Parte 3 - Uma promessa

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Sonhei que a Kin podia voar.

Era estranho, mas vi ela brilhar em dourado e começar a levitar cada vez mais alto e brilhando muito. Eu gritava para ela descer, mas ela não me ouvia. Acabei acordando chamando por ela, mas quem me atendeu foi minha mãe.

Quase chorei quando a vi. Logo eu, que sempre gritava com ela quando pedia para que eu voltasse para dentro de casa, fosse para lavar louça ou ajudar nas compras.

— Ô, filhinha, está tudo bem! Está tudo bem, mamãe está aqui...

Era golpe baixo me abraçar e falar isso.

Pouco depois meu pai veio para o quarto e me abraçou também. Eu jurava que levaria alguma advertência e não foi o que aconteceu:

— Os professores nos contaram que a Kin passou mal, mas você a acudiu conjurando nossas plantas sozinha! Estamos orgulhosos, mas... um pouco surpresos! – disse meu pai, sentando-se na cama. Ele era grande e alto e fez tudo ranger com seu peso. Mamãe riu e falou em seguida:

— Achamos que tinha ido para estudar os insetos que tanto ama!

— E eu vou... só que... bem, eu estudei as plantas daqui para...

— Você queria cuidar da Kin, não é? – meu pai foi mais rápido do que eu e aceitei que bagunçasse meu cabelo dessa vez. — Filha, você foi incrível! Até nossos vizinhos estão falando sobre o que houve desde que seus filhos chegaram em casa. Você tem um dom e tanto!

— Só precisa se concentrar mais nos estudos e tirar boas notas para se aprimorar – disse a mamãe, com uma piscadela que indicava uma bronca parcial, talvez pelas minhas notas do ano passado. — Um dos professores da escola disse que você poderia ser uma Guerreira-de-tinta! Isso seria incrível!

— Vocês... vocês juram que está tudo bem? Achei que estavam tristes comigo... porque não quero assumir a fazenda...

Papai suspirou antes de falar:

— Bem, ainda estamos um pouco, porém, fico mais tranquilo em saber que você pode aproveitar algo daqui. Tem que se dedicar mais aos estudos para isso, mocinha!

Aceitei as cócegas do papai porque eu precisava rir. Mas eu não conseguia ficar feliz mesmo com seus abraços.

— E quanto a Kin? Vocês têm notícia dela?

O sorriso dos meus pais sumiu e senti meu peito doer ao ver suas expressões. Mamãe foi quem falou primeiro:

— O professor Ronan nos disse que ela precisou ser levada para o hospital, mas que nós não deveríamos nos preocupar.

— Mas... mas... eu pensei que ela iria para casa!

— Filha, não se preocupe – disse meu pai segurando minha mão. Ele não me olhou nos olhos como o professor Ronan fez. – Disseram que ela estava consciente e até perguntou por você!

— Devem ter feito isso só para observá-la. Com esse tempo louco, cheio de ventos e chuvas esporádicas ela deve ter gripado! Temos até que separar mais ervas-da-lua para nos cuidarmos e ajudar um vizinho que ficou de cama por causa dos ventos. Enquanto isso, descanse um pouco que amanhã você tem aula. Vou trazer um caldo de frango bem quente, do jeito que você gosta e até para levantar sua imunidade!

— Mas eu...

— E vai ter que pegar a matéria para a Kin! – disse o papai. — Copie tudo direitinho para ela, ouviu? É isso que os amigos de verdade fazem!

Quando eles saíram e me deixaram sozinha, senti que alguma coisa estava errada com tudo isso. Elogios, meu prato favorito... e se a Kin piorou e eles estavam escondendo isso de mim?

O Pintor de EstrelasWhere stories live. Discover now