☾ O guerreiro se encontra com a lua ☽

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Naquela noite, a floresta tão comumente agitada, se encontrava em perfeita calmaria. Não tinha ruídos desagradáveis vindo do poço ou bambus balançando de um lado para o outro, mesmo que nuvens densas cobrissem parcialmente o céu, não havia vento.

Num espaço onde folhagens cobriam o chão, estilhaços de madeira voavam quando o machado afiado de um homem colidia com pequenos troncos. Jeongguk, cansado de um dia cheio de estresse causado por discussões com familiares de segundo grau, resolveu sair para cortar lenha ao fim da tarde, mas, absorto em pensamentos, permaneceu horas incontáveis com o machado na mão. Aquecido pela adrenalina, não notou o tempo ruim e nem o sereno descansando sobre suas costas.

Gostava de todo o silêncio daquele lugar, apreciava a solidão. Era um homem adulto, cheio de frustrações, talentos inexplorados e com uma alma de guerreiro. Era o seu refúgio se perder em meio às árvores e encontrar a saída sozinho dias depois.

O distante lhe soava bem, ficar perdido lhe soava melhor ainda.

Sabia dos riscos ao ficar de peito despido numa noite fria, poderia ficar resfriado, pegar uma pneumonia ou sofrer com seus frequentes ataques de asma, mas não se importava tanto assim — sua alma de guerreiro, entretanto, tinha também os males, um deles, a arrogância.

Deixou, por um momento, de destruir os troncos para apreciar a lua. Os seus olhos negros buscaram pela esfera iluminada no céu. E ela estava lá, toda brilhante entre as nuvens. As estrelas estavam escondidas, invisíveis, mas a lua, com sua luz emprestada, se exibia.

Esse era um dos motivos pelo qual Jeongguk detestava a lua. Segundo ele mesmo, a lua não tinha princípios, usava o clarão de outro alguém para poder iluminar, pois na verdade, ela era apenas algo rochoso e apagado.

Também não gostava da noite, não gostava do escuro. Gostava do dia, do sol e de ver tudo ao seu redor sem precisar de um lampião velho e enferrujado.

Muitos tinham a ideia de que ele apreciava a noite, porque era tão calado que se assemelhava a ela. Mas estavam errados! O dia era o seu favorito, especialmente a parte da manhã, quando o orvalho descansava sobre as plantas.

Admirava o sol, que sem precisar de ninguém, iluminava a Terra. Era confiante, queimava sem parar e todos precisavam dele. O sol era magnífico, enquanto a lua, em sua concepção, era apenas uma reles aproveitadora, que mesmo agraciada por muitos, não era capaz de brilhar sozinha.

Finalmente, cansado do peso do machado e dos calos se formando nas mãos, abandonou o objeto, procurando pelo seu robe e o trazendo de volta ao corpo. Como não estava tão distante da casa de seus pais — onde estava hospedado —, colocou alguns pedaços de madeira nos braços e recolheu o lampião, rumando para o caminho que o levaria até lá.

No caminho, observava atento as árvores, e sentia ainda mais ódio da lua. O topo das árvores era iluminado, enquanto abaixo delas, a escuridão prevalecia. A lua era assim, gostava de mostrar sua beleza e queria que todos a olhassem, sem se importar com o que havia escondido.

No entanto, ao reparar um pouco mais longe, os seus olhos captaram um pequeno espaço da floresta onde a luz era mais forte. Não haviam moradias por perto, o vilarejo ficava para o outro lado e ninguém costumava caminhar pelos arredores tarde da noite. Talvez fosse apenas a lua refletida na água cristalina do riacho que passava por ali, mas, contrariado pelas próprias imaginações, resolveu mudar o seu rumo.

Ao se aproximar notou uma silhueta sobre uma rocha.

A lua, aquela maldita lua, iluminava alguém.

O corpo pequeno estava nu, apenas um véu branco cobria o quadril. O cabelo curto balançava com o pouco vento e a pele pálida brilhava sob aquela luz. Não acreditava em divindades, mas naquele momento, questionou a existência delas.

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2021 ⏰

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