar a nada, se eu não quisesse. Depois de Christopher, eu era a única que tinha permissão para vê-la quando ela estava pra baixo, quando ela tinha esses dias ruins.

Ela nunca teve dias assim, que ela não conseguia nem sair da cama. O que ela fazia com aqueles que cruzavam com ela durante esses dias ruins era insano. Eu, por outro lado, não era normal. Eu já fui estressada, formal, e muito chata, como qualquer outro adolescente. Mas tudo isso mudou no dia em que meu pai se endividou.

Indo para o meu quarto, eu peguei minha faca e maquiagem tentando o meu melhor esconder essas memórias, mas nunca iria embora. Nada poderia fazer com que eu esquecesse o dia que meu pai me vendeu. Eu nem sequer sei se essas merdas acontecem com as pessoas na América.

Era quase irônico que Taken foi o último filme que eu vi antes que eu fosse levada do meu quarto. Mas meu pai não estava em outro país ou estado, ele estava na porta com a cabeça para baixo quando eles vieram me pegar. Eu chutei, eu gritei para ele e minha mãe, mas eles viraram as costas para mim. Se eu não tivesse falado com Dulce pelo telefone, realmente não teria nenhuma esperança para mim.

Nós duas éramos calouras na faculdade, e todo mundo ficava longe dela. Ela era fria, distante, e francamente assustadora. Não tinha nenhuma razão para qualquer uma de nós termos nos falado, se não fosse por um trabalho da escola. Ela nunca falou comigo enquanto trabalhávamos, e eu não era tagarela, então funcionamos bem.

Na noite que eu fui levada, eu gritei para os meus pais e para o celular que estava na minha cama, enquanto eles me empurraram para o porta malas do carro e me drogaram.

A primeira noite foi a pior. Todos eles se revezaram. Eu chorei, eu vomitei, eu implorei pela a morte, e foi apenas o primeiro dia. As meninas que estavam lá não estavam nem amarradas nas camas, elas estavam tão drogadas que não conseguiam nem mesmo se levantar.

Eu jurei que não ia acabar como elas. Eu planejava me matar quando eu tivesse uma chance.

Quando a minha próxima rodada de hóspedes vieram no segundo dia, eles riram de mim enquanto eu lutava contra as correntes. Eles gostavam de lutadoras, eles gostavam de quebrá-las. Mas quando eles abaixaram suas calças, balas começaram a voar por toda a parte. Aconteceu tão rápido que eu não tinha certeza se eu ainda estava sã. Eu pensei que minha mente estava apenas tentando me proteger. Isso foi até que eu a vi.

Ela entrou, olhou em volta e encontrou meu olhar, e eu nunca me senti tão revoltada comigo mesma. Eu chorei, e ela se aproximou de mim, me dando seu casaco branco e dizendo:

— Isso nunca mais vai acontecer com você de novo.

Esse foi o início. Ela cuidou de mim e me forçou a terapia, enquanto ela pessoalmente chutava a minha bunda para ir treinar e foi assim por um ano e meio. Depois pareciam apenas algumas semanas. Quando eu estava melhor, no sentido de que eu não estava mais chorando durante o dia e vomitando durante a noite, ela me disse que eu poderia ir.

Mas onde eu poderia ir? Pedi a ela para me deixar ficar. Eu prometi permanecer fiel a ela enquanto eu morasse lá. Foi então que ela me contou sobre quem ela era e o que ela fazia. Depois de um ano e meio vendo paredes com sangue, drogas e armas em todos os lugares, não foi muito difícil descobrir. Ela me disse que a única maneira que eu poderia ficar era provando a mim mesma. Eu não tinha certeza de como, mas eu faria qualquer coisa.

Então ela me levou de volta à minha casa antiga na esquina da 54th E Adam Street, me deu uma arma, e me disse para fazer minha justiça.

Meu coração estava batendo tão rápido que eu podia ouvi-lo em meus ouvidos, e eu não queria decepcioná-la. Eu não queria me decepcionar. Eu queria matá-los pelo que eles fizeram comigo. Pais assim não deveriam nem viver.

Então eu toquei a campainha e, quando meu pai abriu a porta, ele quase se mijou.

— Oi, papai. — era a última coisa que eu lembrava de dizer antes de me perder.

Quando acabou, eu entrei na cozinha e encontrei Dulce comendo o jantar que minha mãe tinha feito. Ela me olhou por cima antes de me dar um copo de vinho.

— Desse dia em diante, Adriana, eu sou sua Capo — ela disse para mim. — Você vai me tratar com respeito. Mas se você me trair, eu vou matar você, e eu gosto muito de você. Mas eu ainda vou te matar.

— Sim, senhora. — eu disse, bebendo o vinho.

— Você precisa de alguma coisa? — perguntou ela quando ela se levantou.

— Não tem nada para mim aqui.

— Então queime tudo. — disse ela, antes de sair pela porta.

Qualquer parte da velha Adriana morreu nesse incêndio. Dulce tinha sempre me lembrado que todos nós temos a capacidade de sermos cruéis, que todos nós necessitamos era do impulso certo.

— Wow. — Franco sorriu olhando para mim. Beijando meu pescoço, ele encontrou o meu olhar no espelho.

— Sexy, mas esta não é minha Phoenix. Onde você vai?

— Dulce. — eu disse, e ele não fez mais perguntas, ele sabia que não devia. Ele beijou meu pescoço antes de ir em direção a porta.

— Se cuide, baby — ele disse enquanto fechava a porta.

Franco e eu... Bem, era novo, complicado e divertido. Eu não tinha namorado desde que comecei com Dulce, mas Franco e eu nos encontramos sempre nessas situações.

Pegando minhas coisas, eu saí da casa basicamente despercebida, e quando eu estava prestes a embarcar, eu enviei uma mensagem para Christopher. Dulce estaria bem atrás de mim. Ela queria sangue. Ela iria se vingar.

Ruthless People - Livro 1Où les histoires vivent. Découvrez maintenant