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Tetsuro Kuroo...

Assim que chego a porta do quarto do ser inconveniente, abro a mesma sem grandes ensaios, e sou recebido por uma quantidade considerável de sacolas amontoadas próximas a entrada.
- Mas o que... - olho para o loiro jogado na cama, com o celular nas mãos e o barulho familiar do jogo.
- Kuroo - ele nem sequer desvia o olhar da tela, ajeita seu corpo se apoiando na parede atrás de si enquanto se senta- O que você me pediu está aí no chão.
    
Olho para todas aquelas coisas e franzo a testa.
- Como você quer que eu ache alguma coisa nessa bagunça? Vai se mudar e está comprando coisas novas?
- Não... fui no centro comercial com o Hinata hoje.
- Sabe, gostar dele te deixa meio estúpido demais, onde se viu gastar tanto com coisas que não precisa só para complementar um programa com alguém- falo enquanto ando até a cama e me jogo ao seu lado, assim que meu corpo bate no lençol, a cama se mexe e o Kenma larga o celular o deixando ao seu lado, assim que me encara vejo o olhar de desconforto em seu rosto.
- Cuida da sua vida- rio.
- Eu estou cuidando, me preocupo com você.
- Dispenso essa preocupação - derrepente a expresso severa ganha um meio sorriso que me faz estremecer- Não é como se você tivesse muita moral para me falar de ser estúpido quando se gosta de alguém. Pelo menos, eu não tenho interesse em alguém comprometido.
    
O sorriso em meu rosto morre por completo e engulo em seco.
- O que você está falando? Eu já não estou nem aí para ele.
- Certeza? - o loiro se aproxima do meu rosto com os olhos cerrados, o empurro levemente com o ombro me afastando, um meio sorriso curvado no canto de meus lábios.
- Onde está o produto milagroso que vai me ajudar com as olheiras?
    
Ele se arrasta até a ponta da cama antes de se levantar, com passos arrastados caminha até o conjunto de sacolas.
- Deliberadamente mudando de assunto - abro um sorriso e estico o braço pegando o travesseiro, assim que o Kenma se vira, jogo o mesmo em um movimento rápido, vejo o objeto cortar o ar e quando está a milímetros do alvo, é parado por dedos finos e delicados mas ao mesmo tempo dotados de uma precisão surpreendente.
    
Vejo ele colocar seu rosto para o lado, revelando um olhar de desdém, não preciso nem olhar para sua boca para saber o tipo de sorriso que ele deve estar estampando nesse momento.
- Precisa mais que isso para me pegar desprevenido- ele joga o travesseiro até a cama, eu o pego no ar antes de colocar em minha perna. Abro um sorriso.
- Eu sou tão bom capitão que você consegue pegar as coisas até em um ataque surpresa. Você deveria agradecer a mim por te treinar tão bem.
    
Ele balança a cabeça em negação, logo se abaixa e começa a vasculhar os produtos. Penso que essa ação tomará um pouco de tempo, então apenas apoio meu rosto em minhas mãos e encaro atentamente o loiro, mantendo meu olhar fixo em cada movimento, desde seus dedos até seu belo rosto. Suspiro levemente.
    
Não gosto da sensação de impotência de não poder falar alguma coisa decente para ele, quando se trata desse amor secretamente unilateral que invade seu peito quando se trata do Hinata. Não muito tempo atrás eu era o destruído, vivendo na base de uma ilusão de poder ter algo mais concreto com a pessoa que tomou meu coração em um ato de luxúria, mas não tão surpreendente... era o famoso caso de quando você sente que aquela é a pessoa certa, mas a pessoa em questão não pensa o mesmo de você.
    
Acho que se não fosse pelo calor da amizade do Kenma eu não teria me recuperado tão rápido, talvez eu ainda estivesse chorando pelos cantos silêncios, se não fosse pelo seu apoio e as palavras que na época me cortaram como lâminas, mas que hoje entendo terem sido necessárias.
     
Mas, infelizmente eu não sei fazer o mesmo por ele. Não consigo dizer as coisas que devo, é como se eu me tornasse um completo idiota nos momentos de maior importância, tudo que posso fazer é provoca-lo até que ele ria, ou segurar seu corpo em meus braços quando ele chora, mas nessa última situação, meus lábios permanecem selados durante todo o tempo. Eu nunca sei o que dizer, e não estou certo que minhas ações sejam suficientes. As palavras possuem muitas lacunas, tem alguma coisa de vazio nelas, mas acho que sua ausência pode ser ainda mais miserável que isso.
- Achei- a voz animada do Kenma me tira de meus devaneios, e quando volto a realidade, vejo seu sorriso orgulhoso enquanto segura uma sacola em suas mãos- Eu comprei alguns dos produtos que achei que poderiam ser bons para você usar.
- Valeu - me levanto e ando até ele pegando a sacola.
- Amanhã você me paga com um almoço.
     
Uma risada leve sai de meus lábios.
- Como você tem a audácia de me pedir um retorno? Eu praticamente vivo pagando as coisas para você quando saímos juntos - ele dá de ombros.
- Nunca disse que você deveria.
    
Ele é realmente...
- Tudo bem pequeno gatinho - levo minhas mãos até o seu cabelo e afago os mesmos, olho para seu rosto, seu olhar se encontrando com os meu faz com que um sorriso sincero se forme em meus lábios, ao contrário do loiro que tem uma aura maligna ao seu redor.
- Já disse para parar de fazer isso - ele empurra minha mão me fazendo rir.
- Perdão, não consigo evitar - ele revira os olhos, finjo não notar o curvar no canto de seus lábios - Ei vou indo, já está tarde.
- Certo- ele olha para a porta - Fecha quando sair.
- Hm - rapidamente o Kenma se vira e caminha até a cama, mas antes que chegue na mesma eu o puxo para meus braços, devido a ação rápida ele não se afasta, e apenas sinto seu calor no meu por um tempo- Boa noite - fecho os olhos aproveitando esse momento raro.
- Boa noit - sua voz sai baixa - Depois me diz se funcionou os produtos.
- Preocupado comigo? - o solto de meus braços e dou um passo para trás, ele me encara com um olhar frio.
- Só nos seus sonhos - rio.
- Até mais - rapidamente me afasto e saio do quarto fechando a porta atrás de mim, desço as escadas e olho para a sala dou um sorriso largo e um aceno para a mãe do Kenma antes de sair da casa.
    
A noite não está gelada e nem quente, o clima está bem agradável, por isso decido dar a volta no quarteirão antes de ir diretamente para minha casa que fica no fim da rua. Aperto a sacola nas minhas mãos quando uma série de lembranças passam pela minha mente... faz quanto tempo que não falo com ele?
    
Engulo em seco quando meus pés param de andar, pego meu celular do bolso e desbloqueio o mesmo, vou na lista de contatos e procuro seu nome... a foto que coloquei foi a mesma que tirei no último dia que saímos, pouco tempo antes de tudo cair sobre minha cabeça.

Abro um sorriso que carrega traços de um sentimento confuso. Meus dedos trêmulos quase apertam o botão de ligar, mas por fim não o faço, apenas encaro a doce foto antes de bloquear o celular novamente e voltar a andar pela rua solitária...

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde histórias criam vida. Descubra agora