XXI

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Ronaldo

A minha mente focava num bom banho assim que chega-se a casa, onde podia finalmente descontrair depois da derrota e o meu completo falhanço no jogo contra o clube Nortenho português.

Estava frustrado, chateado com a minha prestação em campo e apenas um duche podia aliviar tudo o que sentia, mas a fisioterapeuta semi escritora tinha outra coisa em mente:

- O que aconteceu? – Questionou com uma das minhas camisolas de inverno vestidas, baços cruzados que ressaltavam a sua pequena barriga de quatro meses esta esperava-me junto a porta.

- Existe jogos que correm bem e outros que correm mal! – Respondi vagamente para não termos uma discussão como as que assombravam toda a sua estadia naquela casa desde que tinha retornado.

- Sim, mas não como hoje Cris! – Resmungou olhando-me seria. – O que se passa?

- O que é que queres que te diga? – Perguntei chateado.

- Quero que me contes que merda de jogo foi aquele, porque quem vi em campo não era o melhor jogador do mundo! – Resmungou. – Tu és bem melhor que te jogares no chão a pedir penaltis Ronaldo.

A verdade é que tinha chegado ao meu limite de ignorar a vida pessoal quando entrava em campo, tinha chegado ao ponto que era impossível parar de pensar no que estava a acontecer entre nós. Sempre que a morena a minha frente se refugiava no jardim eu tentava de tudo levantar a sua moral mostrar-lhe que o nosso filho era forte.

E como de costume sempre que tentava evitar uma discussão esta ignorava a minha investida de afastamento deixando-me sem escapatória possível para correr.

- Agora vais ignorar o que digo? – Perguntou irritada.

- Se queres abortar força! – Falei sem paciência farto de tudo o que estava a minha volta. – Mas não me faças fazer isso porra!

- Eu não quero abortar! – Confessou triste.

- Não queres? – Questionei retorico. – Desde que soubemos que podes perdê-lo parece que fazes de propósito para o fazer, sempre que tento afastar-me para não termos a porra de uma discussão tu fazes de propósito para termos.

Ela sentou-se na cama olhou para as mãos e talvez fosse melhor assim, deixá-la ali no quarto tinha sido o meu arrependimento e quando voltei do banho ela já não estava ali. Tinha descarregado todas as frustrações na pessoa que não só amava, mas me apoiava e o aperto no meu peito quando a procurava pela casa só aumentava por saber que a tinha magoado mais uma vez.

- Pensei que tivesses ido embora! – Exclamei aliviado ao encontrá-la sentada na relva do jardim. – Revirei tudo a tua procura.

- Talvez fosse melhor se fosse! – Confessou olhando a baliza. – Talvez não te afetasse tanto.

- Eu não devia de ter falado aquilo! – Exclamei sentando-me ao seu lado. – E sim isto afeta-me verte assim afeta mais do que possas pensar.

- Queres mesmo que aborte? – Perguntou com dificuldade como se tivesse com medo de saber a resposta a pergunta, mas encarava ainda a baliza.

- Não! – Exclamei firme.

- Tenho medo! – Confessou deitando a cabeça no meu ombro.

- Eu tambem tenho medo Mafy mas acho que não podes perder a esperança. – Contei abraçando o seu corpo.

Ficamos alguns minutos em silencio até ela se afastar do meu ombro e olhar as estrelas.

- Tenho medo que faça o que a minha mãe me fez! – Afirmou tristemente.

- O que? – Questionei confuso.

- A minha mãe tentou-me matar até aos 5 anos! – Confessou olhando-me rapidamente. – Por isso é que prometi a mim mesma que nunca ia ter filhos, tenho medo de ter uma depressão pos parto e tentar fazer a mesma coisa. Eu provavelmente devia ter-te contado mais cedo mas não tive coragem.

- A tua mãe o que? – Perguntei perplexo para a história que tinha acabado de ouvir.

- A minha mãe tentou de tudo para tirar a minha vida, sufocar-me, afogar-me, mutilar-me, ou espancar-me o meu pai aparecia sempre para me tirar dela quando fiz 5 anos os meus avós foram buscar-me e internaram a minha mãe numa clínica porque ela estava instável. – Confessou com um sorriso triste no rosto. – Eu não sei se consigo dar uma vida a...

- Eu penso o contrário! – Interrompi-a chamando a sua atenção. – Sei que não vais sair de perto do Amendoim e que vais ficar 24h/7 perto dele ou dela! Sei que vais ser uma mãe galinha como já o és, porque sempre que tens medo de o perder tu pegas na ecografia e olhas para ela. E se por acaso tiveres uma depressão pós parto podes ter a certeza que sou o primeiro a chamar um medico aqui!

As suas lagrimas eram dolorosas de ver, saber o passado que ela tanto escondia fazia-me quer pegar nela e guarda-la longe de tudo e todos. Mafalda era uma mulher lutadora que tinha passado por muito na vida e naquele momento soube da razão do porquê é que a mesma não se dava com os familiares.

- Como é que tens tanta certeza disso? – Perguntou chorosa.

- Confia em mim, eu conheço a pessoa que tenho ao meu lado! – Afirmei então a sua expressão mudou.

- Conheces tanto que me traíste com a empregada porque pensavas que era eu! – Afirmou ao levantar-se da relva. – E já confiei duas vezes em ti Ronaldo, e das duas arrependi-me de o fazer então porque devo confiar agora?

Porra ela tinha razão e por mais que desse voltas a cabeça de maneiras da conquistar de lhe mostra que nada do que fiz teve qualquer importância para mim ela não me deixava dar um passo em frente ou se dava um recuava três logo depois. Não sabia o que fazer, estava perdido, sem ideias e com saudades da mulher louca a minha frente.

- Eu errei muitas vezes contigo Mafalda, mas nunca duvides do que sinto por ti ou do facto de saber que vais ser uma mãe incrível para ele. Porque mesmo que não confies em mim agora porque fiz merda...

- Tu fizeste muita merda Cris não só o facto de me teres traído ou o facto de me teres mentido anos atrás! – Interrompeu-me. – Mas o facto de não me deixares fazer parte da tua vida, tu fazias escolhas sem me dizer nada e mesmo não tendo nada oficial comigo tu ignoravas completamente o que dizia.

- Não achas que sei disso? – Perguntei chateado. – Estou a tentar mudar, estou a fazer de tudo por isto, mas mesmo assim agora tu é que não queres que faça parte da tua vida.

- Porque deixaria? – Perguntou dando de ombros. – Não quero sofrer outra desilusão!

- Porque é que não me deixas tentar? – Perguntei alterado. – Porque é que não me deixas fazer as coisas bem agora!

Ela riu, sim riu sem humor algum.

- Tu não podes destruir-me por duas vezes e esperar que tudo fique bem de um dia para o outro! – Exclamou. – Por muito que te ame não consigo sofrer mais uma vez, não consigo confiar em ti para tu depois a quebrares outra vez!

Então ela saiu do jardim entrou em casa deixando-me para trás pensando seriamente se valia realmente a pena, ela provavelmente estaria melhor sem mim. Estaria com alguém que não a magoa-se como fazia, mas só de pensar isso tinha ciúmes tinha ciúmes de alguém imaginário que podia tirar-me a minha morena.

Eu precisava de ajuda, ajuda para a ter de volta e isso apenas Bernardo, Danilo, André e talvez Quaresma, Rui Patrício e Pepe podiam ajudar-me a preparar alguma coisa ou ter ideias para algo.

Will be Loved  || CR7Where stories live. Discover now