Separação

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21 de julho de 1988


Harry não estava mesmo brincando, Rony percebeu, dias depois. Ao chegar na casa do amigo, com malas prontas para um bom tempo, imaginou que Harry o deixaria ali por um dia ou dois em observação e depois mandá-lo embora. Mas não era bem isso, e percebia agora. Já fazia quatro dias, e o jovem sequer tinha ideia de onde o amigo havia escondido sua varinha.

Ele suspirou à mesa do café, bebericando o chá servido a ele por Monstro. Harry estava lendo o Profeta Diário, e a imagem parecia demais com seu pai, Rony pensou. Estavam mesmo ficando tão velhos assim?

Pigarreou. Tentaria mais uma vez, mesmo tendo quase certeza de que não obteria uma resposta diferente. Por que teria? Não era como se algo tivesse mudado nos últimos quatro dias.

— Harry, eu quero a minha varinha.

O amigo abaixou o jornal, olhando para Rony.

— Vai conversar comigo dessa vez?

— Não.

— Ótimo. Sem varinha então — respondeu, voltando a ler o jornal.

Rony bufou. E mais essa agora, conversar? Que coisa mais ridícula!

— Você não tem o direito de apreender minha varinha desse jeito! Virou o quê agora, meu pai?

— Não. Seu chefe.

Harry colocou o jornal de lado de vez. O amigo se inclinou sobre a mesa, pegando um pão para si e parecendo pensar. Rony não queria mais pensamentos ou resmungos incoerentes. Queria a droga da varinha e o direito de ir embora para casa. Mas nem isso podia, afinal, Harry tinha falado com sua mãe, e Molly tinha sido categórica na resposta: "Pois então ele vai ficar aí pelo tempo que for necessário, e se tentar voltar antes da hora eu mesma o arrasto de volta".

E para completar, ainda vinha usar a carta do "chefe" para cima dele. Soava demais com a baboseira de "O Eleito" do sexto ano, e Rony ainda tinha uma raiva considerável daquela época. Tinha raiva de bastante coisa, parando para pensar.

— Rony, você precisa resolver isso. Esses seus rompantes de violência podem ser perigosos. Você sempre foi muito impulsivo, mas agora está ficando ridículo. A guerra acabou. Você precisa entender isso, e relaxar. É sério.

— Beleza. Me dê minha varinha e eu vou fazer uns feitiços de relaxamento.

Harry negou com a cabeça. Ele fez um sinal para Monstro, e o elfo serviu mais chá para os dois.

— Nada de feitiços. Você precisa aprender a se acalmar sem a varinha por perto. Ficar com essa varinha só te dá sensação de segurança porque você sabe que pode atacar com ela.

— Que besteira! Desde quando você virou minha mãe? Está falando que nem ela! Ou pior, que nem a Hermione!

E nesse exato segundo Rony se deu conta do que tinha acabado de dizer. Oh. Oh.

— Hermione te falou isso?

Harry então terminou o resto do chá e se levantou. A falta de resposta foi uma confirmação exata, e Rony soltou um palavrão alto o suficiente para Monstro congelar a meio caminho de recolher os pratos sujos da mesa.

— Rony, eu só quero ajudar, tá legal? Todas as vezes que tem algo errado com você ou comigo, a gente briga antes de tentar resolver. No quarto ano, com o Torneio Tribruxo. No quinto, com os monitores. No sexto, com a Gina, o Eleito, o Clube do Slug e as coisas todas. Já chega. Eu estou cansado de lutar contra meus inimigos e não vou de forma alguma fazer isso com meus amigos. Agora, eu não vou sentar aqui e fingir que sei resolver os seus problemas. Mas a Hermione sempre teve mais tato. Talvez fosse bom você ouvi-la um pouco.

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