Cap. 1

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*Flashback on*

   - Vamos Isis, força! - a mulher com sangue nas mãos a encorajou.

   - Aaaaaaaah. - Isis gritou. Ofegante como nunca esteve, suando por todo seu corpo, seu amor segurava sua mão.

   - Ela não vai sobreviver. - uma mulher ao lado da parteira disse. A parteira a encarou com terror em seus olhos. Ambas olharam para Isis e seu parceiro.

   - Faça! - Isis gritou em meio aos gemidos de dor. Seu parceiro a olhou desesperado, ela acariciou sua bochecha e sorriu enquanto fazia força.

   - Meu amor... - seu parceiro disse em meio as lágrimas. Continuava a apertar sua mão com força, sem soltar por um segundo.

   - Chame a de Noor. - Isis falou levando a mão de seu parceiro a boca e beijando, pela última vez.

   - Eu te amo. - seu parceiro falou beijando seus lábios, beijou a no seu último suspiro.

Ela fechou os olhos sorrindo. Como se tivesse feito seu trabalho. Seu parceiro a sacudiu tentando acorda-la. Foram preciso cinco fêmeas para afasta-lo de Isis. Noor, a fêmea nasceu. Gritando com a sensação do oxigênio enchendo seus pulmões. A parteira a envolveu nos braços e ofereceu ao seu pai. Ele a recusou e deixou o quarto.

A parteira olhou para a criança e a balançou como se fosse sua. Ela colocou Noor no berço e foi atrás do pai da fêmea que acabara de nascer. A fêmea chorava na esperança de seu pai ou sua mãe a segura-la, mas Noor estava sozinha, gritava e gritava. A escuridão então envolveu Noor, e ela se acalmou.

Todos estavam acostumados com a escuridão na Corte dos Pesadelos, mas a escuridão que envolveu Noor não era a mesma. Era uma escuridão primitiva, mais intensa, e de alguma forma reconfortou Noor, fazendo das sombras sua melhor amiga.

*Flashback off*

(...)

• Noor Pov

Acordei com as costas doendo. Não era novidade. O chão costumava ser frio e gelado durante a noite. Me levantei do buraco que eu chamava de casa e espiei pela única fresta de luz daquele lugar. Conseguia ouvir pessoas rindo e música, cheiro de comida também invadiu o espaço.

Fechei os olhos me concentrando e enviei minhas sombras para ver o que estava acontecendo. Elas sussurravam para mim, dizendo que o Grão - Senhor da Corte Noturna estaria presente em algumas horas, suspirei.

Girei pelo quarto e olhei para o espelho em minha frente. Me abracei com força. "Grão - Senhor". Eu não sabia de muitas coisas. Vivi a minha vida inteira escondida. Meu pai dizia que eu era uma aberração. E ele não estava mentindo. De todos os feericos e Grã feericos, ninguém tinha um poder como o meu.

Ele sempre evitou qualquer contato comigo, pois dizia que eu era a cara de Isis, minha mãe. Pelo que eu sei, suas últimas palavras foram "Chame a de Noor". O que me conforta, é que ela morreu sorrindo. Sinto falta dela, mesmo nunca tendo sentido seu toque. A culpa de que eu tinha sido a causadora de sua morte me atormentavam. Meu pai me odiara por causa disso, e eu não podia culpa-lo.

Eu estava apenas osso. Mal tinha carne em meu corpo. Ele me alimentava uma vez por dia, e água era a cada dois dias. Ele dizia ser pobre, mas eu sabia que não era verdade, ele apenas queria me torturar. Eu o odiava, mas não o culpava, eu culpava a mim mesma.

Zwend, meu pai, trabalhava diretamente com o administrador da Cidade Escavada, Keir. Murmúrios diziam que ele havia maltratado a própria filha. Meu pai talvez tenha pego alguns conselhos de tortura com Keir.

A maior tortura para mim, no entanto, era ser esquecida. Não sabiam de minha existência. Meu quarto ficava bem abaixo do centro da cidade, onde alguns metros a frente, ficavam os tronos dos Grãos - Senhores. Eu sabia seus nomes, Feyre e Rhysand, nada mais.

Todos os encontros, eu mandava minhas sombras se esconderem e observar o que acontecia, elas reproduziam para mim em forma de imagens ou as vezes por som. Quando eu me concentrava, eu podia ver através delas, como se fosse um terceiro olho.

