| mel entre as pernas |

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nina •

ESTAVA ARRUMANDO A minha terceira e última mala de roupas e pertences necessários naquela manhã de sexta-feira. Esta mala se encontrava sobre a minha cama forrada junto das outras duas, que estavam fechadas e bem cheias.

E depois de fechar o zíper da terceira mala ao acabar de ajeitá-la, eu encarei o Boo, e ele estava entre os meus travesseiros. Estava sentadinho como se fosse vivo, e, olhando-o lá assim, eu dei um sorriso de lado, pois logo decidi que levaria ele também para a onde eu e o papai passaríamos um bom tempo de férias.

Eu havia concertado a sua pelugem dourada e costurado uma de suas mãos, colocando mais um pouco de algodão dentro, já que tinha se perdido por culpa do rasgado e do tempo no sótão de casa.

Boo limpinho parecia ser a pelúcia mais nova do mundo, e tê-lo por perto de volta, depois de anos, estava me fazendo bem, trazendo um tipo de paz. Não via vergonha de garragá-lo igual uma criança, meu amava aquele urso, seria passado para meus filhos, com certeza.

Mas o papai, às vezes, achava que eu agora estaria dando mais importância para Boo do que para ele.

E, bem, ninguém mandou o mais velho ressurgir com o meu brinquedo preferido da infância naquele dia de Natal, vulgo ao dia que eu completei quinze primaveras. Eu ainda me sentia como uma criança, uma criança talvez madura. Mas como uma criança otimista, sem maldades. As pessoas diziam que eu parecia com um tipo de anjo, e que Johnny era um pai sortudo.

Após o dia do meu aniversário no Natal, haviam se passado mais outros três dias, chegando perto do Réveillon, mais conhecido como o bom Ano Novo. E, sim, o meu pai e eu iriamos viajar como ele mesmo tinha sugerido naquela manhã que me fez a surpresa do bolo.

Nós dois iriamos para as ilhas de Bahamas, e nos hospedariamos à casa da tia Helena e do tio Tim junto dos dois filhos deles, os quais tinham praticamente a minha idade, e eu adorava-os iguais se fossem os meus irmãos.

A tia Helena, por sua vez, ligara ainda ao dia de Natal para desejar-me feliz aniversário e Natal. Também desejou feliz Natal para Johnny. E foi por esta ligação que então combinamos nossa ida para a sua casa de praia, ficar lá até o segundo dia do Ano Novo, porque, posteriormente, eu e Johnny terimos de regressar para Califórnia, Los Angeles, regressar para a nossa rotina.

Pois Johnny, com certeza, iria renovar e revoluir-se sobre a sua biblioteca e as suas aulas de instrumentos, sua carreira. Digamos que ele estava com muitos planos para aqueles seus trabalhos.

Ele era feito de arte, tirada a arte dele tal viveria melancolicamente frio dentro da nossa casa.

E eu, como uma boa adolescente, retomaria às aulas no colégio e de natação. Reveria as minhas amigas e amigos, que, durante aqueles dois dias, não pararam de ligar para o telefone fixo de casa, e eu percebia que Johnny sutilmente se irritava com o barulho do telefone e de eu correndo os degraus, para chegar na sala de estar e atendê-lo pela vigésima vez talvez.

Eram sempre as minhas amigas. Elas estavam curiosas sobre a minha viajem para Bahamas, queriam que euzinha contasse detalhes, e tirasse fotos. Mas eu não tinha nenhuma máquina de fotografar, e a do papai havia quebrado há meses — mas isto iria mudar.

Me era engraçado a forma como Kim e Dorothy se achavam mais eriçadas do que eu sobre essa viajem. Até cheguei a pensar se não poderia chamar uma delas para ir junto. Porém, eu queria que tal viajem só fosse eu, Johnny, o mar e o fim de ano... Ah, e também o Boo.

— Hey, já arrumou tudo? Não se esquece da bombinha pra asma e dos teus remédios…

Foi Johnny e aquela sua voz rouca soando atrás de mim. Eu logo virei-me e sorri para ele, que se achava pela porta do meu quarto, apoiando uma das mãos tatuadas ao batente de madeira desta.

ProfanoWhere stories live. Discover now