c a p í t u l o 4 0

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Seu toque é delicado e seus olhos estão focados em não deixar nenhum centímetro da minha pele sem a espuma com cheiro de melancia. Ela faz um sinal com os dedos e viro de costas apoiando a testa no azulejo gelado da parede e quase gemo de satisfação quando suas mãos apertam os nós dos meus ombros. Ouço o barulho de um frasco sendo aberto e me retraio quando vejo que ela está pegando shampoo para passar, obviamente, no meu cabelo.


— Deixa que eu faço isso. — Peço quando ela se aproxima e Melanie nega sutilmente balançando a cabeça.

— Eu sei que elas estão aí e não me importo. — Sua voz é tranquila porém não diminui a tensão que está crescendo ao nosso redor.  — Elas devem ser respeitadas e tratadas como troféus, você não deve se envergonhar delas.


— Tratar como troféu uma linha horrorosa de pontos que atravessa quase inteiramente da parte lateral até o meio da minha cabeça ou a que está no meu pulso me mostrando que quase não tenho controle da minha mão? — Pergunto de cara feia e Melanie faz careta.

— Não está horrorosa, seu cabelo já cobre toda a cicatriz e ela ficou bem fininha. Você está fazendo fisioterapia, não tem que se cobrar desse jeito. E deve tratar como troféu sim, Harry. Elas provam que você teve uma segunda chance de lutar e mudar tudo que estava errado até então.  — Ela diz e dá um beijo atrás da minha orelha onde é possível enxergar uma linha fina ainda avermelhada que mostra o quão grave foi o traumatismo craniano que eu tive. Aperto as mãos em punhos quando ela despeja uma pequena quantidade de shampoo na mão e leva até a minha cabeça.


Fecho os olhos com força e seus dedos massageiam minha cabeça com delicadeza e cuidado fazendo toda tensão que estava me impedindo de relaxar se esvair com a espuma que a água quente leva para longe.

— No que você está pensando? — Ela pergunta baixinho passando o condicionador no meu cabelo e dou ombros sem realmente pensar em nada que não seja seu toque delicado.

— Que preciso ficar de olhos fechados para não ficar encarando seus peitos ou a sua bunda. — Falo e abro um olho quando suas mãos param de mexer no meu cabelo.

— Não seja ridículo, estou falando sério. — Ela dá um toque de leve na minha testa me fazendo inclinar a cabeça para trás. Fico em silêncio tentando encontrar algum assunto digno de preocupação em algum canto da minha cabeça e não encontro.

— Em nada. — Falo com sinceridade e me levanto do banco plástico para poder abraçá-la. Seu corpo relaxa junto ao meu e quero fazer durar para sempre esse momento de paz e segurança entre nós dois porém Melanie se afasta e sai do box sem falar nada. Ela volta vestindo um roupão com uma toalha enrolada no cabelo e me guia até o armário da pia do seu banheiro e dá risada pegando um roupão lilás e toalha amarela.

— Vai ficar curto mas deve servir, toma. — Ela me entrega o roupão e enrola a toalha amarela no topo da minha cabeça. Melanie pega nossas roupas do chão me chamando para ir junto com ela mas fico congelado sem conseguir me mover.  — Harry?

— Não quero sair daqui. — Respiro fundo e admito para mim mesmo que tenho medo de sair desse banheiro onde pude sentir um pouco de paz pela primeira vez em tanto tempo.

— Não podemos viver no meu banheiro, Harry. Vou colocar nossas roupas para secar e ficaremos aqui no meu quarto mesmo, tudo bem? — Dou apenas um aceno fraco e ela sorri.

— Não quero me sentir daquele jeito outra vez. — Sussurro e ela se aproxima devagar com nossas roupas emboladas na mão.  — Estou com medo. — Assumo e mesmo que eu seja bem mais alto, Melanie se estica me abraçando como se eu fosse apenas um menino.

— Também estou com medo mas não quero continuar seja lá o que estamos tentando construir aqui se isso te assusta e te machuca. — Ela fala baixinho se afastando e sinto falta do seu toque imediatamente.

— Me assusta a ideia de nos machucarmos no meio desse caminho.

— Eu nunca machucaria você daquele jeito. — Melanie fala olhando em meus olhos e a verdade que vejo refletida em seu olhar me faz liberar o peso que estava pressionando meu coração. — Eu te amo, Harry. — Suas palavras limpam e preenchem cada centímetro do meu corpo que estava sendo tomado pela insegurança e medo.


Me deixo guiar e sento na beirada de sua cama enquanto Melanie sai do quarto levando nossas roupas. Olho ao redor e vejo um mural de fotos do que acredito ser no natal passado da família de Melanie com minha mãe e Gemma. Meus olhos se enchem de lágrimas quando me dou conta de como agi mal desde o dia em que nos conhecemos, detesto concordar com suas palavras e consigo enxergar que tentei colocá-la no lugar de culpada quando tudo o que ela estava fazendo era dar todo amor que tinha dentro de si. Melanie entra no quarto novamente e antes que eu consiga pensar duas vezes e arrumar alguma besteira para falar, puxo-a para os meus braços e junto nossos lábios como se nunca tivesse feito isso antes e minha vida dependesse disso.

Seu corpo se molda perfeitamente ao meu e seu gemido me faz ter total consciência de que além de dois roupões, estamos apenas de roupas íntimas e de repente não quero parar. Quero mostrar com meus beijos o que não consigo falar e provar com meus toques o quão entregue eu estou nessa história porém sei que não é o certo. A voz da razão assume o controle me mostrando que se dermos esse passo tudo pode ir por água abaixo e não quero correr o risco de perdê-la agora que pude sentir e provar do seu amor por mim. Diminuo a força do meu braço em sua cintura e nos afastamos com nossas respirações ofegantes e pesadas.


— Obrigada. — Ela diz baixinho me fitando como se tivesse lido meus pensamentos e dou ombros tentando esquecer o desconforto que estou sentindo dentro da minha cueca. —  Você vai ficar?

— Até quando você me quiser por perto. — Repito uma das frases que ela dizia incansavelmente para minha mãe enquanto eu estava em coma e o sorriso que recebo me aquece por dentro.


Nos deitamos em sua cama em silêncio e quando ela pega no sono deitada em meus braços consigo perceber com facilidade que existem coisas mais difíceis do que me apaixonar por essa linda garota que me deu seu coração sem ao menos saber se eu sobreviveria para ter conhecimento de tal coisa.

The Only Reason - HSWhere stories live. Discover now