Capítulo 1: Um espetáculo fora do planejado

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Hera levantou desnorteada, olhou ao seu redor e tudo que viu foi destruição e morte. O cheiro de sangue pairava sobre as narinas aguçadas da pequena elfo, aparentemente ela estava em um campo de batalha. Seus olhos prateados percorreram o ambiente em busca de um rosto conhecido, entre vários soldados caídos com corpos dilacerados, ela conseguiu encontrar Odai, um tiefling verde e alto que é praticamente seu irmão, seu amigo estava tão ferido quanto ela. Percebeu que Odai observava atentamente uma mão gigante logo á sua frente, coberta pela sombra que um eclipse formava no céu que a poucos minutos estava com um Sol radiante. A mão se encontrava rodeada de figuras fantasmagóricas, aparentemente almas torturadas, e acima da mesma flutuava um orbe negro. A última lembrança que Hera teve antes de desmaiar foi um grito estridente em uma língua desconhecida seguido por um tremor e um homem de pele preta, cabelos cacheados e com as pontas esverdeadas que começou a escalar a mão, porém uma figura alada rodeada por cinco esferas coloridas o impediu. E tudo ficou escuro.

-Bom dia sr. Odai e srta. Hera, o café já está servido – uma criança ruiva e com uma aparência muito amigável adentrou o quarto.

-Onde é que eu estou? – indagou Hera, sem nenhuma noção do que acabará de acontecer. Teriam resgatado ela e Odai da guerra e os deixado repousando neste quarto?

-Ué... vocês dois vieram para o festival do mês de Xion e se hospedaram na taverna do meu pai, a Taverna Coruja da Floresta – a menina respondeu com naturalidade e ignorando a confusão estampada na cara da elfo.

-Nossa... eu tive um baita de um sonho estranho essa noite, vamos descer logo para esse tal café da manhã, Hera – o tiefling disse enquanto se espreguiçava e assim os dois desceram.

Teria tudo aquilo sido apenas um pesadelo? Tinha sido muito real, Hera tinha suas desconfianças, porém seria um absurdo aquilo ser verdade, afinal, ela e Odai estavam em plena forma, sem nenhum arranhão e em um ambiente, que apesar de lotado de bêbados logo cedo, aparentava ser inofensivo. Aliás, o espaço tinha um palco, o que chamou atenção dos dois amigos, visto que uma era acrobata e o outro um leitor de tarô, os dois precisando de dinheiro extra.

-O que você acha da gente se apresentar pra ganhar uns trocados? – os olhos totalmente amarelos do jovem brilhavam de entusiasmo.

-Por que não? – disse a moça empolgada.

Então os dois circenses subiram no palco e se prepararam. Foi nesse momento que eles criaram um dos estilos de entretenimento mais populares, conhecido como comédia: talvez pelo cansaço da viagem ou o estresse de uma noite mal dormida causada pelo pesadelo, a apresentação foi um desastre, Odai começou sua leitura de tarô mas na tentativa de parecer descolado ao fazer um truque ele acabou jogando todas as cartas no rosto do seu primeiro cliente, que se levantou e saiu resmungando. No mesmo tempo em que isso acontecia, Hera se preparou para dar um mortal duplo, mas antes mesmo de começar a manobra, a pequena mulher tropeçou e caiu do palco bem em cima da macarronada de um orc que não pareceu nem um pouco feliz de perder seu café da manhã nada convencional, todos na taverna riram dos dois desajeitados.

-Eu vou te matar sua artista fajuta! – a criatura levantou furiosa enquanto gritava.

Hera pulou para trás de susto, tomada pela vergonha, nem soube o que fazer. Foi neste momento que o homem negro de seu sonho apareceu, ele apoiou sua bebida no balcão, se levantou e se pôs entre os dois em uma tentativa de prevenir uma possível briga de bar.

-Espera aí grandalhão, não vamos partir para a violência, qual é o seu nome, nobre guerreiro? – o moço disse com calma.

-Meu nome é Aí, pois essa é a última coisa que escuto daqueles que mexem comigo – disse o orc bufando enquanto Hera segurava a risada pelo nome ridículo.

-Então, Aí, isso foi só uma apresentação para fazer o público rir um pouco. Obviamente foi a intenção deles esse número de comédia e eles vão te entregar o dinheiro que ganharam para você aproveitar outra refeição – o suposto humano sacou uma nota de seu próprio bolso, acalmando a criatura irritada e resolvendo a confusão em menos de um segundo com a sua lábia impressionante.

-Pelos deuses criadores, muito obrigada moço, qual é o nome do nosso salvador? – Odai se aproximou aliviado.

-Meu nome é Tentor, e de nada por salvar suas peles – a moça está bem? – disse Tentor se dirigindo à Hera.

A garota com um dom incrível de arrumar confusão não respondeu verbalmente, ao invés disso somente arranhou a mesa demonstrando raiva, vergonha e um pouco de desespero por reconhecer Tentor do sonho.

-NÃO É POSSÍVEL! PRIMEIRO DESTRÓI MEU CAFÉ DA MANHÃ E AGORA ESTRAGA A MINHA MESA, VOCÊ ESTÁ QUERENDO BRIGA! – o guerreiro orc esbravejou logo antes de jogar a mesa na direção de Hera, que só sentiu o vento do objeto passando bem ao seu lado.

-Aí – obviamente não prezando pela sua própria vida, a garota disse em tom de deboche.

Enfurecida pela tentativa de machucá-la, a elfo tentou desferir um soco na cabeça de seu oponente, que segurou seu punho e a golpeou na boca do estômago. A jovem cuspiu sangue ao cair no chão desorientada. Antes que aquilo se tornasse um banho de sangue, a garotinha ruiva apareceu irritada, o semblante amigável tinha sumido completamente e agora ela berrava com os quatro arruaceiros que destruíram a mesa da taverna dela, os expulsando de lá.

-Não é possível que você conseguiu destruir todo meu discurso de paz em um segundo – Tentor reclamou desapontado enquanto ele, Odai e Hera saiam da taverna – ela é sempre assim?

-Pior que não, acho que foi o sonho estranho que nós dois tivemos que mexeu com ela, nossa performance foi um desastre. – Odai disfarçava melhor que a amiga, mas na realidade ele estava tão envergonhado quanto ela.

-Sonho estranho... – Tentor pensou, mas não comentou nada.- É, a senhorita não parece estar nada bem, quer que eu te cure?

-Ahn... Acho que sim, por favor. – a elfo afirmou.

Antes mesmo de Hera conseguir processar o que estava acontecendo, Tentor a agarrou pela cintura e deu um beijo na boca da garota, Hera ficou tentada a se desvencilhar e dar um tapa na cara da pessoa que tinha conhecido a cinco minutos e achou que tinha intimidade para tal ato, entretanto não recuou, ficou de olhos abertos, surpresa, e começou a sentir seu corpo se curando e se enchendo de vitalidade novamente. Algumas crianças que passavam fizeram sinal de desgosto ao ver a cena.

-Na minha frente?! – Odai perguntou enojado – jeito estranho de curar os outros, mas não julgarei.

-Bom, deixe-nos compensar pelo inconveniente, quer que nós dois te apresentemos o circo em que vivemos? Garanto que as apresentações não costumam ser um fracasso... – Hera trocou de assunto, tentando mostrar gratidão.

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