15 - Cicatrizes

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 - E esta? – Ellie perguntou enquanto passava os seus dedos pela barriga de Dina, tocando de forma cuidada numa cicatriz comprida.

- Bem, esta fiz quando tinha doze anos.... – Dina riu.

Dina estava deitada de barriga para cima, de braços abertos apoiando a sua cabeça, enquanto Ellie ia analisando o seu corpo moreno milímetro por milímetro. Ambas vestiam apenas cuecas.

- Doze?

- Sim, estava a brincar com o filho de uma senhora que trabalhava para o meu pai... ele trouxe um skate para o rancho... bem, sempre fui meia corajosa, experimentei e cai.

- Isso foi por cair de um skate? Parece grande de mais.

- Oh, não, quer dizer, sim, caí do skate, mas caí em cima da minha faca.

- Aaah! – Ellie riu. – Isso faz mais sentido, sim senhora!

Lá fora começava a amanhecer calmamente. Alguns raios de sol surgiam por entre as frinchas da madeira velha e seca.

- Aiii... – suspirou Dina tapando o seu rosto com as mãos. – Queria ficar assim para sempre.

Ellie não respondeu imediatamente, ela também queria ficar presa naquele momento para sempre, mas simplesmente não podia. Começou a pensar em tudo, em como a maioria das vezes parecia que Dina gostava dela mas ao mesmo tempo em como poderia estar só a empata-la para arrastar todo o negócio. "Porque uma morena destas se haveria de interessar por mim?!"

- Sabes, acho que isto não faz muito sentido. – Ellie desabafou. Sentou-se com os joelhos dobrados à sua frente.

- Como assim? – Dina parecia confusa sentando-se.

- Isto! – Ellie apontou para Dina e para si mesma. – Nós não fazemos sentido... nem podemos... Eu não sou daqui nem posso ficar cá, tenho uma vida na cidade. E tu? Tu tens tudo isto...

- Olha Ellie, tu é que não estás a fazer sentido... – Dina baixou a cabeça. – Não te entendo, juro! Ontem perguntaste-me o que é que eu queria, mas agora pergunto-te eu, o que é que tu queres?

- Eu só queria chegar aqui, fazer o negócio e ir embora...

- Então isto, como tudo dizes, foi só uma maneira de chegares mais rápido ao negócio? Queres que te venda o rancho e pronto, vais embora e nunca mais voltas? – A morena estava chateada.

- Digo-te o mesmo, isto... – Ellie levantou a voz. – Fizeste de tudo para me impedir de te querer comprar o rancho? Achaste que me enganavas de maneira a eu ganhar sentimentos por ti e já não te querer comprar nada... Tu... Tu nem gostas de raparigas, porque te ias interessar por mim?

- Ellie, esquece! – Dina levantou-se. Começou-se a vestir apressadamente, sempre com a cabeça baixa impedindo que Ellie visse as lagrimas que lhe corriam pelo rosto. – Vamos embora!

- Dina... – Ellie tocou-lhe no braço, mas esta afastou-o logo com um movimento brusco. Nem lhe conseguia olhar na cara.

Imediatamente, Ellie sentiu arrependimento por ter começado a falar do assunto. Tinha estragado tudo... Desistiu de tentar falar com Dina até porque nem havia muito a dizer, não queria pedir desculpa pois, no seu íntimo, achava que tinha razão, mas ao mesmo tempo, nunca pensou que Dina ficasse tão chateada. Vestiu-se, pegou na manta que estava no chão e dobrou-a.

- Vamos? – Questionou Dina enquanto montava o seu cavalo castanho.

Ellie não respondeu, apenas subiu para o seu cavalo e seguiu-os.

Estava uma manhã calma. O cheiro a terra molhada acalmava Dina portanto o passeio de regresso estava-lhe a saber bem depois da discussão. A morena sentia-se com um enorme vazio por dentro. Ia calada, perdida nos seus pensamentos: "Como é que ela pode dizer aquelas coisas?! Depois de tudo...". Estava demasiado magoada para falar. Ellie tentou meter conversa uma ou outra vez durante o caminho, mas nenhuma das vezes obteve resposta.

