26. Pensamentos de alguém que sempre correu da própria verdade

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Changbin passou grande parte de sua vida sendo invalidado.

Fosse por quando era um jovem e decidiu seguir carreira no âmbito da arte, invalidado como um profissional, lhe disseram que jamais teria um mínimo de reconhecimento. Fosse quando saiu do armário para a sua família pelo bem de seu namorado da época, e foi expulso de sua casa sem um currículo descente para ter um emprego fixo. Ou ainda, fosse quando todos os seus amantes lhe diziam que nunca ele amaria o suficiente, pois não conseguia decidir entre caminhos traçados pelo seu coração.

Mas mesmo sendo sempre invalidado, ele dava seu jeito para conseguir dar uma volta por cima.

Em seus estudos, conseguiu se virar passando em uma faculdade pública e montando a curadoria de uma pequena exposição de suas esculturas, conseguindo então cada vez mais reconhecimento na área de expressões tridimensionais. Agora, conseguia vender estátuas fundidas em bronze para pessoas de grande importância, e suas obras decoravam restaurantes e hotéis dos melhores padrões.

Quanto a sua família e o caos que sua vida se tornou, uma velha amiga lhe deu um sofá para passar as noites e uma antiga máquina de tatuagem, e o ensinou tudo que ela sabia sobre a arte de tatuar, e até mesmo conseguiu para ele um estágio como assistente, e agora dividiam juntos um estúdio de tatuador. Eles ainda moravam juntos, mas agora em um apartamento decente com dois quartos, e ele até mesmo tinha conseguido financiar um carro usado com dinheiro suado do estúdio e das esculturas.

O maior problema para si, porém, talvez nunca deixasse de ser o romance.

Não é que lhe faltasse peixe no mar, porque mesmo que as vezes seu coração falhasse batidas por ansiedades momentâneas, sabia que era bonito, e segurança em sua aparência não lhe faltava. O grande problema era que Changbin tinha plena certeza de que havia algo de errado com ele.

Uma parte de si não sabia se algum dia tinha se apaixonado verdadeiramente, mas sabia lá no fundo que parte desta conclusão havia nascido a partir de críticas de seus ex namorados. Ainda se lembrava de algumas coisas de maneira vívida, como se tivessem acontecido ainda horas mais cedo, ao invés de realmente anos atrás.

Se lembrava de quando um de seus namorados estava Instagram vendo fotos de celebridades, com a cabeça no colo de Changbin, ainda jovem, talvez nos seus quinze anos de idade. O Seo tinha o peito cheio com uma espécie de culpa, porque sentia que borboletas estavam começando a dançar em seu estômago para alguém que não era o jovem no seu colo. Quando ele finalmente reuniu confiança para confessar e perguntar de seu namorado já tinha se sentido assim, ele logo se afastou e o olhou com desgosto.

Não é normal sentir atração por uma terceira pessoa quando se está apaixonado! – afirmou, com as sobrancelhas franzidas e o nariz retorcido. – Você deve ter olhos apenas para aquele que você prometeu, por que? Tem algo que queira me contar?

Changbin apenas disse que não naquela tarde, mas o seu namorado ficava cada vez mais desconfiado, e o relacionamento sem confiança não durou muito mais.

Talvez um ou dois anos depois, com sua namorada da época que nem mesmo sabia que ele era bissexual, a mesma situação começou a se repetir. Changbin começou a se sentir atraído por um jovem que fazia cursinho no preparatório que existia junto com o colégio deles, e tentou ignorar mas as coisas só ficaram mais difíceis quando em um dia de período integral ele começou a conversar com o Seo. Era para ser apenas um inocente "tatuagem legal que você tem no braço", mas logo se estendeu para "que música você curte ouvir?", "você quer o que de faculdade?", e o mais perigoso de todos: "qual o seu número de telefone?"

Mais tarde naquele mesmo dia, em uma ligação com sua namorada e assistindo algum filme de triângulo amoroso na internet, o Seo admitiu que já havia sentido vontade de beijar outra pessoa enquanto estava com ela certo de que todo mundo já tinha se sentido assim.

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