C A P Í T U L O 3

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Estou sem ar. Não consigo me mexer. Não consigo ver. Achei que dormiria e quando acordasse, tudo isso teria acabado. Que seria apenas um pesadelo. Mas não é. E só está começando. Eu me recuso a acreditar que estou dentro do meu próprio livro, passando pelo mesmo que Carolaine de 400 Dias nas Mãos de Um Mafioso. Carolaine é forte e destemida. Eu não sou a metade do que ela é. Ela conseguiu fugir. Mas para mim é impossível, estou presa em algemas. E talvez, se eu continuar presa aqui, não dure muito tempo. Nessas horas eu gostaria de ser Carolaine. Ela saberia o que fazer. Não consigo pensar.

Meus pulsos estão ensanguentados, não sinto mais as minhas mãos. Eu gemo enquanto choro, e converso comigo mesma na esperança de que ele ouvisse e sentisse um pouco de pena, o que era impossível.
Já fazem três dias que estou presa nessas algemas sem poder me mover. Já não aguento mais. Perdi toda a força que tinha. Parei de tentar me soltar. Quanto mais eu luto, mais fraca fico. O que me resta é chorar e esperar ele fazer o que quiser comigo, já que não tenho o que fazer estando imobilizada.

Meus olhos já estão se fechando de novo, estou com muita fome. A única coisa que ingerir em três dias foi aquele líquido horrível que ele me deu no primeiro dia. Sem água, sem comida, com braços e pernas presas e sangrando. Nunca vou sair daqui; viva. Ouço pés andando até a cama e parando a minha frente. Apenas meus olhos se movem, com dificuldade. Mesmo embaçados, consigo o ver a minha frente. Olho para ele e susurro pedindo um pouco de comida pois estava muito fraca. Ele me olha por um tempo e em seguida volta de onde chegou e some na escuridão. Meus olhos fecham e adormeço.

Não sei quanto tempo eu dormir, mas sinto que dormir muito. Só consigo enxergar a luz piscando no teto. Não sinto mais tanta dor, mas ainda estou com fome. Olho para meus braços, não estão mais algemados e meus pulsos estão enfaixados. Rapidamente tento me levantar. Grito de dor pela pressão que coloquei nos braços. Sinto como se minhas mãos estivessem deslocadas dos meus braços. Tento levantar novamente, mas sem usar as mãos. Impossível, estou fraca demais. Minha cabeça está latejando, ouço barulhos vindo do final daquele lugar, e sinto como se estivesse batendo na minha cabeça. Aperto os olhos e logo o barulho vai diminuindo. Abro os olhos e ele está parado me olhando. Grito pelo susto.

Seus olhos ficam vidrados nos meus, o que me deixa constrangida. - Ele nunca tira a máscara, e nunca fala nada. Eu não entendo -. Ele senta na cama ao meu lado e tira de dentro de uma sacola um vaso com sopa dentro e dá para mim. Mas não consigo pegar, meus braços não saem do lugar. Olho para meus braços e depois para ele. E ele entende. Pega a sopa com a colher e põe na minha boca. Estou com tanta fome que não me importo o quão ruim está essa sopa. Está tudo muito escuro, somente com a pouca luz da lâmpada no teto, mas ainda assim, eu vejo que ele não tira os olhos de mim. Não consigo ver o que seus olhos transmitem, é o que eu mais queria agora. Queria um pouco mais de luz para poder ver.

- Por que você me prendeu aqui? - Pergunto esperançosa.

Ele me encara por mais alguns segundos e se levanta, sumindo na escuridão.

- Ah não, não vai embora sem me falar por que estou aqui! - Tento me levantar disposta a lutar contra ele, mas me desequilibro e caio no chão.
Estou sem força nenhuma, nem ao menos de pé eu consigo ficar.

Eu sou uma mulher dura, que enfrenta seus medos e vai até o fim, até conseguir o que quer, não vou ficar aqui presa, deixando ele ter todo o domínio sobre mim.
Me rastejo até onde ele está, com muita dor nos pulsos, gritando a cada pressão e enfim passo daquela escuridão que eu tanto vejo à três dias. Encontro seus pés parados e os agarro, tentando olhar para cima, mas era impossível, ali estava mais escuro ainda. Bato em suas pernas com todas as forças que me restaram. Ele me pega pelo braço e me joga na cama com toda força, fazendo com que eu bata a cabeça na parede e desmaie. E não vi mais nada a partir dali.

235 Dias de CativeiroWhere stories live. Discover now