Lar, doce lar!

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Sem revisão

A sala estava fria sem as labaredas da lareira e contrastando com as emoções, que agitavam o coração de Paula, uma tranquilidade pairava no ar, demonstrada pelo ronronar do gato.
Carlos subia a escada a passos lentos, com Julian no colo. Gabi beijou a face de Paula.
__ Boa noite! Fica triste não, tia Paula. Meu pai deu uma lição nele!
__ Boa noite, Gabi. Sinto muito a nossa alegria ter se estragado desta forma.
Ela acompanhou o pai conversando baixinho para não acordar o irmão.
Paula suspirou ansiosa, não sabia se Carlos desceria depois de pôr as crianças na cama, então ficou sentada na sala, fingindo se distrair com a televisão.
Alguns minutos depois, ela ouviu os passos descendo os degraus.
Carlos tinha uma expressão dura no rosto.
Ele tirou o casaco e jogou-o sobre uma cadeira, depois passou a mão pelos cabelos, que lhe caíam na testa e cruzou, indo ao aparador servir-se de uma bebida.
Paula ainda não o tinha visto beber nada destilado. Sempre achou que o vinho fosse sua única paixão alcoólica.
Os olhos verdes acompanhavam, apreensivos, os movimentos dele enchendo o copo.
__Não precisa me temer desse jeito, Paula. - disse.
__Sei que está chateado comigo e com o que aconteceu. - Paula falou tão baixo que ele teve que virar a cabeça para ouvi-la.
A tensão dominava todo o corpo dela.
__Podemos conversar, se quiser. O meu silêncio durante o trajeto foi justamente para não enfiar os pés pelas mãos. Não se resolvem assuntos quando se está com raiva. - a voz de Carlos lhe chegava clara e firme.
__ Fiquei à espera para isso. Não pretendo fugir porque está com raiva de mim.
__ Quero que me responda somente uma coisa, só isso: por que Santiago agiu daquela forma, a destratando?
Paula respirou aliviada. Isso ela podia responder com a maior sinceridade.
__ Você deve ter notado que o descontrole dele teve a ver mais por causa de Ângela..Me chamar de vadia é o modo que todo machista usa para ofender uma mulher.
Não é segredo o meu passado para você, muito menos para ele. Eu usei drogas, me rebaixei... - ela torcia as mãos sob o colo.__ Estou ajudando Ângela ficar longe de Santiago. Jamais poderia negar isso a ela, que esteve comigo nos momentos, em que mais precisei. Chegou minha vez de retribuir.
__ Por que?- ele elevou o copo à boca e fincou seus olhos nos dela.
__ Ela está grávida e Santiago é um canalha!- afirmou sem rodeios.
Carlos bebeu o resto da dose de uma vez só.
Paula, mais calma, notou os dedos dele segurando o copo.
__ Estão machucados. - constatou.
Carlos olhou os nós da mão e dos dedos esfolados.
Paula foi à cozinha e voltou, trazendo a caixinha de curativos, o encontrando sentado no sofá.
Ela ajoelhou-se numa almofada na sua frente.
__ Deixa eu ver esses machucados.
Carlos obedeceu. Paula porém sentia seus olhos desconfiados sobre si.
__ Eu sinto que nosso sábado ter acabado assim.- ela o olhou furtivamente.
__ Perdi a cabeça também.
Ela limpava com um algodão embebido em água oxigenada o sangue que escorreu entre os dedos dele e sorriu sem vontade.
__ Acho que ele mereceu o murro. Não por mim, mas por ela, que está sofrendo horrores.
__ Ele sabe da gravidez?
__ Santiago sabe e não sabe.
Carlos franziu a testa e ela explicou:
__ Ângela chegou a contar, mas ele pediu que se livrasse do bebê. Santiago está prestes a casar, mas gostaria de manter a amante. Um filho é uma ameaça aos seus planos porque é a prova da sua traição. Aquele dia, que fui em seu consultório, me pressionou para falar do paradeiro dela. Então, disse-lhe que tudo não passava de uma mentira, que havíamos armado para ele decidir-se e que o plano acabou culminando nele mostrar a sua verdadeira face.
__ Fez parecer como se fosse para ela cair na real, é isso?
__ Sim. Falei exatamente com essas palavras e Santiago ficou um tanto desconfiado, aliviado e furioso quando disse-lhe que tinha conseguido mostrar o canalha que ele era a Ângela.
__ Que babaca! Por isso você teve aquela crise de choro. Ele a ofendeu lá dentro!
Paula passou uma faixa na mão dele para segurar a pomada.
__ Santiago adora ser o dono da situação e eu estava muito fragilizada. Infelizmente, Ângela o ama e o canalha se aproveitava disso. Mas agora, ela terá o bebê longe. Irá refazer a vida dela. Se reconstruir depois de uma decepção amorosa não é uma tarefa fácil e eu a ajudarei no que puder.
__ Está falando também de você. Sabe o quanto dói, não é mesmo?
__ Sim. Mas eu espero sinceramente, que minha amiga encontre alguém como você, Carlos.- fechou a caixa.__ Está pronto.
__ Eu compreendo uma coisa. - ele mal controlava a voz.
Chegou mais perto e segurou Paula pelos ombros e a puxou para mais perto.
As mãos pousaram agora uma em cada lado de seu rosto.
Ela o encarou, os olhos demonstravam todo o sentimento que tinha por ele. Tinha tanto medo de perdê-lo. Era tudo tão diferente dos seus temores com Murilo.
__ Compreende o que?- ela quis saber.
Carlos correu o olhar pela face parando nos lábios entreabertos.
Paula não se mexeu, mas as lágrimas começaram a brotar em seus olhos.
- Não chore. - ele sussurrou.
__ Estou muito nervosa por ter proporcionado aquela cena lamentável às crianças. Eu entendo que tenha ficado chateado.
A minha vida em geral é tão complexa, tão cheia de facetas, que tenho medo que você se assuste. Você está acostumado com a paz, com a vida familiar tranquila...Eu acabei de trazer o caos para a cabecinha dos seus filhos.
__ Paula, você não teve culpa. Quero dizer a você que compreendo o que fez por sua amiga. Eu teria feito o mesmo. Saber que está aguentando algo para proteger uma vida, só me faz ter admiração por você. Talvez, se Ângela estivesse sob o domínio de Santiago, acabaria cedendo ao aborto.
Paula balançou a cabeça em sinal positivo e recebeu a boca de Carlos na sua, pensando que cada vez mais se enredava numa teia.
Eles subiram, silenciosos de mãos dadas. Ao cruzar pela porta do quarto das crianças, ouviram Julian resmungar.
__Vou ficar um pouquinho com ele e já vou para o quarto.- Carlos avisou, dando um selinho nela.
__ Claro. Vou tomar um banho rápido. Julian está agitado e com toda razão. Vá lá cuidar dele. - sorriu compreensiva.
Carlos entrou no quarto e Paula seguiu para o deles.

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