Parte 4 - A sala proibida

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Durante todo o fim de semana fiquei sem notícias do estado da Kin. Na segunda, quando voltei para a escola, os alunos continuavam perguntando e até os professores diziam que sentiam falta dela. Dessa vez pedi ajuda a Miguin para me ajudar a copiar a matéria, enquanto eu usava o intervalo para costurar um novo caderno com folhas de aquarela para a Kin. Ele era menor, com menos folhas, mas era mais fácil de esconder.

Depois, com a ajuda do professor Sh-Rorin – que também gostava da inteligência e das aquarelas da Kin –, montamos um novo estojo, menor e mais portátil, com uma paleta de cores só para ela. Acabei me divertindo com o professor ao conhecer pastilhas e pigmentos que nunca tinha ouvido falar.

Com Ronan, consegui mais histórias sobre a biblioteca da escola. Tentando ser discreta, perguntei como escondiam os livros proibidos. Ele apenas supunha que estariam mais ao fundo da biblioteca, talvez atrás de uma porta secreta no subsolo, onde os alunos não poderiam ir. Apesar da dificuldade aparente, estava cada vez mais confiante de que conseguiria entrar lá.

À noite, dessa vez com meus pais, consegui visitar a Kin e fiquei encantada com uma aquarela que ela fez mesmo com pouco tempo, onde colocou todos os peixinhos que ela conseguiu pintar e com um fundo de galáxias. Era incrível o quão bem ela misturava as cores e controlava a quantidade de tinta sobre o papel úmido.

Kin me agradeceu quase chorando quando mostrei o estojo que eu e o professor fizemos. Apesar dela parecer cansada naquele dia, ela estava confiante e fazendo piadas sobre os médicos e enfermeiros. Sua maior reclamação era o gosto das poções. Colocaram também várias faixas ao redor de seu peito, manchadas de verde por conta da mistura de plantas medicinais ao tecido. O cheiro era forte, mas ela estava respirando melhor.

Ela também ficou encantada com os desenhos dos colegas e me entregou para levar para escola uma nova pintura, com os rostos de todo mundo – até de mim!

— Que cara é essa, Elsa? Você não é de chorar!

Resmunguei enquanto enxugava os olhos.

— E não sou mesmo! Vou levar sua pintura e deixar secar na minha mesa presa com fitas, para o papel não enrugar!

Nos despedimos com um longo abraço (com menos aperto para não machucá-la). No caminho de volta ao saguão do hospital encontramos os pais da Kin. Eles não me pareciam mais tão assustadores, tão pouco não me olhavam como se me achassem uma má influência, o tipo de olhar que eu já tinha me acostumado. Aceitei seus agradecimentos pelo dia que ajudei a Kin, mas resolvi não brigar com eles sobre a questão de tirar a Kin da escola. Isso porque no dia seguinte eu iria resolver essa situação de uma vez por todas.

***

Coloquei tudo que mais precisava na mochila: caderno mais leve e menor caso precisasse pintar algo, com as folhas que ajudariam a conjurar plantas ou utensílios. Nele estavam presos dois pincéis e uma caneta bico de pena. Também levei apenas seis pastilhas, sendo três delas de cores primárias, para levar menos peso e misturar os pigmentos caso fosse necessário. Meu pequeno potinho de vidro estava com Seiva Escarlate até a boca e bem amarrado para não virar na mochila.

Também levei meus "instrumentos de aventura": agulhas que ajudavam a arrombar cadeados, duas facas, linhas e bússola para não me perder. Minha bússola era o item mais importante de todos, que me ajudava quando ia fundo demais na mata. Suas laterais eram largas, o que dava espaço para marcar nela com tinta direções importantes. E, por último, meu pequeno lampião. Era do tamanho da minha mão e, com o pouco espaço para óleo, só permitia uma hora de chama acesa, mas ainda era útil ao cair da noite. Se a sala proibida fosse no subsolo, com certeza eu precisaria de alguma luz discreta.

Aproveitei o intervalo do almoço para ir até a biblioteca no último andar. A desculpa estava na ponta da língua: iria procurar livros de animais marinhos para entreter a Kin no hospital. A bibliotecária não me conhecia, pois era a ala dos alunos veteranos, e minha carinha inocente ajudou-me a conseguir permissão para entrar.

O Pintor de EstrelasKde žijí příběhy. Začni objevovat