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johnny depp •

NO COMEÇO DO vôo de volta para nossa casa, a minha Nina permaneceu sentada na poltrona ao meu lado calada, sem muitos diálogos, e isso me foi estranho um bocado. E eu não queria parecer chato consigo, perguntando há toda hora se estava bem, então, decidi me distrair com um livro qualquer que Tim havia me dado, deixando a jovenzinha quieta como assim parecia querer permanecer. Tal livro era sobre Frankenstein, e eu adorava tal história fictícia, me identificava de certo modo.

Mas eu devorei esse livro em menos de cinco horas estando nos céus, e, às vezes, eu colocava um par de fones e, assim, ouvia minhas bandas preferidas e pensava na vida, fingindo alguma lucidez ou algum tipo de normalidade nela até então. De vez enquanto, eu pensava no meu passado, em antes de ter achado aquele bebê...

Só quando dei por mim que notei que esse bebê, já bem crescido, havia adormecido, apoiando a sua cabecinha na janela da nossa cabine, que estava com a persiana meio-aberta. Eu resolvi fechar a persiana, pois o Sol lá fora estava forte entre as nuvens, mesmo que estivesse já indo embora.

Sim, a viagem ia demorar muito mais, e pousariamos em terra Americana apenas à noite.

Logo, também ajeitei Nina em seu assento. Fiz a poltrona dela se inclinar mais para trás, e joguei a minha jaqueta sobre o seu corpinho, fazendo-o como um cobertor. E enfim, como extinto, eu depositei um simples beijo em sua testa, que estava quentinha, e isso fez a dona dessa testa quentinha ronronar como um gato, porém, continuou adormecida feito a princesa Aurora.

E assim fiquei lá, admirando o soninho que ela tirava enquanto estávamos dentro do “tubarão de metal”. Ela realmente não tinha medo daquilo estar voando — eu, por vezes, até que tinha.

Tão jovem e cheia de energia, sabia que as semanas no Caribe com aquela boa família tinha feito ela ficar contente demais. Sem contar que o seu bronzeado iria demorar muito para desaparecer e, merda, eu podia ver a marquinha do biquíni, sendo o sutiã, através do vestido que usava naquele dia ao qual estávamos voltando pra casa... E, por um segundo, odiei o fato de eu sentir vontade de ver o resto de toda a sua marquinha.

Maneando a cabeça pela estúpida vontade involuntária, cessei a minha observação em Nina dormindo ao lado e me levantei devagar da minha poltrona, seguindo depois pelo corredor até o banheiro masculino, que ficava ao final. Queria esticar-me um pouco também, estava há muito sentado. Porém, quase chegando ao setor do banheiro, uma mão tocou a minha mão esquerda. Foi um toque sutil, e eu imediatamente olhei para saber quem tocara-me assim. Acabei parando pelo corredor do avião, igual como se estivesse na calçada de alguma rua pública.

— Oi... De novo — e ela murmurou, dando um sorriso doce quando nossos olhos se atravessaram.

Fiquei claramente surpreso e contente, até um pouco sem jeito, e, enquanto via-na por ali, novamente dentro do mesmo avião, senti um arrepio diferente, e mirei minha atenção toda em sua pessoa.

— Ah, nossa! Oi, Amber! — exclamei, sorrindo um pouco de lado. — Caramba, você aqui também... — exprimi os meus olhos, fingindo desconfiança. — Tá me seguindo ou...

Risonha, a bela loira me cortou:

— Pergunto o mesmo para você, Sr. Depp!

— Bem, eu estou voltando pra casa com a minha pequena. Quer dizer, as férias já se esgotaram mesmo — expliquei, me agachando próximo à poltrona de Amber, que me olhava com certo fervor enquanto lá sentada, segurando um livro que li ser o título “Garota Exemplar”. — E você?

— Bom, é a minha mãe... Eu ia ficar mais uma semana com minha aquela amiga, curtindo as praias com ela, sabe... Mas a minha mãe ficou do nada meio doente, então, tinha que voltar — ela explicou em baixo tom. Seu olhar azulado ficara cada vez mais triste sobre o assunto. E eu sentia por sua mãe adoecida.

ProfanoWhere stories live. Discover now