alimentando os porcos

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Shouto estava odiando seus dias no interior. Ele achava que pessoas do interior acordarem cedo era apenas um esteriótipo idiota, até que ele acordou sete horas da manhã com sua tia discutindo com alguém. Por segurança ele olhou para baixo e viu que Izuku continuava ali, dormindo feito um bebê. 

O bicolor tentou voltar a dormir com todas as suas forças, mas não conseguiu. Sua tia não estava discutindo com alguém, ela estava simplesmente conversando normalmente, mas sua voz alta dava a entender que a qualquer minuto ela iria avançar na pessoa e socá-la. E Todoroki continuou deitado por longas horas, ele não queria ter que levantar tão cedo e regular seu sono, mas acabou fazendo isso assim que viu Izuku levantar e guardar todos os lençóis.

O esverdeado não disse nada, apenas saiu do quarto com pressa. Todoroki achou aquilo um pouco incômodo, mas também não se importou, ele virou de bruços e cochilou.

Às dez horas o bicolor definitivamente acordou, ele escovou seus dentes e desceu as escadas. Midoriya estava na cozinha, ajudando a Tia a preparar o almoço.

— Izuku, tem lavagem, leva pra os porcos — a mulher falou distraída e o esverdeado assentiu e se afastou do fogão — Eu olho as panelas.

— Vocês criam porcos? — Shouto perguntou enquanto tentava quebrar o clima tenso que pairava no cômodo, ou ser percebido.

— Sim. Quer ir lá ver?! — Midoriya sorriu radiante para o bicolor que sorriu involuntariamente, ele levantou da cadeira na qual estava sentado e meneou com sua cabeça em confirmação.

— Voltem cedo, viu? — a tia alertou e os garotos assentiram com a cabeça e rapidamente saíram da casa.

Estava um dia quente, — igual a todos os outros dias em que ele estivera ali—, o caminho pelo qual Izuku o levou era de terra, poucas estradas eram cimentadas. Uma cerca separava a estrada de uma floresta seca que se estendia à direita deles, Shouto imaginou o quão assustador deveria ser aquele local quando estivesse de noite.

Midoriya dobrou numa estrada estreita que ficava na direita também e o bicolor pôde avistar umas casinhas surgirem em seu campo de visão. Ele se aproximou um pouco mais até estar bem perto. Os porcos eram grandes e gordos, aquele local fedia pra caralho.

— Minhas costas estão me matando — Izuku falou cansado e colocou um balde no chão. Todoroki franziu o cenho e se perguntou de onde o menino havia tirado aquele balde. — Quer alimentar os porcos?

— Eu não vou entrar ali nem fodendo. — Todoroki retrucou rapidamente e o outro revirou seus olhos.

— Cuida, menino duas cor! É só botar a comida e sair, or! Nem é tão difícil assim, é vapt vulpt. — Izuku falou apressado e cruzou seus braços.

— E se é tão fácil então por que você não faz? — Shouto franziu seu cenho e colocou suas duas mãos em sua cintura.

— Oxe, eu num já lhe disse que se eu entrar o meu pé cortado vai ficar cheio de mazela e cair, tu quer que eu vire o saci? Sem um pé? Não! Bote você, vá! — ele respondeu confiante e o bicolor gargalhou.

Aquele sotaque era tão perfeito.

— Isso é injusto, sabia?

— Vá logo!  Se tu fizer eu te levo pra um lugar secreto — o esverdeado pôs suas mãos para trás e sorriu travesso. Shoto cerrou seus olhos e olhou para aquele pilantra de cabelos verdes — Vai ou racha, meu fio.

— Mas, o meu vans vai sujar! — o de madeixas coloridas mostrou o sapato que havia colocado antes de sair, Midoriya franziu seus lábios e seu cenho, ele pôs suas mãos na cintura e olhou no fundo dos olhos heterocromados do outro.

Homi, peste de vans! Depois tu lava! Tu tem dinheiro pra comprar uns seis desse e ainda tás reclamando só porque vai sujar um? — ele replicou visivelmente irritado e impaciente.

