Se sentando sobre a balaustrada reforçada do navio e ajeitando seus óculos juntamente aquele derivado de focinheira que lhe garantiria o ar lá embaixo sobre o rosto, a capitã  do Nostradamus saltou em direção ao seu chamado no mar.

Uma das melhores partes sobre o mergulho era toda beleza indescritível encontrada sob o oceano, a imensidão de verde e azul, as diversas espécies de peixes e criaturas, os corais e a vegetação sortida, graciosidades inominaveiz que ela não tinha tempo para apreciar agora. Nadando cada vez mais fundo, tudo que podia sentir era o cântico do tesouro misterioso que parecia emitir um melodia cantada apenas para ela, passando por diverso espectros das águas marinhas que batiam nela apenas por diversão, Thalassa notou um reflexo cintilando entre montes e montes de algas e posidonias oceânicas, seu maior medo era que seu tempo acabasse antes de chegar ao prêmio final; mas para qualquer fim ela nunca desistia  de um tesouro.

Quando estava perto o suficiente para discernir que o brilho que via era o cabo de uma espada, uma mão com garras afiadas o suficiente para rasgar pele se agarrou ao seu pescoço jogando-a para trás, a dor que sentiu em seu belo pescoço era gritante mas nada maior que sua determinação. Merda, ela havia se esquecido que objetos fatalmente atraentes também são fatalmente protegidos. Tirando da bainha a adaga que havia prendido na coxa antes do mergulho, a jovem encarou as três nereides que agora à cercavam com garras e presas evidentes.

A da esquerda começou a resmungar algo em um idioma desconhecido com uma típica expressão de quem quer dizer 'eu vou te decapitar', e então avançou com tudo na direção da capitã que dessa vez estava preparada. Desviou para o lado a tempo de armar o golpe que pegou infalivelmente a nereide direto no coração, deixando a pobre criatura marinha se engasgando no próprio sangue ela se preparou para a próxima quando percebeu que só havia uma em sua frente.

Tarde demais. Foi tarde demais quando ela percebeu que a nereide desaparecida agora se encontrava atrás dela lhe arranhando as costas ao ponto de rasgar todo tecido de sua roupa reforçada, era demais a dor do pescoço que agora se juntava a das costas esfoladas pelas brutais garras da mulher peixe. Se virou com o resto de sua determinação agarrando-lhe a mão que estava preste a dar mais um golpe e dessa vez  soltou a machadinha que se encontrava em seu quadril, não dando tempo da nereide questionar que aquele era o fim da sua miserável existência, a capitã arrancou a cabeção de seu pescoço deixando apena um cotoco em seu lugar.

Se preparando para o golpe da última delas, Thalassa encarou a mulher percebendo seu medo sobressaindo a pose ameaçadora, não dando tempo ao arrependimento se lançou em direção a jovem atravessando a adaga em seu olho enquanto arrebata a seu estômago com a machadinha já ensanguentada, a última reação da criatura foi arregalar os olhos.

Porra, quanto tempo tinha passado? Não tinha uma ínfima ideia, havia se perdido na contagem. Sem dar mais chances ao azar, a garota recuperou suas armas e se lançou em direção ao cabo da espada que ainda tremeluzia entre as posidonias, ignorando toda dor aumentada em 100 pela água salgada. Cortou toda vegetação que atrapalhava sua busca e quando finalmente a viu o ar lhe faltou,e não ou por conta do oxigênio.

Ela segurou no cabo e sentiu o peso da espada percebendo que ela transbordava magia. Era magnífica, a impressão era de que era perfeitamente equilibrada como se a lâmina estive esperando por uma pirata saqueadora lhe reivindicar desde a criação. Seus minutos estavam acabando, então não havia tempo para desembainhar a espada e apreciá-la mais. Enquanto andava de volta lutando contra dor, a capitã se lembrou de um boate que haviam lhe contado tempos antes.

Uma Grã-Rainha que governou por cinquenta anos certa vez encontrou uma espada mágica usada antes pelos Grãos-Reis Supremos de Prythian e teve a tola esperança que a lâmina se curvaria também a ela. Tolo erro. Quando a lâmina não se submeteu à mulher, sua ira à fez jogá-la no mar se perdendo para sempre. Enquanto seu pensamentos nadavam junto a Thalassa a jovem percebeu que estava cada vez mais difícil nadar, a espada se tornava mais pesada em seu cinto.

Seus braços estavam cansados, seu ar estava começando a faltar e ainda tinha muito o que nadar  pela frente. Valia a pena? Arriscar sua vida por algo que colocaria sua vida em risco, valeria a pena no futuro? Perder todos seus outros tesouros por um?

Questionamentos  não devem ser feitos em situações de vida ou morte, Makaela percebeu isso quando seus olhos pesaram junto a lâmina e tentaram se entregar a escuridão. Era tarde demais, tarde demais para garita se arrepender de sua insaciável ambição, tarde demais para perceber que não se despediu de sua tripulação e definitivamente tarde demais para se lembrar que Trovard iria atrás dela após os 40 minutos acabarem.

Quando sentiu braços musculosos abraçá-la, a jovem Capitã do Nostradamus já tinha se contentado com seu destino.



O Sol batia em sua pele enquanto espelia toda água para fora no chão do dequee. Ela confessava que tinha talento para o drama achando que iria morrer, mas porra, a mulher realmente achou que iria ver o rosto da Mãe. Não era sua culpa que a falta de oxigênio fez ela se esquecer que Trovard iria estar lá por ela. E agora olhando para seu rosto severo, ela sabia que o esporro seria feio.

— Burra, você é uma burra do caralho Thalassa Makaela. Eu falei, me chame caso veja que seu tempo está acabando e você faz o que? Isso mesmo, decide bancar a dramática e morrer agarrada a uma porcaria de uma espada velha — enquanto Trovard berrava e gesticulava para a mulher sendo assistido por toda tripulação, ela se deu conta que não estava com a espada..

— Pelo Caldeirão, cadê ela? Você a trouxe, certo? Por favor não me diga que deixou a espada para trás? — Ela não permitiu que ele terminasse seu monólogo sobre sua irresponsabilidade, interrompendo seu imediato e recebendo um peteleco na orelha por isso.

Não criança tola, nem se eu quisesse poderia ter deixado para trás, já que você se agarrou a espada como se fosse um eunuco agarrado a uma meretriz — puxando o objeto ainda embainhado de trás do corpo e entregando a capitã que pegou a espada, se levantou e correu para sua cabine particular ignorando toda a dor no corpo, o homem logo passou a segui-la.

Após  esperar seu imediato entrar na cabine, a jovem lacrou todas as seis trancas e depositou a espada sobre sua mesa de estudo.

— O que está acontecendo Makaela? — dessa vez o tom de voz de Trovard estava transbordando preocupação enquanto alternava o olhar entre a capitã e a malditamente bela espada que agora estava fora da bainha.

Trovard... Eu... Eu posso estar enganada, mas eu apostaria o Nostradamus e todo os  meus tesouros que essa espada é... é... é Narben. A espada mágica que Amarantha jogou no oceano.

Corte de Sombras e Marés Where stories live. Discover now