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"Todo assassinato acende uma luz
quente e brilhante, e um monte de gente...
Tem que sair das sombras"
- Albert Maltz

Orlando Saviñón

— Obrigado por ter mentido para ele. Eu sei que não é o seu forte. — eu tossi.

— Sim, bem — Lorenzo disse, me entregando um copo de conhaque. — Um dia ele vai me agradecer por manter a identidade de sua filha em segredo.

Com as mãos trêmulas, eu segurei o copo antes de jogar o conteúdo na minha garganta. Isso me ajudava com esse maldito câncer.

— Ela é sua filha agora. — eu odiava dizer isso.

Eu não poderia nem mesmo encontrar seu olhar. Eu só olhava para o copo vazio. Quando eu tinha me tornado esse homem? Esse homem velho, quebrado e cansado que estava frustrado por ver o sol nascer de manhã e ver a lua encher o céu à noite? Quando eu tinha me cansado de viver? Na minha juventude, tudo que fiz era viver, alguns dizem que um pouco demais, mas eu sabia qual seria o meu futuro.

Mesmo agora, não era o suficiente. Eu queria viver mais. Eu queria mais. Era a maldição de ser um Saviñón. Queríamos tudo.

— Orlando?

Saindo do meu transe, eu olhei para o homem grisalho diante de mim com uma leve inveja. Mesmo agora, ele não parecia ter mais de trinta e poucos anos.

— Minhas desculpas. O que você disse? — eu fiz uma careta, tentando me levantar, mas meu corpo era a minha prisão e eu não podia.

Andando até mim, Lorenzo lentamente me levantou com uma mão

— Eu disse que, ela será para sempre sua filha. Quero saber por que você não me contou sobre o câncer. Eu não teria usado isso contra você.

— Mentiroso. — ele não podia nem evitar, um pequeno sorriso se espalhou pelo seu rosto. — Eu não queria que ninguém soubesse, Dul incluída. Mas essa garota idiota é inteligente demais para seu próprio bem e chantageou os médicos para contarem a ela. — rindo, peguei a garrafa da minha mesa, derramando algumas gotas em minhas mãos.

Lorenzo acenou com a cabeça, olhando para fora da janela enquanto ele bebia.

— Quando eu a conheci, eu estava chocado e com raiva que você permitiria que sua filha ficasse presa à vida que escolhemos. Eu tinha que ver com os meus próprios olhos, e vê-la cortar duas mãos dos homens no México.

— Então você a viu em um bom dia.

Sua sobrancelha se levantou, e tudo que eu podia fazer era bufar.

— Eu não permiti que Dulce fizesse qualquer coisa. Ela não pediu permissão. Ela faz o que quer. No momento em que você descobrir o que aconteceu, é tarde demais para detê-la. Eu nem percebi quando ela começou a tomar conta. Num momento ela estava me ajudando a equilibrar cocaína e armas limpas, no outro ela estava me dizendo para não me preocupar, porque ela já sabia o que fazer. Eu tentei lutar contra ela, mas os planos da maldita garota sempre funcionavam tão bem. Eu estava sem palavras.

— Seu império pode ter precisado de nós uma vez, mas não agora. Ela fez bem, assustadoramente bem, na verdade. Você poderia ter estendido o contrato — disse ele, e ele estava certo, eu poderia. Qualquer Capo que se preze nunca teria compartilhado seu trono com o outro, e assim, aqui estávamos.

— Se Dulce fosse um homem, ninguém se atreveria a negar que ela tem a capacidade de ser a melhor que já existiu. Mas haverá sempre um idiota que pensa que ela pode ser barrada e ela nunca iria parar de lutar. Se alguém a apoiasse em um canto, ela iria lutar ou derrubar e atacá-los por trás. — eu ri.

Era uma das coisas que eu amava sobre ela. O fogo em seus olhos me lembrava tanto de sua mãe.

— Meu filho não vai deixá-la governar. Na verdade, eu temo que os anos de paz que mantivemos dentro da minha casa entrará em hiatos. — Lorenzo sorriu e eu sabia que ele estava ansioso para isso.

