Quando dei uma última olhada em Luke ele me deu uma piscadela antes das cortinas subirem. Eu sinto que nesse momento liguei meu modo automático e meu corpo estava em pedaços, cada um focado em algo diferente. Meus olhos estavam focados em Luke e eu sei que estou sorrindo, sinto como se estivesse deslizando pelo palco junto com ele, e o homem com quem ele dança sou eu, porque ele sorri pra mim de volta quando passa por perto do piano, sinto que minhas mãos estão ligadas à memória da minha música, e toco como se estivesse pré programado pra isso, eu posso me ouvir cantar mas é como o som de um rádio ao longe, porque toda minha atenção está nele e essa é só a trilha sonora do nosso momento, porque é assim que se parece, com o nosso momento.

Em certo momento é só ele no palco, e sou só eu tocando, o momento em que tudo parece esperançoso, como um recomeço, eu canto pra ele porque sim, ele sabe que essa música também é dele, como a grande maioria, porque sim, eu sou um tolo por ele, eu estou na palma das suas mãos e ele pode fazer o que quiser comigo, porque independente do que fizer será a melhor coisa que me aconteceu, por mais que ele me deixasse, seria um honra ter meu coração partido por Luke Hemmings.

Desse ponto em diante Luke dançou sozinho, digo, sem um par, quando criava as coreografias me disse que não queria dançar com outra pessoa, que aquilo era sobre nós dois, na realidade eu não me importaria mas achei fofo da parte dele se importar com isso. Ele encontrou uma forma de só expressar através de suas coreografias os sentimentos que descrevo nas minhas composições, como a personificação do amor, e da dor, e da confusão, da saudade, e ele o fez bem, ninguém poderia ter feito melhor.

Em algum momento eu só não me importava mais que aquele teatro estava cheio de pessoas, que eu estava cantando e tocando minhas músicas pra todas elas, em breves momentos quando meus olhos se voltavam pra plateia eu podia ver o salão lotado, e pessoas emocionadas, casais próximos trocando carinhos da forma mais singela que podiam, e nesses breves segundos eu podia ter a certeza de que fiz bem meu trabalho, que todos nós afinal de contas estamos trabalhando bem.

Quando tudo se tornou silencioso e eu vi Ashton entrando pelo palco senti meu coração parar, aparentemente chegou o momento. Eu só me arrastei pro lado no banco do piano, Ashton sorria quando sentou ao meu lado, ele começou as primeiras notas e eu posso reconhecer a melodia em qualquer lugar, a música que Luke fez pra mim.

Luke Hemmings tinha um microfone em mãos e estava sentado na beira do palco, seus alunos voltaram ao palco, eu não posso acreditar no que ele está fazendo, pode não parecer mas Luke é um cara tímido, ele as vezes se mostra relutante até mesmo em cantarolar baixinho pra mim antes de irmos dormir, e agora ele está aqui, cantando ela na frente de todas essas pessoas, com as mãos grudadas no microfone como se temesse o derrubar, os olhos fechados e um pequeno sorriso nos lábios, e eu sei que ele está fazendo isso por mim, estar em cima de um palco é fácil pra ele, dançar é a vida dele, ele sabe como me esforcei pra estar em cima desse palco com ele, e agora ele está retribuindo o gesto, e eu sou grato por isso.

Luke é a melhor coisa que me aconteceu, definitivamente. Quando ele acabou e todos agradecemos brevemente eu mal via a hora das cortinas abaixarem e eu poder abraçar ele. Quando a plateia já não podia mais nos ver tudo virou uma bagunça, Ashton desapareceu do meu lado e todos corriam de um lado pro outro abraçando uns aos outros, porém eu sequer precisei procurar, Luke se aproximou apressado com lágrimas nos olhos, eu só abri meus braços pra que ele se aconchegasse.

- Você gostou? - Eu o apertei ainda mais contra meu corpo.

- Ta brincando?

- Eu não sou um cantor, vai que fiz algo errado.

- Você foi perfeito, eu estou orgulhoso de você. - Luke distribui beijos por toda meu rosto quase esmagando minhas bochechas entre suas mãos.

- Abraço coletivo! - Ouvi a voz de Calum ao longe e logo me senti sendo esmagado por dezenas de pessoas, e pela primeira vez não acho tão terrível ter tantas pessoas a minha volta, na realidade acho que posso explodir de felicidade.

Beautiful Stranger ** MUKEWo Geschichten leben. Entdecke jetzt