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Tobio Kageyama...

Encaro a tela da televisão que estava passando a partida do Nekoma contra a Karasuno do campeonato regional do ano passado, a partida já está quase chegando ao fim, quando pauso a mesma. Sem tirar os olhos da tela passo a falar.
- Você notou que os movimentos dos bloqueadores centrais se repetiram nessa parte que você investiu seu ataque rápido? Isso ocorre porque já se era possível prever aonde a bola iria parar com a sua jogada, eles sabiam onde você jogaria. Se você notar os dois que vão até... - olho para o lado e me dou conta que estou falando sozinho.
    
A pessoa na outra ponta do sofá que deveria estar analisando o restante da partida comigo, caiu nos braços de Morfeu, sem sinal de volta. Seu rosto está apoiado parcialmente em seu braço, os lábios entreabertos e as bochechas pressionadas, fazem com que pareça ter mais carne que o habitual.
- É sério isso? - sussurro para mim mesmo- Ei Hinata- chamo ele com a voz um pouco mais elevada, mas o mesmo nem se mexe.
    
Suspiro fundo e aperto o botão para desligar a televisão, arrasto minhas mãos às cegas pelo sofá até encontrar meu celular, aperto no mesmo e vejo que o tempo passou rápido, já são quase nove horas da noite, mesmo que não seja tão tarde assim o alaranjado já caiu no sono. Encaro ele de longe por um tempo. O quão cansado ele deve estar?
    
O que eu faço? Eu poderia tentar acordar ele e assim ele iria para sua própria casa, mas no estado de sonolência que ele está, eu fico preocupado que algo aconteça no caminho... Mas também não é como se eu pudesse deixar ele dormir no sofá, na posição que o mesmo está, certamente acordaria dolorido pela manhã. Mas eu posso... deitar ele na minha cama, amanhã explico a situação, afinal não é nada demais certo?
- Ok... - me levanto e passo a andar pelo corredor, tirando qualquer coisa que pudesse atrapalhar meu caminho até a cama, ele não é pesado por isso sei que posso levá-lo para o quarto sem problemas em meus braços, mas eu não confio na firmeza das minhas pernas, se as mesmas cederem se eu tropeçar em algo, o Hinata iria para o chão, e não quero que ele se machuque.
    
Depois de me certificar que nada me atrapalharia, volto para a sala. Levemente ando até o alaranjado, com cuidado me abaixo e pego em seu braço levantando o mesmo para que fique no meu pescoço, mesmo que não esteja firme. Minhas mãos envolvem seu corpo que parece muito pequeno nesse momento, e quando vejo que ele está sem risco de cair arrumo minha postura. Olho para seu rosto impassível nesse momento, os lábios se mexem levemente antes de voltarem a ficar entreabertos. Sorrio sem notar.
    
Ando sem pressa para o quarto, passando pelo corredor, tentando focar no caminho na minha frente e não na pessoa nos meus braços... O que é bem difícil, pois ele está muito adorável em silêncio desse jeito.
    
A luz do quarto está acesa, enquanto as cortinas estão fechadas impedindo a luz natural de entrar no cômodo.  Paro na cama e me abaixo, passando a pessoa que antes estava comigo para o travesseiro, seu corpo mexe um pouco quando encosta na superfície macia, fazendo com que seus longos cílios ficassem trêmulos por um tempo antes de voltar a calmaria. Lentamente puxo a pequena coberta para seu corpo, vai que uma brisa inesperada o faz ficar com frio. Levo a mesma até um pouco abaixo de seu pescoço e acidentalmente a ponta dos meus dedos encostam nele. Retraio minha mão rapidamente.
    
Não sei o que me possuiu nesse momento, mas quando dou por mim já estou agachado ao lado da cama, encarando a pessoa na mesma com um leve sorriso em meus lábios. Seus cabelos continuam desordenados como sempre, por isso alguns fios teimosos caem em seu belo rosto, quase chegando em seus olhos, seus lábios  estão abertos parcialmente. E a luz fraca da lâmpada faz sombra em alguns pontos de seu rosto. Abro um sorriso leve e meu coração se agita sem aviso prévio.
    
Me pergunto em que momento eu abri as portas de meu ser para o Hinata, sem que eu pudesse notar eu já estou me acostumando a presença do pequeno, mais que isso... Eu realmente gosto dela, gosto de estar com ele, do seu sorriso, sua risada, seu jeito carinhosamente despreocupado, mais ainda de sua garra e perseverança, é realmente algo admirável que me faz ter orgulho da pessoa que ele é,  essa vontade de tentar e a coragem para nunca desistir é algo que corre em suas veias a cada segundo, eu vejo isso, assim como qualquer pessoa com o mínimo de senso de observação.
    
As vezes me sinto estranho por estar com ele, as coisas que penso, os impulsos que tenho apenas com ele, faz algo no fundo da minha mente se agitar em busca de respostas. O que está acontecendo comigo, e o que eu sinto em relação a Hinata Shoyo?
    
Levo minhas mãos até perto de seu rosto, parando no meio do caminho, meus dedos tremem levemente em um traço de hesitação. Respiro fundo.
   
Seria isso uma admiração?
    
Meus dedos correm levemente pelo ar até o Hinata.
   
Carinho? Amizade? Algo mais que isso?
    
Sinto meu coração bater como um louco quando meus dedos tocam o canto de seus lábios superficialmente.
    
Eu não preciso de uma resposta agora, quando eu estiver pronto sei que terei a resposta que permanece oculta em meu ser.
    
Levo minhas mãos até sua testa jogando os fios de cabelo para o lado, o mesmo parece não sentir. Abro um sorriso de lado e me curvo, próximo o bastante para sentir sua respiração passiva em meu rosto. Subo mais um pouco e deixo um pequeno selar em sua testa.
- Boa noite Hinata- sussurro enquanto me levanto, ando até o interruptor e apago a luz, olho para a cama mais uma vez antes de fechar a porta e seguir pelo corredor.
    
Vou lavar a louça e tomar um banho, depois vou apenas fazer uma cama improvisada no chão para dormir. Amanhã cedo explico o porque do mesmo estar na minha cama, e com sorte eu consigo dormir se meu coração se permitir ser racional apenas uma vez ao lado do alaranjado.

Do outro lado da rede *Kagehina*Onde as histórias ganham vida. Descobre agora