Atrás de seu sotaque polido e comportamento educado, ele gostava de caos. Eu tinha uma antiga ferida de bala no meu braço para provar isso.

— Mas — ele se virou para mim — isso não é a única razão, Orlando. Se você estivesse preocupado com o perigo, você teria trancado ela de tudo no momento em que ela nasceu. As lutas não te incomodam. O que te incomoda?

Bastardo Irlandês de merda, eu pensei.

— A diferença entre um Capo do sexo feminino e masculino é que a mulher não só vende a sua alma, mas o seu coração. Dulce não sentiu nada além de raiva nos últimos anos. Ela é uma muralha e vai continuar assim, se ela não se casar. Mesmo se ela odiá-lo, pelo menos eu sei que ela nunca vai estar sozinha. Ela ainda terá uma família.

Todo mundo que ela já amou, morreu, e eu estava bem no meu caminho, também. Em contrapartida, Dul morreu há muito tempo atrás.

Lorenzo franziu a testa, balançando a cabeça.

— É estranho. Você acredita que Dulce precisa de Christopher para acabar com sua solidão, e eu acredito que Christopher precisa de Dulce para não temer ficar sozinho. Ele tem todo o jeito de um Ceann na Conairte. Eu sabia disso no dia em que ele nasceu. Alfonso não era mentalmente forte o suficiente. Mas Christopher? Ele nasceu para isso. Isso está em seu DNA. Mesmo quando criança, ele gostava de deixar sua marca em tudo.

— Mas? — eu tossi.

— Mas, por trás fachada de Christopher, ele anseia ser amado, e ele odeia ficar sozinho. — ele franziu a testa, odiando admitir a verdade. — Ele não está focado em como ele deve estar e é muito compassivo às vezes. Eu culpo a mãe dele por isso.

— E a compaixão é apenas para a família — eu disse.

Ele assentiu

— E para ser o Ceann na Conairte, você não deve mostrar misericórdia para ninguém, além de sua família. Você é frio. Você é distante. Você gosta de sangue, morte. Christopher mata, mas ele não se delicia com isso como deveria. Se ele fizesse, os Valero iriam temê-lo como temem você, ou devo dizer, a mulher agora atuando como você.

— Eu devo te pedir uma coisa, Lorenzo — acrescentei, desejando mais do que tudo nunca ter que dizer às palavras que estavam prestes a sair de meus lábios.

— Seja o que for, diga e eu vou fazer — disse ele, fazendo a dor no meu coração queimar mais.

Engolindo meu orgulho, eu assenti

— Eu quero que você entre com Dulce até o altar.

Houve uma pausa, e ele procurou meus olhos

— Você tem certeza?

Eu balancei a cabeça. Minha dolce bambina merecia caminhar até o altar e se orgulhar. Ela já disse sobre o quão ela estava orgulhosa de mim. Como ela não se importava se eu tossisse durante toda a cerimônia, ou se eu precisasse ser empurrado pelo corredor, ou o fato de que as pessoas estariam mais focadas em mim do que ela. Mas eu me importava, e eu não queria isso. Se eu fosse e nossos inimigos vissem o quão fraco eu estava, eles poderiam tentar usar isso contra ela.

— Vou chamar Evelyn, e ela vai ter tudo pronto em três dias. Você pode assistir de uma sala secreta. Ninguém vai te ver — disse ele com um aceno agradecido.

— Você não sente que estamos prestes a abrir a Caixa de Pandora? — eu sorri para ele. — Eles vão trazer o caos como nunca fizemos.

Lorenzo gargalhou antes de terminar seu conhaque

— Sim, em um jeito distorcido.

Ele respondeu quando a porta se abriu revelando Adriana.

— Sim?

— Sr. Saviñón, Sr. Uckermann. Lamento me intrometer, mas me disseram para vir chamar os dois — disse ela com a cabeça para baixo.

— Por que? — Lorenzo perguntou com frieza em sua voz.

— Capo e Sr. Uckermann aparentemente mandaram todos sairem da sala no porão para que eles pudessem ficar sozinhos e ninguém deveria entrar. Mas, poucos minutos depois, uma arma disparou

Ruthless People - Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora