#14# josh

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Ouvi um som que me fez levantar, pareceu um gritinho que me levou até a janela e fez afastar o tecido verde-escuro e fitar o pátio central do castelo. Perto da fonte circular, ladeada por pequenos arbustos bem cortados, estava a mulher que imaginei que não voltaria a ver.  Contava com Wallace para resolver tudo naquele mesmo dia.






Afastei-me da janela e soltei a cortina quando vi Wallace entrar no meu escritório.





— O que ela ainda está fazendo aqui? —



Onde ela está? — Enrijeceu o corpo, tenso diante da minha pergunta.



— No pátio, observando a fonte.



— Ah! — Um vislumbre de alívio brilhou em seus olhos.



— Achei que tivesse sido claro sobre dar um dinheiro para ela e a levar para o aeroporto, para que pudesse voltar ao lugar de onde veio.



             — Bom, senhor, quanto a isso, temos um problema. — Retomou a postura rígida e eu arquei a sobrancelha, sem dizer nada, apenas esperando que continuasse. — Ela me recordou que não tem documentos, nem passaporte, nem nada. É provável que os homens que a venderam tenham tomado isso dela.



— Então, não pode voltar para casa? — perguntei o óbvio.



Wallace negou com a cabeça. Massageei as têmporas, respirando fundo. Onde foi que eu me meti? Não havia apenas gasto uma fortuna para tirá-la de lá, como tinha trazido um grande problema para mim. O pior era que não podia deixá-la em Edimburgo entregue à própria sorte.



— Vê de onde ela é e procura o consulado.

— Farei isso, mas sabe que essas coisas podem demorar, não é?


— Deixa ela no quarto de hóspedes por enquanto e banque a babá para mantê-la longe de problemas.



— Talvez seja bom ter uma mulher nessa casa.



— Não começa. — Cerrei os olhos, exibindo uma expressão séria e severa para ele.


— Vai precisar de mim ou posso ir para Edimburgo ver o que consigo fazer pela Any?

ANY... Então era esse o nome dela.


— Diga para a cozinheira servir o jantar no mesmo horário e pode ir. Vá de helicóptero, que é mais rápido.

— Sim.


Wallace deixou o meu escritório e voltei para perto da janela. Any ainda estava lá embaixo e parecia se divertir com a forma como as gotas de água, espirradas pela fonte, refletiam a luz fraca do sol.



Tentei voltar minha atenção para o computador e os e-mails que estava respondendo, porém, quando dei por mim, havia descido as escadas e ido até o pátio. Fiquei parado em um ângulo da porta que me permitia vê-la melhor. O seu semblante era completamente diferente do da menina perdida e assustada que vi naquele leilão.




Any sentou-se na borda da fonte e brincou com a água com as pontas os dedos. Poderia não ser virgem de fato, pois eu havia agido para que nem eu, nem ninguém, visse, mas tinha todo o semblante angelical e puro de uma. Talvez fosse apenas uma doce menina que precisava de proteção. Eu não costumava proteger ninguém, mas quis protegê-la. Era provável que nunca conseguisse entender o motivo.




— Você está aí?! — Assustou-se com a minha presença e cambaleou para trás. Por sorte, a fonte era rasa o suficiente para que ela pudesse apenas apoiar a mão dentro dela, e não se molhar inteira.



— Estou. — Cruzei os braços. — Essa é a minha casa.



— É! — Deu um risinho sem graça, coçando o alto da cabeça, esquecendo-se de que estava com a mão molhada. Acabou derramando algumas gotas no cabelo, mas não o suficiente para deixá-lo encharcado. — Tem uma bela casa. — Levantou e saiu de perto da fonte, percebendo que era o melhor a ser feito ou acabaria toda molhada. — Quem hoje em dia mora em um castelo?




— Eu.

— Sim, claro! Mas entendeu o que eu quis dizer.


— Acredite, senhorita, não sou o único que mora em um castelo.



— Que estupidez a minha. A rainha da Inglaterra tem vários. Esse também pertence a ela? Escócia é do Reino Unido, não é?



— Esse castelo é meu.


— Desculpa. — Encolheu-se ao perceber que não havia nada de divertido na minha expressão.



Nunca fui o tipo de cara que ria e brincava, contudo, depois de ela ter acordado tão drogada e assustada no meu avião, gostei de vê-la daquela forma.



— Obrigada, pelo que fez por mim.


— Não precisa agradecer.


Fiz o que fiz sem esperar aquela expressão de gratidão no rosto dela. Deparar-me com aquilo me deixou estranho e incomodado.




— Preciso sim. — Deu alguns passos cambaleantes na minha direção e contive o impulso de recuar. — É a primeira pessoa que é gentil e se preocupa comigo desde que a minha mãe morreu. — Ela começou a chorar, seus olhos ficaram vermelhos e algumas lágrimas escorreram por suas bochechas, e eu simplesmente não sabia o que fazer.



— Não sou um homem gentil, senhorita.



— É sim.


— Não! — Mantive a minha pose e cerrei os dentes, porém, ela não recuou ou se mexeu. Seja lá o que havia passado, foi o suficiente para que não se impactasse com a minha cara fechada.




— Obrigada por cumprir a sua promessa. — Sorriu, mas seus olhos ainda estavam marejados.



— Que promessa? — Permaneci a encarando, não me lembrava de ter feito promessa nenhuma a ela, principalmente porque mal havíamos nos falado até aquele momento.



— Eu me lembro de você me dizendo que tudo ia ficar bem, pouco antes de eu desmaiar de vez.




Aquilo era verdade, mas dizer aquilo foi mais uma das coisas que disse puramente por impulso diante de toda a indignação que aquele leilão causou em mim.





— Logo você vai voltar para casa.




— Obrigada! Nunca vou conseguir ser grata o suficiente por tudo o que está fazendo por mim.



— Fique longe desses caras e estaremos quites. — Dei as costas e a deixei sozinha no pátio outra vez.




Não queria ficar conversando com aquela mulher, pois sentia que ela mexia com algo dentro de mim que me fazia perder o controle. A coisa que eu mais odiava era não estar no controle de tudo.



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Será que Any mexeu com o josh mesmo?

Comprada por JOSH ( ADAPTAÇÃO )Where stories live. Discover now