um

97 15 20
                                    

Sinto alguns olhares sobre mim ao dar o primeiro passo dentro do refeitório lotado de universitários e funcionários; os sons de conversas abafadas, risos e passos ecoando no ambiente

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Sinto alguns olhares sobre mim ao dar o primeiro passo dentro do refeitório lotado de universitários e funcionários; os sons de conversas abafadas, risos e passos ecoando no ambiente.

Congelo por alguns segundos e volto a caminhar hesitantemente pelos corredores, minhas mãos começam a suar, um leve tremor de ansiedade percorre meu corpo assim que chego à fila da lanchonete, mas os olhares já não estão fixos em mim. Pego meu lanche e sento-me na cadeira, dando uma mordida generosa.

Relaxe, Trisha. Voltar para Los Angeles não pode ser tão ruim assim.

Nasci e fui criada até os dezessete anos em L.A, até que, minha vida mudou completamente. Meu pai e eu nos mudamos para San Diego em busca de uma nova vida, sem traumas ou tristeza, só que não funcionou muito bem. Faz uma semana que estou de volta para minha cidade natal e até agora, não encontrei nenhum fantasma do passado, o que é ótimo. Não estou preparada para lidar com  questionamentos sobre o motivo do meu sumiço.

Sinto-me pouco deslocada por aqui, perdida e solitária; se eu pudesse, nunca mais voltaria para Los Angeles, entretanto,  o que eu sinto não importa.

Voltar para L.A tem somente um ponto positivo: a oportunidade de entrar no mundo da música.
Eu só aceitei voltar para cá porque quero tentar minha carreira como cantora, mesmo que para isso, eu tranque minha faculdade temporariamente. Estou cursando o curso preparatório por enquanto, mas a intenção é – do meu pai – é cursar direito.

Meu pai sabe dos meus sonhos, objetivos e desgosto pelo curso de advocacia que começará no ano que vem, mas vive repetindo que é a melhor escolha para mim.

E eu não quero isso.

Desperto dos meus pensamentos quando sinto o vibrar do celular no bolso da saia de couro, limpo os lábios com um guardanapo, levanto-me rapidamente e saio do refeitório.
Paro do lado de fora da entrada, pego o celular e atendo a ligação, sem ver quem está ligando.

— Trisha! Como está?

É o meu pai.
Articulo os lábios para responder, mas sua voz animada me impede:

— Então, eu tô com tempo livre hoje, pensei em sairmos para falar sobre seu curso. Eu sei que ainda faltam meses pra você decidir, mas é melhor começar a se preparar antes, Trisha.

Quando trata-se sobre mim, não existe “eu quero”, mas sim, “nós queremos”. Como se as minhas escolhas precisassem da sua aprovação.

— Então, pai... eu também quero encontrar com você mais tarde, preciso passar na fraternidade e deixar meu material, podemos nos ver no Red Apple?

— Você parece nervosa...

— Pai, eu realmente prefiro conversar depois, pode ser?

Aperto os lábios num gesto nervoso, esperando sua resposta; escuto sua expiração, o silêncio cai do outro lado da linha e, segundos depois, ele finalmente diz:

Sonhos Imperfeitos Where stories live. Discover now