Anamnese | H.S

Um único pedido: parte dois

ANNE

Dezoito anos atrás

O suor escorria por meu rosto, senti o gosto salgado do mesmo enquanto colocava uma toalha fria na testa de Cheri. As parteiras corriam de um lado para o outro, o castelo estava eufórico, a pequena Hailee estava a caminho.

— Vamos lá, falta pouco, ok? — A encorajei.

— Quase lá, empurre, Cheri. Empurre! — A parteira pedia.

Respirei fundo e continuei encorajando enquanto ela fazia força, cada vez mais força, mas nada acontecia. Ela continuava a tentar, sentia que dava cada gota de suor de si para que Hailee viesse ao mundo o mais rápido possível, mas foi ficando fraca e mais fraca a cada tentativa.

— Eu não... não consigo... — Cheri disse.

— Ei? É claro que consegue, eu estou aqui. — Segurei sua mão. — Juntas podemos fazer aquilo que sozinha você não consegue.

Ela sorriu, seu sorriso era capaz de iluminar um vilarejo inteiro com sua intensidade, era uma das coisas que mais me encantava em Cheri. Seu sorriso se desfez, sua mão se soltou da minha.

— Cheri?

As parteiras aparentavam preocupação, uma correria pra lá e pra cá, algo estava acontecendo mas ninguém ousava me dizer o que.

— Onde está Joseph? — Ela perguntou.

— Não se preocupe, Leo e Joseph estão a caminho e eu estou aqui com você. — Tentei lhe tranquilizar.

Olhei para a parteira que estava a frente, seu olhar me causou arrepios.

— Ela está perdendo muito sangue, a criança está sem oxigenação... não sei se as duas podem sair vivas dessa cama, senhora. — A mulher me disse.

— Como ousa dizer isso? É claro que vão! Cheri, olha pra mim, vai ficar tudo bem ok? Vocês vão ficar bem, preciso que aguente firme, meu amor.

Apertei sua mão contra a minha, limpei as lágrimas que insistiam em cair, ela parecia tão frágil, tão assustada, como se a qualquer momento pudesse se quebrar com o mais suave dos toques em sua pele. Me sentia fraca, inútil, queria fazer algo, qualquer coisa pra tirar minhas duas meninas daquela situação, mas não sabia como.

Seus olhos não permaneciam abertos, mas eu sabia que ela estava tentando, ela estava. As lágrimas escorriam por seu rosto enquanto ela chorava em silêncio, sua boca abria e fechava como se estivesse tentando dizer algo a mim.

— Eu estou aqui, eu não vou sair daqui, eu prometo. — Sussurrei enquanto tirava os filhos de cabelo grudados em seu rosto devido o suor.

— Anne... cuida dela. — Sua voz soou quase inaudível. — O Joseph va- vai precisar de ajuda, não acho que ela saiba fazer os penteados que a gente fazia quando pequenas. — Ela riu e tossiu em seguida.

— Não seja tola Cheri, não ouse dizer algo assim, você vai fazer os próprios penteados em Hailee. Lembra aquela trança que eu adorava que só você sabia fazer?