O Vampiro-Mestre, meu novo chefe

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Agora eu olhava para o tampo da mesa de mogno escuro, alguns papéis sobre ela e uma caneta-tinteiro, de aspecto antigo. Meus olhos subiram alguns centímetros e depararam-se com a parte da frente de uma camisa fina de seda, botões de madrepérola subindo até o pescoço, supus. Rendas e mais rendas por toda parte. As mãos pálidas cruzaram-se levemente sobre a mesa, os dedos quase encobertos até as pontas por rendas delicadas.

Khall fora sentar-se num sofá de couro preto, muito à vontade, que ficava logo abaixo do quadro que estivera observando. As pernas cruzadas e um ar de tédio no rosto. Voltei a olhar para a madeira polida e envernizada da mesa.

- É um prazer finalmente conhece-la, srta. Williams – aquilo não era real. Nenhuma voz era tão perfeita assim. Cada palavra pronunciada como uma promessa, como se ganhassem vida. – Lilian me falou muito bem de você.

- Ah, obrigada... – foi o que consegui dizer vagamente. Minha voz ofendia aquela que rondava pela sala.

- Esta noite será seu teste como bartender. Quero conhecer seus... dons artísticos com a bebida – por mais que eu não visse o rosto, eu sabia que ele me olhava, pois sentia o peso de seu olhar sobre mim. – Todavia, possui o necessário para chamar a atenção dos clientes... É graciosa, se move com elegância e é encantadoramente bela. – outra risada abafada. Quase pulei na cadeira quando ele levantou-se e foi em direção a Khall.

Ma cher, você poderia apresentar o local de trabalho à adorável mademoseille Williams? – pediu, eu não ouvia mais nada a não ser aquela voz suave.

Quando dei por mim, senti um toque gélido em meu ombro. Tremi. Era Jean-Claude. E foi a vez dele de rir.

- Você tem pensamentos interessantes, Sarah, se me permite... – disse, quase um sussurro. Parei de respirar.

- Eu me esforço. – consegui dizer e tremi outra vez quando seus dedos deslizaram do meu ombro até o pescoço. Eu mesma senti a veia latejar sob os dedos dele.

Fechei os olhos. Não era real, não era real.

- Vá, Sarah, você tem uma longa noite pela frente – disse Jean-Claude. Eu continuei de olhos fechados. – Boa sorte.

Ele continuava me observando. Que ótimo Esforcei-me para abrir os olhos e o que eu vi foram botas bem desenhadas e de couro negro, passos que andavam delicadamente, mas ao mesmo tempo, firmes. Meus olhos seguiram o desenho das botas e logo vi as pernas em calças de couro, mas desviei o olhar. O que eu estava fazendo? Levantei abruptamente:

- Foi um prazer. – eu disse, de uma vez.

- Que se repetirá, espero. – ele disse, indo sentar-se à mesa outra vez retomando a caneta – Bem-vinda à Prazeres Malditos.  – eu tinha certeza que ele sorria.

Fora da sala de Jean-Claude, senti-me calma. Ou mais calma. Deixei que Khall me guiasse pelos escuros corredores e escadas até o andar de baixo. Ela não disse nada durante o caminho. Eu também permaneci em silêncio.

Comecei a ouvir uma música dançante e a luz ainda era clara. Estavam preparando o show da noite.

Paramos ao chegarmos ao balcão do bar. Era um belo bar, a propósito, todo em preto, mármore e vidro. Os bancos eram de aço. 

Nas prateleiras, todo tipo de bebida existente, talvez, e eu já podia visualizar milhares de drinques para fazer com elas. Agora eu me sentia em casa.

O bar ficava no lado oposto do palco, logo em frente. A poucos passos para a esquerda estava o pequeno hall de entrada, onde se deixava artefatos de prata ou sagrados. Não se entrava ali portando ameaças ao vampiros. As mesas à frente eram todas em alguma combinação de vermelho, preto e prata.

Agradável, para dizer o mínimo.

A minha única preocupação era: como evitar olhar para o palco? Sim, por que vozes eu podia evitar – trouxera um fone de ouvido daqueles que usamos em avião. Eu era  boa em ler lábios por trabalhar havia um tempo em casas noturnas, onde a música é sempre muito alta e se ouve pouco do que as pessoas falam. Mas meus olhos... Percebi que estavam muito vulneráveis ao palco.

Khall me acordou dos meus devaneios com sua voz profunda:

- Bem, você ficará aqui pelo próximo mês – ela suspirou outra vez – 

Está encaminhada. Familiarize-se com seu local de trabalho. – e já ia sair quando eu a chamei:

- Khalled!

Ela virou-se para mim, uma sobrancelha erguida. Apoiei-me no balcão.

- Eu estou segura aqui, sabe, do palco... Não estou? – perguntei, incerta.

Ela observou meu rosto por alguns segundos e disse, divertindo-se:

- Sarah, o quão segura você estará esta noite depende muito de você. Sabe, por aqui os vampiros não fazem nada que você não queira... Ou que não peça.

Franzi a testa. Do que ela estava falando?

-Não se preocupe, se estiver concentrada nos drinques não precisará sequer olhar para o palco.

Eu duvidava muito disso, mas Khall não me parecia alguém com quem devesse argumentar. Ela virou-se e foi galgando escada acima, de volta a seus afazeres. Eu tinha que começar os meus.

Dei a volta no balcão e entrei no bar. Pus minha bolsa numa prateleira sob ele. Para minha surpresa, havia ali um elegante colete de cetim vermelho com botões de pedras brilhantes. No lado esquerdo do peito, uma plaquetinha retangular com meu nome escrito nele. Sorri. Era trés chic. Vesti o colete, abotoei e, surpresa, cabia perfeitamente em mim. Pus meus fones. Não vedava 100% o som, mas 95% eu já não ouvia. Senti um frio no estômago. As luzes começaram a diminuir, outras entravam em ação. Uma penumbra avermelhada tomou conta do lugar. Havia um microfone sobre o palco. As cortinas foram fechando misteriosamente. A música ficou mais alta e contagiante. Eu sentia os graves fazerem o balcão tremer um pouco. O primeiro grupo começou a entrar.

Show-time.

Por Dentro dos Prazeres [ANITA BLAKE + ORIGINAL]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora