A Arte Mais Bela

Sorrisos

- Ai que tédio! Acho que vou estudar - ele fala largando o celular em sua cama.

- É isso que você faz no tédio? - solto uma risada nasal enquanto guardo minhas coisas.

- Bom, eu já enjoei do celular e eu não posso sair porque os portões já fecharam. É a única coisa que eu tenho pra fazer - ele diz tirando um livro de sua bolsa. Nela havia pendurado um chaveiro com um sol feito de crochê - Sem contar que eu preciso fazer isso uma hora ou outra.

- Bonitinho - me refiro ao chaveiro.

- Isso? - ele sorri de lado parecendo observar cada detalhe do objeto - Minha avó fez pra mim quando eu era criança. Ela me chamava de "Meu raio-de-sol" porque quando o sol iluminava meu cabelo ele parecia brilhar - ele sorri lembrando de seu passado, mas logo para e deixa uma lágrima cair.

- Ela devia ser uma pessoa incrível - me sento ao seu lado colocando minha mão sobre seu ombro.

- Sim, ela era - enxuga a mísera gota que acabara de escorrer em sua face - Quando o meu pai morreu, ela começou a morar com a minha mãe pra ajudar na minha criação. Ela também era viúva. Eu me sentia na obrigação de cuidar delas, mas eu não fui muito útil quando a vovó adoeceu - sorri forçado tentando ao máximo cessar as lágrimas que desciam.

- Ei! A culpa não foi sua. Não tem como a gente prever essas coisas. Não se culpe, ok? - digo tentando consolá-lo.

- O que é isso? Eu pareço uma criancinha, não é? - ele ri enquanto enxuga seu rosto se levantando da cama.

- Harry... - tento falar alguma coisa mas ele me corta.

Ele apoia sua mão em minha cabeça. Quem está consolando quem, afinal?

Ele tem o oceano em seus olhos e a dor em sua alma.

- Tá tudo bem - ele sorri.

Um mero sorriso forçado. Seus lábios podem fingir, mas seus olhos não. Os olhos não mentem. Seu olhar revela o quão infeliz você pode estar. Eu posso ver isso. Eu posso ver isso nos olhos do meu amigo.

Angústia, culpa, traumas.

O sorriso é a máscara que as pessoas colocam para esconder a dor que sentem.