11 - Noite Estrelada

121 11 0
                                    

- Até que enfim, menina da cidade! – Exclamou Dina, abrindo um sorriso de orelha a orelha, quando viu Ellie. – Preferes tinto ou branco? Ou whiskey? Também temos disso aqui.

Em cima da mesa estavam umas garrafas de vinho meias empoeiradas, com rótulos coloridos. Duas delas já abertas, mas não vazias. Havia música de fundo no ar, vinda de um pequeno rádio antigo.

- Pode ser tinto.

Dina prontamente lhe serviu um copo bem cheio. Ellie abanou-o no ar, fingindo-se de entendida. Sentiu o seu aroma frutado e intenso que fazia lembrar frutos vermelhos frescos.

- Esse é muito bom. – Disse Lev já bem corado nas bochechas. – A Dina foi busca-lo especialmente à adega, hoje. – Dino corou um pouco.

- Têm uma adega? – perguntou Ellie enquanto bebia um gole. – Que bonito! A mim só me mostram o celeiro e o campo com uma adega mesmo aqui ao lado.

- Jogamos? – questionou Abby começando a baralhar as cartas. – Ellie, fazes par com a Dina, ok?

Ambas trocaram olhares entre si e fizeram ar triunfante. – Claro que sim!!!

A noite estava a correr lindamente. Ellie não se sentia tão divertida desde... na verdade, não se lembrava da última vez que se sentiu assim tão divertida. Mesmo quando era pequena, era uma criança tensa e séria. Gostava de passar tempo sozinha no seu quarto a ler livros de banda desenhada enquanto ouvia música. Teve uma ou outra amiga, mas nada de duradouro.

- Ganharam mais uma vez... - Suspirou Dina, bebendo um copo quase todo de uma vez. – Já é a terceira vez!

Lev abraçou Abby, levantou-se e fez uma vénia. – Sabes como é! Ninguém para este casal! – Sentou-se de imediato pois, ficou um pouco zonzo.

- Ai para sim. Pelos vistos já bebeste que chegue por hoje. – Afirmou Abby com ar repreendedor. – Aliás, vocês os dois! – apontou para Lev e Dina. – Sempre os mesmos... - levantou-se. - Acho que vou para a cama.

- Vamos, amor! Eu acompanho-te. – Lev levantou-se logo de seguida. – Boa noite meninas, juízo!

Ambos entraram no chalé, deixando Dina e Ellie a sós. Dina recostou-se na sua cadeira fechando os olhos por uns segundos. O céu estrelado iluminava-a de uma forma que Ellie não conseguia explicar.

- Foi uma noite divertida. – Falou Ellie, quebrando o silencio. – Mas acho que vou indo.

- Já? – Dina fez um ar de desiludida. – Ainda é cedo... - Levantou-se rapidamente, bebeu o resto de vinho que sobrava no seu copo e puxou Ellie por uma mão dirigindo-a até à beira do ribeiro que percorria todo o rancho.

Ellie estava estática sem perceber bem o que se passava até que Dina se virou de frente, colocando as mãos de Ellie em redor da sua cintura. Estavam muito próximas, tão próximas que Ellie conseguia sentir a respiração de Dina no seu rosto.

Dina esticou os seus dois braços em redor do pescoço de Ellie e começou a dançar calmamente, olhando Ellie olhos nos olhos, sempre com um pequeno sorriso nos lábios.

- Tenho uma pergunta muito séria para te fazer. – Começou Dina enquanto conduzia Ellie numa dança calma ao som da música que se ouvia lá ao fundo. – Cheiro muito mal?

Ellie riu. Cheirou o pescoço de Dina. – Huum, cheiras que nem... um monte de lixo!

- Oh, ok.... – Dina esfregou a sua bochecha na bochecha de Ellie. – E agora?

- Aaaaah, que nojo. – Ellie fez cara de nojo ironicamente, mas riu.

- Bem, agora já cheiramos as duas a um monte de lixo... - Dina riu. – Acho que já te podes aproximar mais. – Deitou a sua cabeça no ombro de Ellie, sem nunca parar de dançar lentamente.

Ellie estava sem reação, apenas se deixava conduzir na dança de Dina. Todo aquele momento fazia o seu coração estremecer. A respiração de Dina no seu pescoço fazia-a, quase, perder os sentidos. Observou tudo o que as rodeava, desde o correr calmante do riacho até à mais pequena brisa que abanava os galhos das arvores, tudo parecia fazer sentido. Sentia-se a levitar.

- Acho que estou a começar a gostar do Texas. – disse Ellie baixinho.

Dina levantou a cabeça – Não tens porque não gostar. – Olhou-a nos olhos, passou uma das mãos no rosto de Ellie, sorriu-lhe. – Isto aqui é especial... tu és especial.

- Eu? Estás bêbada... Ambas sabemos que bebeste demasiado, hoje.

- Até posso estar, mas... - colocou uma mecha de cabelo de Ellie atrás da orelha e voltou a passar a sua mão pelo rosto da ruiva. O luar fazia o cabelo castanho avermelhado de Ellie cintilar, refletindo a sua pele clara, dando enfase às sardas que percorriam todo o seu rosto e desciam pelo pescoço. – És realmente especial.

Aproximou-se de Ellie, puxando o rosto dela contra o seu. Os lábios tocaram-se e Dina pode sentir uma onde de eletricidade que vinha desde o corpo de Ellie até ao seu.

Inicialmente Ellie não sabia o que fazer. O beijo foi calmo, aliás, foi apenas um pequeno toque de lábios, foi tão rápido que Ellie nem teve tempo de reagir ficando apenas parada de olhos abertos. Quando finalmente caiu em si, fechou os olhos, agarrou a cintura de Dina com força e puxou-a contra si. Um segundo beijo explodiu, agora muito mais profundo, seguido de um terceiro e até um quarto. Dina passava as suas mãos desde o pescoço de Ellie até aos fios do cabelo desta.

Dina abriu os olhos, sorriu para Ellie, aquele sorriso apaziguador, mas nesse momento Ellie largou-a e afastou-se.

- Tenho de ir, boa noite! – Exclamou quase aos berros. Dirigiu-se até ao seu quarto, deixando Dina sozinha, parada junto ao riacho.

Quando entrou no seu quarto, fechou rapidamente a porta atrás de si e encostou-se nela. Cerrou os olhos por um momento. Sentia todo o seu corpo estremecer e parecia que o mundo estava à roda.

"Nada disto podia acontecer", pensou, "não faz sentido ela ter namorado com o Jesse e agora estar interessada em mim. Não pode haver sentimentos se quero fechar este negócio. É muito baixo da parte dela, tentar-me enrolar com um beijo só para ver se desisto da compra"

Estava demasiado cansada, tirou as calças e deitou-se na cama apenas com as cuecas e o top que já trazia vestido, top esse em que se podia sentir o cheiro doce de Dina.

O pensamento de que Dina a poderia ter beijado apenas para a fazer desistir da compra do rancho, deixava-a irritada e um pouco nervosa mas lá acabou por adormecer com a recordação das borboletas na barriga que tinha sentido durante todo aquele momento. 

Woodward RanchWhere stories live. Discover now