Levo uma Bofetada de Boas-Vindas

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As mesas estavam lotadas. Eu podia ver a animação das pessoas. Os primeiros drinques da noite haviam sido simples. Os clientes pareciam satisfeitos.

Até que tudo tornou-se uma escuridão total. Momentaneamente, assustei-me. Mas então, um dos holofotes focou sua luz azulada, como a luz da lua, sobre o centro do palco. As cortinas se abiram.

Eu não ia olhar.

Comecei a arrumar os canudos decorados no recipiente por cor e tamanho. Mas algo me chamou a atenção. No palco, não era um dançarino. Mesmo estando a uma distância segura do palco e o foco sendo nas pessoas das mesas, mesmo me sentindo a salvo, não queria arriscar. Mas os olhos dele estariam tão longe de mim... Voltei o olhar curioso para o palco.

Ali estava um homem alto e pálido. Vestia camisa branca com rendas, botas e calças justas. Parecia ter sido enviado do século XVII para a Prazeres Malditos. Ele tinha cabelos na altura dos ombros, escuros, pareciam cacheados, e o rosto que eles emolduravam, mesmo daquela distância, era o mais bonito que eu já vira.

E então, ele aproximou-se do microfone e vi seus lábios abrirem-se num sorriso que transbordava malícia. Eu não via as presas, mas apostava que estavam ali. Era de tirar o fôlego. Mas agora eu ouvia a voz. A voz daquela sala no andar superior, a voz que inundava minha mente. Era ele. Jean-Claude.

Estava errado, eu não devia ouvi aquela voz. Eu estava usando fones. Mas eu ouvia claramente cada palavra, cada som que vinha daqueles lábios. Senti um desespero momentâneo. Eu via e ouvia. Isso não devia acontecer. Meus olhos não deixavam o palco.

As palavras se misturavam em minha mente, como ecos distantes. Só o que percebi era que ele introduzia a primeira apresentação da noite, e falava outras coisas que não podia discernir. Ouvia como se ele estivesse ao meu lado, mas as palavras exatas estavam turvas em minha mente. Só conseguia pensar em rastejar até o palco e pedir que ele sussurrasse só para mim. A sensação era maravilhosa – e minha visão ia ficando cada vez mais focada nele, e só nele. E era apenas sua voz.

Senti minhas mãos escorregarem pelo balcão, antebraços, eu estava quase subindo na superfície marmórea e rastejando para chegar até o palco. Gemi, em desespero. Eu queria tocá-lo, sentir o cheiro, o gosto...

Dor. Muita dor. Colidi com o chão, de costas. Não vi nada por um tempo. Meu rosto ardia do lado esquerdo.

Eu levara um tapa fortíssimo.

Luzes piscavam agora e a escuridão diminuía à medida que eu piscava. Quando minha visão entrou em foco, vi olhos escuros me encarando. O rosto a que pertenciam era alvo, e trazia uma expressão preocupada. Cabelos cheios, cacheados caíam para frente. Era uma mulher.

- Como se sente? – perguntou, uma voz branda.

Respirei fundo, olhei em volta. Me sentia atordoada. Então senti raiva.

- Por que diabos você me bateu? – quase gritei.

Ela suspirou.

- Dor ajuda a impedir a hipnose. – ela segurava meus fones na mão direita – Você tirou e nem percebeu. Aliás, fones não vão protegê-la dele – ela olhou por cima do ombro para o palco – Droga.

Por Dentro dos Prazeres [ANITA BLAKE + ORIGINAL]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora