𝐟𝐨𝐮𝐫

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— Quando foi a última vez que comeu? – você perguntou.

Você ainda não tinha realmente o perdoado, foram cinco anos de mentira, e não qualquer uma, mas ainda estava feliz, você o tinha de volta, assim como tinha pedido por tanto tempo pra qualquer força maior que existisse. E se preocupava com ele, claro que sim. 

Kenma nunca foi o melhor em se manter saudável, você imaginava o tanto de dias que ele passava sem se alimentar ou beber água apropriadamente por simplesmente não se lembrar ou não dar importância. Ele te encarou, tentando pensar em alguma resposta.

— Vamos, não é uma pergunta difícil.

— Não sei. Acho que antes de ontem, mas não estou com fome.

— Tem que comer, não me importo se está com fome ou não. – você soou mais grossa do que queria, mas não se importou.

— Eu como em casa.

— Já está aqui, faço algo pra você. – deu de ombros, se levantando do sofá.

Kenma não contestou, apenas assentiu, se levantando também e te seguindo até a cozinha, sentando-se na mesa enquanto você caminhava de um lado para o outro, pegando o que precisava, O silêncio entre vocês era o pior possível, era desconfortável, pela primeira vez, você ficou desconfortável na presença de Kenma, mas era de se esperar.

— Você tem um notebook? – ele perguntou.

— Tenho... mas ele é péssimo. Pode pegar, ta no meu quarto, provavelmente dentro do armário. O que vai fazer?

— Tentar rastrear Kuroo. – disse baixo. – Estou preocupado.

— Ok. – respondeu no mesmo tom, o olhando pelo canto do olho enquanto ele se levantava.

Kenma abriu seu armário, passando os olhos pelas roupas até achar o notebook. Tinha vários moletons dele e outras coisas que também o pertenciam. Deixou o notebook de lado, seus olhos brilharam ao ver seu antigo Nintendo Switch ali, estava um pouco empoeirado e era das versões mais antigas, mas não importava. 

Colocou o jogo no bolso da calça, fechando seu armário e pegando o notebook, voltando até onde você estava. O cheio de comida sendo feita fez a barriga de Kenma roncar, ele realmente não se importava em ficar vários dias sem comer, mesmo que passasse mal, não era sua prioridade, sempre se cuidou mais quando estava ao seu lado, mas por conta própria, não achava que precisava.

Se sentou na mesa, abrindo a tela e o ligando. Era realmente velho, Kenma se lembrava de ter o visto um dia no seu dormitório, quando você ainda fazia faculdade.

— Qual a senha?

— Seu aniversário. – você respondeu, sem parar o que fazia.

Ele assentiu, digitando a data, o notebook demorou um pouco pra iniciar, e quando fez, os olhos dourados lacrimejaram ao ver a foto na área de trabalho, sendo ele, Kuroo e você, as fotos trocavam, tendo algumas com Yachi, Akaashi e mais alguns amigos seus. 

Os próximos minutos você conseguia ouvir o barulho da comida sendo feita, Kenma afundando os dedos pelo teclado e alguns xingamentos da parte dele. Quando a comida ficou pronta, ele fechou o notebook um pouco forte demais, respirando fundo e te encarando.

— Não vai dar. – ele disse. – É muito velho. Acho melhor eu ir para o escritório e fazer isso. – bufou, escorando-se na cadeira.

— Escritório? – arqueou as sobrancelhas.

— Me dão alguns equipamentos pra trabalhar, mas só posso usar quando tem algo pra fazer, não são meus. Mas talvez Miguel não se importe. – se levantou, se aproximando. – Onde fica os pratos?

Kenma estava muito perto. Um frio se fez presente na sua barriga e seu coração acelerou, se viu obrigada em desviar o olhar para longe. Há tempos não sentia algo assim.

— Ali. – apontou para o armário.

— Vai comer?

— Não, tomei café. – disse baixo, se afastando dele e se sentando na ponta da mesa, de frente para a outra ponta, onde ele se sentou. – Quem é Miguel?

— Ele... contrata meus serviços. Estou aqui tem quase dois anos.

— Tem um Miguel que encomendou uma tela comigo. – você disse, pegando o celular do seu bolso e deslizando o dedo pela tela, mostrando a encomenda que havia sido feita pelo seu e-mail profissional, tinha nome completo e endereço, Kenma pegou o celular da sua mão, passando os olhos por ele, lendo cada detalhe. – Ela é enorme, talvez a mais cara vou fazer.

— Caralho. – suspirou, largando o garfo que tinha em mãos e apoiando a testa na palma da mão. – Faça a tela, não fale com ele. Digo sério, ele é perigoso e não tem limites, não é alguém bom de se ter por perto. Espero que ele realmente só queira seu trabalho.

— Você trabalha com ele, Kenma.

— Não é como se eu tivesse escolha. – ele te encarou, transparecendo indiferença na sua feição.

— Certo. – você o fitou por mais alguns segundos.

Estava tudo tão estranho. Vocês não sabiam mais como conversar um com o outro, não tinham mais nenhuma intimidade, nada era como antes e você temia que nunca voltasse a ser como antes de novo. Kenma além de mais frio, parecia mais amargo, insatisfeito com a vida. Não conseguia imaginar o que ele tinha passado nos últimos cinco anos. Kenma foi feito exatamente para essa vida, não tinha ninguém melhor que ele pra isso.

Mas também não tinha ninguém que odiasse tudo isso, o tanto quanto ele odiava.

— Desculpe. – ele suspirou. – Fui rude sem precisar.

— É, foi. – apoiou sua cabeça em uma mão, fazendo um infinito com o indicador na madeira da mesa. – Eu entendo você. Não deve ter sido fácil e... – sua voz ficou trêmula de novo, você esfregou o rosto, murmurando algum xingamento em seguida.

Kenma se levantou, se aproximando devagar de você e se ajoelhando no chão, no meio das suas pernas. Lentamente deslizou a mão pelo seu braço, até chegar na sua mão, circulando o indicador na parte de cima, você abriu a mão, sentindo os dedos dele se entrelaçarem com o seu. Ele suspirou, te encarando com um mínimo sorriso no rosto.

— Esses cinco anos foram uma merda completa, mas eu faria tudo de novo, só pra poder te ter. Pode me odiar o quanto foi, [Nome], não querer me ver, me mandar embora, me bater, eu não me arrependo de nada que fiz. Se esqueceu do quanto eu amo você?

— Não. – respondeu, com lágrimas nos olhos. – Eu nunca vou esquecer.

— Não digo para voltarmos a ser como antes, talvez não conseguiremos, mas podemos tentar. Tenho certeza que tenho muito o que conhecer em você... de novo. – você deu risada, assentindo.

— Desde quando você é quem mais fala aqui? – fez graça, tirando um riso dele. – Tem razão. Podemos sempre nos conhecer outra vez.

Ele sorriu, se aproximando do seu rosto, você fechou os olhos, sentindo os lábios dele prensarem contra o seu, céus, como havia sentido fala desse beijo. Mesmo Kenma tendo seus lábios sempre ressacados, pareciam seda contra sua boca, a língua dele deslizava pela sua, entrelaçando vez ou outra. Separaram-se pela falta de ar, ambos com um sorriso no rosto e lágrimas molhando o rosto.

— Quero te levar em um lugar essa noite. 

𝐃𝐎 𝐍𝐎𝐓 𝐅𝐎𝐑𝐆𝐄𝐓, kozume kenmaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora