4 || As pequenas coisas

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A viagem até a casa de Merlin foi tensa. Arthur olhava com espanto para literalmente tudo. Desde o asfalto da rua até as casas. Ele estranhou até mesmo o cachorro da sua vizinha, que usava uma roupinha cor-de-rosa.

Isso sem falar da garota que morava na casa ao lado. Ela parecia distraída, mas quando esbarrou neles, ficou parada com a expressão de puro choque, que parecia refletir a de Arthur enquanto os dois se encravam. Merlin optou por fingir que nada estava acontecendo e, felizmente, a garota estava com pressa e saiu correndo antes de perguntar qualquer coisa. Ele teria dado risada da situação se aquele não fosse o pior momento possível. Arthur estava quase surtando.

Merlin abriu a porta de sua casa rapidamente, e empurrou o rei para dentro, ambos finalmente respirando fundo. Arthur olhou em volta da sala de estar de Merlin. Um sofá, uma mesa de centro, uma televisão de tela plana. Uma casa completamente comum. Era proposital, afinal, nunca se sabe quando uma vizinha intrometida vai aparecer. Mas o local não era nada comum para Arthur.

Apesar disso, ele se jogou no sofá e soltou um suspiro trêmulo.

— Tudo bem por enquanto ? — Merlin indagou, cauteloso.

Arthur apenas assentiu. Ele não estava bem. Nem um pouco. Merlin percebeu, mas não insistiu na pergunta. Ao invés disso, foi até a cozinha e voltou com um copo de água, que Arthur bebeu rapidamente.

— Eu sei que parece muito confuso agora... mas você vai se acostumar. — Merlin disse calmamente — Vai levar um tempo mas... você vai se acostumar. — Merlin tentava se convencer tanto quanto à Arthur.

— Por que Merlin ? — o rei perguntou após alguns minutos de silêncio, e Merlin se sentou numa poltrona à sua frente.

O mago franziu as sobrancelhas.
— Por quê...? O quê?

— Por que eu estou aqui ? Não faz sentido para mim... — Arthur parecia estar pensando alto enquanto olhava fixamente para os próprios pés — Estou fora do meu tempo, Merlin. Eu não entendo nada desse mundo. Não posso ajudar ninguém. Não há mais Camelot para governar, não há mais nada. Por que a magia me traria de volta ? O que alguém como eu pode fazer de útil aqui ? — Arthur finalmente o encarou, suplicante, e Merlin sentiu seu coração apertar quando percebeu que não tinha uma resposta concreta para aquilo.

Tudo que ele sabia era que deveria confiar na magia, que as profecias sempre se cumpriam. Mas ele mesmo não duvidou dela depois daqueles anos todos? Ele mesmo já não havia pensado que era louco depois de tantas pessoas durante os séculos afirmarem que nada daquilo havia sido real? Ele não sabia o que fazer depois que Arthur retornasse. Talvez ele não esperasse realmente que ele voltasse. Merlin afastou esse pensamento.

— Eu não sei, Arthur. — ele começou, devagar — Mesmo depois de todo esse tempo eu não tenho todas as respostas. Mas eu sei que tudo possui um fim. E sei que não podemos desistir de algo só porque não o vimos ainda.

Arthur encarou o mago, a expressão em parte confusa, em parte outra coisa. Admiração? Surpresa? Merlin não soube dizer o que era. Então ele apenas continuou.

— Talvez você não saiba o motivo agora, mas talvez valha a pena esperar para entender tudo. — ele colocou a mão sobre o ombro do amigo — E, por experiência própria, o futuro pode te surpreender — ele acrescentou com um meio sorriso.

Arthur soltou um suspiro trêmulo, tentando se recompor e devolver o sorriso. Tudo estava diferente, mas aquilo não. Aquela parte de Merlin ainda era a mesma, ele sabia. Apenas aquele idiota o faria sorrir em um momento tão ruim. Mas Merlin estava diferente. Talvez fosse o jeito de falar, com mais confiança, ou talvez fosse seu olhar, que parecia estar escurecido, como um carvalho antigo. Como se aqueles olhos já tivessem visto muita coisa. E ainda assim, Merlin era o Merlin. E Arthur sabia que poderia confiar sua vida a ele em qualquer momento.

Merlin: The Once and Future (pausado)Onde histórias criam vida. Descubra agora