O buraco embaixo da porta abriu. Um prato com um pedaço de pão velho foi passado pelo espaço. Dei um leve sorriso. Meu estômago estava rocando. Me ajoelhei no chão gelado e peguei o prato e coloquei encima da mesa de três pernas. Arranquei um pedaço de pão e deixei o resto para mais tarde. Eu ainda tinha um pouco de água guardada.

Minha vida era baseada em observar pela fresta de luz através das minhas sombras, comer comida velha prestes a estragar e dormir. Eu vivia assim por mais de 200 anos. Meu último contato com alguém havia sido há 188 anos atrás, quando eu sangrei pela primeira vez, com 12 anos. Graças ao Caldeirão meu pai não me vendeu para algum macho da cidade.

Apesar de tudo, eu esperava que algum dia, talvez, eu visse o sol. Eu sabia que existia por conta do meu nome. "Noor - a maior estrela de todos os tempos" quer dizer sol. Apesar de ser irônico, sendo que sempre vivi na escuridão. Eu sabia que havia tanto para descobrir, mas quando o dia chegaria, eu não sabia.

Deixei que minhas sombras me cercassem em um abraço caloroso. Uma lágrima solitária escorreu pelos meus olhos. O único toque que eu sentia há anos era o meu próprio, e de minhas sombras, consideradas pelo meu pai, uma aberração, mas para mim, minha única amiga.

• Azriel Pov

A tensão estava presente no rosto de Rhys, encarei Cassian por um momento e vi que estava preocupado. Mor observava Feyre e Nyx. Amren circulava pela sala da Casa do Rio.

   - O que faremos? - Elain perguntou enquanto girava uma rosa vermelha nos seus dedos delicados, não se importando com os espinhos.

   - Eles querem uma apresentação oficial, então daremos isso a eles. - Rhys falou enquanto apoiava os braços em suas pernas e esfregava seu rosto. Feyre o olhou de um jeito reconfortante.

   - Az e eu não sairemos do seu lado. - Cassian falou com a postura intacta. Eu apenas acenei com a cabeça concordando. Amren e Mor se encararam.

   - Eu vou também. - Mor disse cruzando as pernas e balançando sua taça de vinho. Amren revirou os olhos e encarou Rhys em súplica.

   - Você não precisa ir se não quiser Mor, sei que sua situação com o seu... - Feyre parou de falar e pressionou os lábios, sabendo que iria falar a palavra "pai". - ... sei que a situação não anda bem.

   - Eu quero ir por conta própria minha senhora, não me importarei com nada a não ser a segurança de Nyx. - Mor falou com brilho nos olhos enquanto olhava Nyx brincando com um ursinho de pelúcia.

   - Bom, partimos daqui 40 minutos, estejam prontos. - Rhys disse e me virei de costas e voando para a Casa do Vento, junto com Cass.

   - Estava me perguntando se eu teria que descer os dez mil degraus. - Nestha apareceu escorada na porta segurando um de seus livros. Cass a olhou de um jeito brincalhão e ela sorriu. Os dois se beijaram e o cheiro ficou forte.

   - Não na minha frente, por favor. - falei indo em direção as escadas. Cass riu juntamente de Nestha.

   - Se quiser participar, tem espaço pra você também irmão. - Cassian falou e segurei o riso. Nestha havia batido em sua cara.

As vozes dos dois ficaram mais distantes quando entrei em meu quarto. Tirei minha roupa e entrei na banheira. Minhas asas relaxaram e por alguns instantes, tentei não pensar em nada.

Nyx, filho dos meus Grãos - Senhores, havia completado cinco anos, e como tradição, deveria ser apresentado para todos da Corte, inclusive a Corte dos Pesadelos, mais precisamente, a Cidade Escavada.

Eu odiava aquele lugar. Todos eram cruéis uns com os outros. O cheiro de terror era nítido no ar. Teria que usar minha maldita máscara novamente. "O encantador de sombras", todos me temiam. De certa forma era bom, mas eu me sentia só a maior parte do tempo. O círculo íntimo, era tudo que eu tinha, minha família. E eu era o único solitário.

Rhysand tinha Feyre, Cassian tinha Nestha, Elain tinha aceitado Lucien, Amren tinha Varian e Mor, tinha Emerie. Eu tinha eles, mas ao mesmo tempo, não tinha ninguém.

Com Amor, Azriel Where stories live. Discover now