3 || Mundo novo, memórias antigas

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  Arthur acordou de um pesadelo. O povo de Camelot sendo atacado e morto, os exércitos do reino perdendo a batalha, Gwinevere, Leon, Gaius, todos seus conhecidos morrendo e ele não podendo fazer nada.

  Ao acordar, o terror não se foi totalmente. Todos seus conhecidos haviam realmente partido. Todos estavam mortos. E ele não esteve lá quando precisaram dele. Arthur conteve um tremor e olhou para o corpo sonolento de Merlin em uma cadeira perto dele.

  O rei levantou, tentando não fazer barulho, e saiu da sala. Ele caminhou pelos corredores do castelo. Viu todos os cômodos que ele conhecia de cor até chegar em seus antigos aposentos. Quando entrou, visualizou os móveis diferentes e a parca luz que entrava pela janela. Havia uma mesa no mesmo lugar da antiga, apesar de parecer diferente da que ele se lembrava. Ele se apoiou ali. Era como se estivesse anestesiado pelas informações.

  Ele apenas ficou ali, deixando sua mente vagar enquanto olhava para o quarto. Ele andou até o outro lado da mesa arrastando os dedos pelo móvel. E, então, ele notou algo. Aquele era o primeiro cômodo que não tinha pó nos móveis. O piso também estava limpo. E ele não havia tocado em nenhuma teia de aranha ao abrir a porta. Havia um cheiro de flores no ar que ele só se permitiu sentir naquele momento.

  Ele ficou alerta na mesma hora. Alguém havia limpado o lugar ? Um quarto qualquer num castelo abandonado ? Para quê ?

  Ele se lembrou de quando Merlin limpava seus aposentos. Um mago poderoso, fingindo ser apenas um servo do rei durante todo aquele tempo. Arthur não pôde imaginar quantas vezes ele foi tolo de não notar aquilo. Quantas vezes Merlin salvou sua vida e não recebeu nenhum reconhecimento.

  Merlin havia limpado aquele lugar ? Depois de tanto tempo ele poderia ter sido o único a pisar ali. E provavelmente era único a ter motivos para ir até ali. Arthur suspirou com a quantidade de pensamentos de uma só vez.

  E então ele teve um flash de esclarecimento. Merlin esteve ali por todos aqueles anos. Novecentos anos de vida. Ele viu pessoas nascerem e morrerem várias e várias vezes e continuou ali. Ele viu cada um dos seus amigos morrerem. Ele viu Camelot cair. Em quantas batalhas ele lutou ? Quantos ele viu morrerem ? Quantos reinos caíram sob seus olhos ?

  Arthur passou a mão pelo rosto, trêmulo. Seu amigo ainda era o mesmo depois de tanto tempo ? Poderia ser ?

  Ele respirou fundo e tentou controlar os pensamentos mais uma vez. Ele saiu do quarto e voltou para a távola redonda. Mas Merlin não estava mais lá. Mesmo assim, Arthur não se preocupou. Ele encontrou o amigo minutos depois, nos antigos aposentos do médico do palácio.

  A antiga casa de Merlin não estava tão limpa e organizada quanto os aposentos do rei, mas ainda era a mesma. Tirando pelos móveis, é claro. Tudo ali dentro era uma bagunça, e parecia que o cômodo havia sido usado como um depósito.

  — Você está bem ? — Merlin perguntou ao se virar para encarar Arthur, que parou na porta.

  O rei imaginou se Merlin usava a magia o tempo todo e se assim pôde sentir ele se aproximando. Ele ignorou esse pensamento.

  — Eu não sei. — ele respondeu sinceramente e cruzou os braços, se apoiando no batente da porta e olhando para o chão — Mas acho que vou ficar.

  Merlin assentiu e se aproximou dele.

  — Acho melhor sairmos daqui. — ele falou — Muita coisa mudou lá fora. Mas é melhor ficarmos em um lugar onde tenhamos autorização para estar.

Merlin: The Once and Future (pausado)Kde žijí příběhy. Začni objevovat