— Tudo bem! Você venceu! — Todoroki Shouto falou derrotado e pegou o balde de lavagem que fedia, cuidadosamente ele entrou no cercado e passou pelos porcos que estavam deitados numa lama gelada. A princípio, eles ignoraram a presença do menino, o que foi bom.

Lentamente o bicolor derramou a lavagem sobre um grande comedouro. Os porcos voltaram sua atenção para o garoto, que sorriu vitorioso para Izuku, que por sua vez o olhava preocupado.

— Agora saia daí senão os porco vai é lhe comer! — o sardento falou preocupado e o sorriso de Todoroki diminuiu. Um desespero o tomou e ele quase berrou.

— Nem fodendo, Izuku!

— Sai daí menino duas cor! — Mid falou desesperado e o bicolor correu até a portinha, mas acabou escorregando e caindo na lama, ele tentou levantar mas caiu novamente. O menor explodiu em gargalhadas e estendeu sua mão.

— Que nojo! Que nojo! — Shouto repetiu enquanto fazia uma careta, ele levantou com cuidado e saiu com pressa do cercado.

Seu lindo vans preto e suas roupas de grife estavam sujas de cocô de porco e lama. Midoriya tentou se acalmar e parar de rir, mas não conseguiu,  seu rosto estava vermelho e seus olhos marejados.

— Eu te odeio — o maior falou enojado com tudo aquilo.

— Ih carai, vamo' voltar, eu pego água pra tu tomar banho — Izuku limpou suas lágrimas e caminhou até a outra ponta do cercado, ele pegou o balde que Shouto havia jogado e suspirou.

— Pelo menos isso, né.

— Tu fez um ótimo trabalho, visse? Pra alguém da cidade tu é muito bom em alimentar os porco. Tô impressionado, parabéns. — o sardento elogiou o outro com um puro cinismo e deboche. Todoroki revirou os olhos e apenas caminhou para longe dali o mais rápido possível.

Por sorte, ninguém havia passado por eles no caminho de volta, Izuku também não fez piadas, eles entraram pelos fundos e Vânia tomou um susto ao ver seu sobrinho daquele jeito.

— Vou pegar água — Midoriya anunciou com um sorriso forçado e se afastou com pressa.

— O que peste tu tava fazendo, hein menino? — a mulher falou brava e cerrou seu punho, Shouto respirou fundo e franziu seus lábios.

— Alimentando os porcos, eu caí na lama, cinco vezes... — ele disse a última parte bem baixinho e observou uma expressão de fúria surgir no rosto da mulher.

— Com certeza isso foi invenção daquele Izuku, não foi? Tu deveria parar de andar com aquele menino, meu filho, daqui uns dia vão tá dizendo que tu é bicha também — Vânia o alertou enquanto tentava controlar a raiva que havia em sua voz.

Shouto a lançou um olhar confuso e fez um estalo com sua língua.

— E por que diriam isso?

— Tu num sabe, não? Aquele menino é... — ela fez um gesto peculiar, apenas jogou a palma de sua mão para baixo, como se houvesse jogado uma bola no chão.

Aquele gesto...

— Ele é bicha, um baitola, meu filho. Aquele ali só gosta de macho, tá perdido o menino — a mulher disse com nojo e Todoroki arqueou suas sobrancelhas e sorriu sem mostrar seus dentes.

O Midoriya é gay?

— Cuidado não, vai que ele tenta te beijar! — Vânia riu debochada e Todoroki se segurou para não rir também.

Midoriya era gay, por isso ele ficou tão quietinho quando Shouto o pegou em seus braços e o apertou com força, por isso ele não se importou em dormir no mesmo quarto que o bicolor.

Era bom saber daquilo.

Shouto resolveu não contar, mas ele também beijava homens e sabia quando um cara era LGBT, mas por algum motivo o Midoriya havia passado despercebido em seu radar. Uma ideia tola passou pela cabeça de vento do bicolor. Talvez Vânia não gostasse de Izuku por justamente o menino ser gay. Caso esse realmente fosse o motivo, Todoroki não iria perdoá-la por ser homofóbica.

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