Reparos

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19 de julho de 1988


Blaise não pôde deixar de reparar, nos dias seguintes à visita a Draco, como Greg acabou por ler a cópia de Quadribol Através dos Séculos. O sonserino levou quatro dias no processo, sendo aquele um pequeno exemplar de cinquenta páginas e muitas gravuras, mas, ainda assim, terminou. Blaise experimentou uma estranha sensação de orgulho com a constatação.

Não sabia explicar. Nunca fora próximo de Gregory; na verdade, achava ter demorado dois anos inteiros para aprender qual dos dois era Greg e qual era Vincent. Contudo, desde quando o recolhera naquele cemitério, vinha sentindo um tipo estranho de empatia pelo rapaz. Com o passar dos anos em Hogwarts, percebeu o relacionamento dele com Vincent, afinal, seria impossível não notar — dividiam o quarto, e era muito comum acordarem de manhã e acharem um deles na cama do outro, sem falar nas coisas que tinham ouvido até Greg e Vince aprenderem a usar feitiços de silêncio.

Ainda assim, nunca tinha levado o relacionamento dos dois a fundo. Não tinha achado que eles se gostassem de verdade. E então, de repente, Draco estava o pedindo para cuidar de Greg porque ele estaria completamente destruído por dentro.

Blaise suspirou à porta do quarto. Ter Gregory em sua casa por tantos dias tinha mudado como o enxergava como pessoa. Não achava já ter reparado antes nos sentimentos dele, tendo o delegado apenas como guarda-costas de Draco por tanto tempo... E toda aquela frustração, Greg colocara para fora naquele dia, sobre ninguém ligar para ele. De fato tinha fundamento, Blaise não podia discutir. Era a verdade.

Perder Vincent deveria ter sido como perder o próprio coração.

Blaise suspirou e bateu à porta. Gregory não demorou a atender, e mais uma vez Blaise sentiu um aperto no peito ao ver como ele parecia desolado. Estava segurando o Quadribol Através dos Séculos em uma das mãos, e isso fez Blaise perceber que nunca tinha dado um presente a Greg. Sequer sabia quando era o aniversário dele.

— Gostou do livro? — Perguntou, sem saber como começar uma conversa, mas a fim de tentar.

Greg deu de ombros, erguendo o livro conforme passava uma página. Ele estava folheando a parte dos modelos de vassouras.

— Eu acabei de ler. Então, toma, pode guardar.

Ele engoliu em seco.

— Não. Tudo bem, pode ficar com ele. Quero dizer, se tiver gostado — disse envergonhado.

— Ah!

Greg parecia surpreso, de forma genuína. Isso só fez Blaise se sentir ainda pior, ver como o outro tinha se chocado ao ganhar um presente dele. Greg coçou a nuca meio sem graça e acabou chegando para o lado, dando espaço para Blaise entrar no quarto.

O sonserino entrou, sentando-se na cama de visitas. Os dias tinham dado uma certa identidade ao quarto, e Blaise começou a reparar uma série de coisas: ao contrário dele mesmo, Theodore e Draco, os três sendo quase paranoicos com organização, Greg deixava as coisas bem mais bagunçadas. Não jogadas por aí, de qualquer jeito, não. Mas ele não se importava, por exemplo, em deixar os sapatos aos pés da cama em vez de colocá-los no guarda-roupa, ou em deixar o livro que estava lendo na cabeceira em vez de guardá-lo na estante. Era uma espécie de bagunça organizada, e tornava o quarto bastante vívido.

— É um bom livro — Greg comentou, enquanto o repousava acima da mesa de cabeceira, sentando-se ao lado de Blaise. — Eu leio bem devagar, mas tem várias figuras. Isso ajuda também.

Blaise concordou. Estava meio pensativo, e prestando apenas meia atenção nas palavras de Gregory. Fora ao quarto dizer a ele que ele precisava mesmo ir para casa, a mãe dele estava muito preocupada e a senhora Zabini também estava ficando incomodada com a presença prolongada do "aliado de Comensal da Morte" na casa dela. Entretanto, não podia dizer isso. Não podia. Gregory parecia tão bem ali, focando em coisas pequenas, como um livro ou torta de morangos para o jantar. Se o mandasse para casa, Blaise receava prejudicar todo o progresso feito pelo garoto.

Marcas de Guerra (Espólios de Guerra 1)Where stories live. Discover now