Capítulo 14

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MAGGIE BRYER

-Estou indo, mas isso não é um adeus. Melhore essa cara. - Sorrio e empurro levemente seu ombro, fazendo Eth sorrir e me sinto mais relaxada no mesmo instante.

-A sua cara parece pior que a minha.

-Tive uma má noite de sono. Vou sobreviver.

Ethan me puxa ao seu encontro, seus braços me circulam e eu afundo em seu peito. Seu cheiro, seu calor, seu aperto, tudo é tão familiar e reconfortante que me sinto um pouquinho mais corajosa por essa aventura. Esse baterista nórdico teimoso pode negar o quanto quiser, mas é um príncipe encantado perfeito - mesmo com as tatuagens, piercings e tudo. A forma como Eth entende que essa viagem é importante para mim, é pessoal, uma auto-descoberta e a chance de conhecer meu pai indo além de chamadas por telefone e a forma como Eth respeita isso.

Um príncipe da Disney, com a alma quebrada, porém continuar um.

-Vou sentir sua falta. - Resmunga com o rosto pressionado em meus cabelos.

-Eu também vou sentir a sua, Eth. Eu te amo.

-Eu também de amo. - Ele beija o topo dos meus cabelos e afasta o rosto, mantendo nosso abraço apertado - Me avise assim que chegar lá.

-Eu vou, não se preocupe.

-Mantenha distância dos britânicos. Eles acham que aquele sotaque pode seduzir alguém. - Revira os olhos e solto um risinho, seu ciúme é tão fofo.

-Você não pode me proibir de fazer nada. - O provoco.

-Marjorie. - Sua voz é série, em tom de repreensão e é a minha vez de revirar os olhos.

-Sou uma garota grandinha Eth, sei me cuidar e escolher as minhas companhias.

-Eu confio em você, não confio neles.

-Você nem os conhece, controle seu ciúmes.

-Eu só quero que tenha cuidado.

-Não se preocupe, se acontecer alguma coisa vou te ligar e você pode me salvar como um belíssimo cavaleiro de armadura brilhante montado em um cavalo branco.

-Preto.

-O que?

-Se eu fosse me vestir de cavaleiro medieval para te salvar, usaria um cavalo preto. Acho eles mais bonitos e como sou uma verdadeira tentação meu cavalo deve fazer jus na beleza.

-Sua auto estima é invejável.

-Não é a primeira vez que escuto isso, mas agradeço de qualquer maneira. - Dá-me uma piscadela e sorrio, ele é meu idiota favorito no mundo.

-Vou te manter atualizado sobre minhas descobertas na terra da rainha.

-Não se perca nos museus, lembre-se que você pertence ao século vinte e um.

-Eu já te disse que nasci no século errado!

-Sim, sim, fique longe da Escócia também. Aqueles caras de kilt³ não me transmitem confiança.

-Ninguém com um pênis te transmite confiança, Eth.

-Mentira, há Jake, Vince e Drew, mesmo que eu tenha revisto meus sentimentos sobre o Drew nos últimos tempos.

-Dramático.

-Que calúnia. - Eth expressa sua melhor pose de ofendido e preciso concordar que se ele não fosse um músico tão bom teria futuro na atuação.

-Mande lembranças à todos.

-Sim, senhora.

Uma voz ecoa pelos autos falantes orientando os passageiros do meu voo para embarque e solto um suspiro cansado, o frio na barriga volta com força e a mistura de medo e empolgação se apossa de mim. A incerteza do que será essa aventura me amedronta e me empolga.

-Vai ficar tudo bem, Maggie. - Eth beija minha testa e se afasta - Se divirta e explore, faça o que precisa fazer e não esqueça de viver um pouco.

-Sim, senhor.

Vou até minha mãe e Rob, que estavam abraçados a certa distância de nós, meu padrasto está consolando e falando algumas palavras de incentivo para ela. Eles se afastam assim que me aproximo e eu a abraço apertado.

-Ligarei quando chegar, mãe.

-Me mantenha informada sobre tudo, não fale com estranhos, fique atenta aos aproveitadores de turistas e não esqueça de me informar sempre que puder.

-Não se preocupe, mamãe. Eu vou ficar bem.

-Oh, minha garotinha. - Ela enche meu rosto de beijos e me aperta ao ponto de cortar minha respiração - Divirta-se, meu amor.

-Oxigênio, mãe. Oxigênio.

-Desculpe. - Seus braços se afrouxam ao meu redor a beijo na bochecha.

-Ficarei bem. - A solto e abraço Rob - Cuide dela.

-Eu vou.

Olho mais uma vez para as três pessoas mais presentes da minha vida e seguro com força a alça da minha bagagem de mão. Visitei a Inglaterra algumas poucas vezes quando era criança, com o passar dos anos fomos naturalmente nos afastando e nosso contato se manteve por ocasionais chamadas telefônicas.

Pelo que sei da história eles se conheceram quando meu pai estava a trabalho na Califórnia, foi um amor relâmpago e quando eu completei dois anos o relacionamento deles teve uma crise. Meu pai queria se transferir e voltar para a Inglaterra, minha mãe não queria sair do país - ela é uma pessoa muito tropical para o inverno europeu -, somadas as diferenças culturais e gostos tão opostos, em algum momento ambos se magoaram.

Meu pai retornou para a terra da rainha, minha mãe lutou para me criar aqui e ele nos pagava algumas viagens para que minha mãe me levasse até lá. Fui surpreendida com sua ligação e seu convite para passar um tempo com ele, por tudo o que minha mãe contou, meu pai é viciado em trabalho e não dedica muito ao tempo livre. Quem dirá ficar comigo enquanto eu estiver na Inglaterra.

Entretanto pela esperança de conhecê-lo melhor - e não apenas fantasiá-lo pelas minhas lembranças de infâncias ou histórias que minha mãe conta - ir é o melhor caminho, não pelos demais em minha vida, mas por mim mesma.

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Kilt³ - saia escocesa masculina com estampa xadrez originária nas Altas Terras Escocesas (high lands), as cores e a forma da estampa representam uma família/clã da região.


O Baterista - A5 livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora