cap 1 - The Nacional Gallery

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Era um domingo de manhã, o dia estava nublado como era de costume em Londres, acordei com o meu despertador, o cheiro do café da Sra. Hudson estava mais do que delicioso, levantei da cama e como normalmente faço fui ao banheiro tomar um banho e escovar os dentes, entrei no chuveiro e quando estava ensaboando meu cabelo escuto um barulho alto vindo da sala! era por volta das 8:30 da manhã, mal tinha acabado de acordar, resultado? Levei o maior susto da minha vida.

Sai do chuveiro em questões de segundos, nunca tinha notado que poderia me vestir tão rápido. Passei pelo corredor dando passos largos, tentando fazer o mínimo de barulho possível, peguei uma jarra de vidro e estava pronto para quebrar na cabeça de alguém quando...

Sherlock!— (falei bravo mas ao mesmo tempo relaxado por não ser ninguém)
John—Meu deus que susto! (coloquei a mão no peito, meu coração estava disparado)
Eu estava incrédulo, ele esqueceu que agora convive com mais três pessoas? Bom... Duas e meia? Rose tem 3 anos agora, não acho que ela conte como uma pessoa.
John—O que aconteceu? Por que do barulho tão alto? Vai acordar Rose!
Nesse momento comecei a perceber que ele estava um pouco perambulante, como se fosse cair, mais ou menos como se alguém tirasse minhas muletas no ano que conheci Sherlock.
Sherlock— John...? Não sabia que você acordava tão cedo, hoje é domingo não tenho nenhum caso novo que valha nossa atenção, tudo está tão entediante ( Sherlock se jogou no sofá com o seu roupão azul de seda, parecendo uma princesa esperando seu príncipe a buscar)
John—Eu estou indo para um encontro na verdade (falei curto e reto, senti a birra de Sherlock de longe) não que você queira saber também, ela tem 29 anos e... Meu deus Sherlock que cheiro é esse?
Sherlock—Um experimento Watson! Um experimento, não se preocupe, não vai te matar antes que você chegue a seu importante encontro! Com alguma mulher qualquer, como toda semana a 1 ano! (falou debochando)

Já estou acostumado com a birra dos Holmes mas essa em especial me deixou com um nível de raiva jamais alcançado, deixei ele falando sozinho, estava preocupado a fonte do barulho.
Segui o cheiro, estava infestando a casa toda, eu precisaria tomar um segundo banho para tirar esse cheiro de queimado do meu corpo, percebi que o cheiro vinha do microondas, minha primeira reação foi olhar o Sherlock. Ele não chega perto na cozinha muito menos para cozinhar. Isso era tudo muito estranho, mas nada incomum na casa dos Holmes-Watson.
Abri o microondas e instantaneamente botei o braço no meu rosto tampando meu nariz e boca. ERAM OLHOS!

John—PUTA MER- Sh-Sherlock você pode me dizer o que DIABOS é isso? (Bati a porta do microondas com tanta força que provavelmente aquele barulho mesmo acordou a vizinhança inteira)
Sherlock—Eu precisava saber a consistência da retina ocular após exatas 4 horas e 23 minutos no microondas, apenas isso.
Um silêncio se expandiu
Sherlock—SÓ ISSO? SHERLOCK! EU- EU eu não vou me estressar! eu já estou atrasado, boa sorte com seus "experimentos" eu vou fazer alguma coisa realmente importante, SOCIALIZAR! Tchau Sherlock.

Saí de casa bravo, estava a um passo de explodir com Sherlock. Fiquei resmungando o caminho inteiro coisas do tipo "ele é sempre tão... ele, estamos com uma criança em casa, essas coisas são perigosas" ou "ele é muito talentoso, mas tão sem noção".
Eu tinha marcado com Anne (meu encontro) na The Nacional Gallery, uma galeria de arte muito famosa em Londres, já que ela aprecia a pintura.

Quando cheguei lá avistei ela, uma mulher bonita, ruiva, parecia ter um bom porte, bem vestida e parecia muito gentil. Fui até ela e a cumprimentei, decidimos ir a uma exposição que estava tendo sobre o artista favorito dela.
Ela parecia ter percebido que eu estava nervoso, por que me perguntou se tinha acontecido alguma coisa.
Eu comecei a falar de Sherlock, ela era uma incrível ouvinte, parecia que tudo que estava guardado eu queria falar para ela, por um momento eu achei meu "diário".
Eu me abri e ela parecia interessada, comecei a falar de como ele era mimado, irritante, impossível de conviver, desorganizado, distante, bipolar, ansioso, persistente, muito protetor, talentoso, leal, um bom amigo e até um pouco gentil.
Foi quando eu me perdi em meus pensamentos, soltei um sorrisinho se lado, nada muito extravagante, apenas o suficiente para eu sentir minha meu lugar tranquilo.
Quando percebi fiquei horas falando de Sherlock sem parar, não dei oportunidade nem para ela soltar algum comentário. Foi quando eu parei e pensei o quanto eu tinha ficado perdido em meus pensamentos.
Olhei para frente e vi Anne, me olhando de um jeito curioso.