Já perto do rancho, Ellie ouviu algo a tocar. Era o seu telemóvel que estava no bolso, o qual já não lhe mexia há um bom tempo. Abrandou Shimmer e atendeu.

- Desculpa, tenho de atender. – Pediu Ellie, mas Dina nem abrandou, simplesmente continuou o seu caminho. – Sim!?

- Então Ellie? Que se passa por aí? – Do outro lado, a voz de Riley parecia nervosa. – O conselho começa a ficar ansioso.... Têm feito perguntas. Há novidades?

-Riley, o aeroporto ainda está fechado... e a Dina ainda não está pronta para aceitar a nossa oferta.

- O que é que ela quer? – perguntou. – O que não lhe agrada na proposta? Ela não tem muito por onde escolher. É dinheiro que ela quer?

- Bem, na verdade ela não está interessada em vender. Não é uma questão de valores monetários, mas de valores morais.

- Isso não é bom Ell, não me está a agradar a conversa. – Riley suspirou. – Talvez precise de adoçante no contrato.

- Riley, o contrato é doce o suficiente. – Ellie colocou uma mão na cabeça inclinando-a para trás. – Só preciso que mantenham o conselho calmo durante mais algum tempo.

- Mais tempo? Maaais tempo?

- Ligo-te depois, ok? Eu estou a perder a rede, o sinal por aqui é péssimo, mas eu mantenho-te informada, não te preocupes.

- Ellie, espera... Eu... – Riley tentou chamar pela chefe, mas esta já tinha desligada.

- Dina...- Ellie gritou e cavalgou o mais rápido que pôde para a alcançar. – Espera!

Dina abrandou: - Diz...

- Podemos falar antes de entrarmos?

- Falar o quê? Tu já disseste tudo... – Dina olhou Ellie nos olhos, os seus olhos vermelhos e inchados denunciavam-na.

- Nunca te quis magoar. – Ellie ficava destroçada ao ver o rosto de Dina naquele estado.

- Disseste o que sentias... entendi tudo, não há mais nada a dizer Ellie. – Dina estava seca, as suas palavras pareciam pedras. – Vamos entrar, eles devem star preocupados connosco. – e seguiu.

Quando chegaram ao celeiro, Lev veio a correr chamando Abby.

- Meninas, como estão? Estávamos preocupados. A Abby nem dormiu... – Lev tinha um brilho no olhar. – Devem ter fome... como estão?

- Está tudo bem. – Dina desmontou Callus, foi abraçada por Abby. – Encontramos o antigo armazém do meu pai e ficamos lá até a chuva acalmar.

- Ellie, que aventura, ein?!

Dina foi arrumar o seu cavalo que estava esfomeado. Enquanto lhe fazia festas, ele ia comendo rapidamente. Ellie desmontou Shimmer e Lev levou-a também para junto dos outros cavalos.

- Está tudo bem, Ellie? – Abby perguntou pois reparou que algo se passava.

- Sim, acho que vou tomar um duche. – Ellie tinha um olhar cabisbaixo.

- Claro, vai a vontade. Devem estar cansadas. E Ellie... – Abby abraçou-a. – Fico feliz que estejas bem, já és família.

Ellie retribuiu o abraço meio de forma estranha, pois o seu jeito de demonstrar sentimentos era do pior. Dirigiu-se em direção à casa de hospedes ansiosa por um bom duche quente.

Quando chegou a casa, despiu-se imediatamente entrando no duche. Apercebeu-se que cheirava a Dina, todo o seu corpo tinha um cheiro doce, diferente do habitual, um cheiro que lhe causava saudade, mas ao mesmo tempo uma dor forte no peito. "Como pude ser tão burra"

Woodward RanchOnde histórias criam vida. Descubra agora