Anne—John, parece que eu estou atrapalhando você... Eu vou deixar você se desculpar com... qual o nome? Sherlock! ok? Te ligo depois, desculpa!! eu realmente tenho que ir, beijos... eu tô... atrasada!!

Nisso ela já foi levantando, pegou a bolsa dela e saiu praticamente correndo de lá, no fundo eu sabia que havia estragado meu encontro e que ela não me ligaria nunca mais. E pior, por causa de Sherlock Holmes!

Voltei para casa já era noite, passei no parque depois da galeria e fiquei pensando, na hora que falei do Sherlock para Anne me senti seguro, feliz, até um pouco ansioso, como se tivessem borboletas do meu estômago. Deixei para lá e cheguei em casa. Sherlock estava na minha poltrona, coisa que nunca havia acontecido antes, ele parecia estar dentro do seu palácio-mental como de costume.
No parque decidi que não contaria para Sherlock do encontro, ele com certeza ficaria se gabando de queixo a cotovelo.

Sherlock— Olá John, como foi seu dia? (colocando suas mãos no queixo formando um triângulo)
John— E você já não sabe? Vamos, qual sua dedução?
Sherlock— Bom... pela farpa em sua calça e sua dor no pescoço posso deduzir que sentou em algum banco onde deveria olhar para cima, pela lama em seus sapatos deduzo que você foi até o parque, mas não passou o dia lá pois no parque que você costuma ir não tem bancos cobertos e você não tem um guarda-chuva, já que eu quebrei semana passada brincando com a Rose, pelo cansaço posso também deduzir que o destino era longe o que me da abertura a mais duas deduções.

John— E quais são?
Sherlock— Você esteve na The Nacional Gallery com a mulher chamada Anne, sim eu prestei atenção na nossa conversa hoje de manhã, não acabou bem e você decidiu passar em um parque, mas preciosamente o Kensington Garden onde você vai para pensar mais claramente o que me deixa deduzir que não foi qualquer encontro, alguma coisa aconteceu lá, então, o que foi John?
John— Jesus Sherlock! até hoje não sei como você consegue.
Mesmo que já façam anos eu continuo me impressionando com as deduções do Sherlock.
Sherlock— O que aconteceu John? Diga, o que estragou o seu perfeito encontro que eu atrapalhei de manhã? Diga!

Ele estava zombando de mim, provavelmente pela briga de manhã, sempre tão dramático.

John— Você quer que eu fale? Você quer mesmo que eu fale? ok então escute.
John— Eu sempre soube que você era mimado, fresco e birrento, mas parece que a partir do momento que eu comecei a sair com pessoas você começou a surtar! Diferentemente de você eu socializo! Eu-
Sherlock— Ah John ! Você sempre foi muito controlador, necessitado de atenção! Você tem a mim e a Rose o que você quer mais?
John — AH eu não acredito! você sempre foi uma drama queen mesmo! Você... Você...
Sherlock— Eu o que Watson? Diga!
John — VOCÊ! você é sempre sobre você! "Sherlock quer resolver um caso?
John obedece
Sherlock colocar todos em perigo?
John obedece
Sherlock quer... quer desaparecer por 2 anos e voltar como se nada tivesse acontecido?
John obedece! EU SEMPRE OBEDEÇO!"

Nesse momento um silêncio se instalou na casa, nós dois ficamos nos olhando fixamente naquele silêncio vergonhoso por segundos quando Sherlock levanta da minha poltrona olha para baixo se aproxima e me abraça com o toque mais verdadeiro que já recebi dele, eu o abracei de volta.

Sherlock— Desculpe-me John, me desculpa
Ele falou com uma voz baixa no meu ouvido, enquanto ainda estávamos abraçados
John— ........ tudo bem

Sherlock tirou o rosto do meu pescoço e me olhou diretamente nos olhos, naquele momento eu conseguia ver seus olhos azuis como nunca antes, os cachos chegando a tocar meu rosto de tão perto que nós estávamos, eu sentia sua respiração, num primeiro momento ofegante, mas depois foi acalmando, como ondas do mar. Neste momento eu me perdi no olhar dele, a pele branca, os olhos azuis com tons de verde, os cachos morenos, suas bochechas rosadas como de quem tem vergonha e, e... sua boca avermelhada.

Naquele momento eu senti o que nunca tinha sentido antes, conseguia sentir borboletas por todo o meu estômago, preenchendo o cômodo, o nervosismo e a ansiedade tudo misturado com a vontade e felicidade como se aquele nosso momento fosse nosso e apenas nosso, como se o mundo tivesse parado, como se por uma fração de tempo no mundo só existisse eu e e ele. John Watson e Sherlock Holmes.

-Heloísa Monteiro

querido dr. watsonOnde as histórias ganham vida. Descobre agora