A Grande Familia

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Eu e Lica fomos ao hospital todos os dias depois daquele. Fio rapidamente conseguiu que tivéssemos a guarda provisória da Nina, isso ainda não significava que éramos legalmente mães dela, mas nos permitiu que a levássemos pra casa quatro dias após a primeira visita ao hospital. 

Nesse meio tempo, quando não estávamos no hospital, estávamos ajeitando tudo em casa para recebê-los. Essa última parte, aliás, graças a nossa família e nossos amigos. Clara, Guto e MB compraram tudo de primeira necessidade pra Nina, inclusive carrinho e banheira. Anderson, Lito, Tina e Ellen arrumaram o quarto inteiro das crianças, Keyla, Benê, Tonico, Das Dores, dona Marta e Leide cuidaram do restante, que basicamente consistia em encher nossa despensa e arrumar o quartinho da Nina.

Entre uma coisa e outra, falávamos com Isabella pelo telefone, que se certificava de incluir o irmão em tudo. As crianças ficaram em polvorosa quando contamos que traríamos os dois aqui em casa para conhecer a irmãzinha. É óbvio que nossa galera não permitiu que aquele momento passasse em branco e rapidamente organizaram uma festinha no meio do nosso almoço de comemoração. Dona Marta, das Dores, Clara, Keyla e Tonico chegaram lá em casa de manhã cedinho pra arrumar as coisas, sabendo que a gente ainda tinha que buscar as crias.

- Bora, Sammy. - Lica me apressou, logo depois do café da manhã. - A gente ainda tem que resolver um negócio antes.

- Que negócio? - Não me furtei em perguntar.

- Trocar de carro. - Lica respondeu quando entramos no elevador. - Eu passei na concessionária essa semana e negociei o nosso em troca de um maior, a gente precisa, né?

Talvez alguns anos antes eu reclamaria com Lica por decidir aquilo sem me consultar antes. Minha reação foi torcer o nariz e ela percebeu, óbvio, mas também não falou mais nada. De certa forma ela tinha razão, a gente precisava mesmo e já tinha tanta coisa pra pensar que me senti relaxada por ela ter resolvido aquilo sozinha.

- Tem razão. - Respondi, por fim.

Ela me deu um selinho antes de dar partida no carro. A ida a concessionária realmente foi mais rápida graças a Lica, e no fim da manhã daquele sábado de sol já estávamos com nossa SUV enorme que mais parecia um camburão enorme, estacionado em frente à casa de Márcia.

A mulher já nos esperava com as crianças arrumadinhas. Os dois de banho tomado, cabelos penteados. Estavam os dois de azul, Lucas na blusinha e a bermuda preta, Isabella com camiseta branca e saia. Nós duas já chegamos abraçando e beijando eles, para depois cumprimentar a Márcia.

- Vamos? - Falei, animada. - Obrigada, Márcia! No fim da tarde a gente volta. - Garanti.

Os dois correram em direção ao carro. Lucas já foi entrando sozinho no banco de trás e Isabella estendeu os bracinhos pra Lica, que a pegou no colo. A cadeira de rodas coube inteira no porta malas e os dois se acomodaram em suas cadeirinhas no carro.

- Partiu hospital? - Lica se posicionou no motorista.

- Hospital?? - Nossa filha se alarmou.

- É só pra buscar sua irmãzinha, meu amor. - Eu tranquilizei e olhei feio pra Lica.

- Desculpa, Bella, não quis te assustar. - Lica pediu, ciente de que precisava pensar antes de fazer gracinha.

Seguimos o caminho inteiro com Isabella querendo saber tudo sobre a irmã e Lucas dormindo desde o primeiro quebra mola. Já havíamos dito o nome a ela, mas a curiosidade da criança era infinita.

- A Nina é muito bebezinha, Bella. - Eu expliquei. - Às vezes ela chora, tem que ter paciência, cuidar dela...

- Eu cuido! - A animação da criança arrancou um sorriso bobo meu e de Lica.

Não demoramos a chegar no hospital e assim que o carro parou, Lucas deu sinais de que iria acordar. Lica olhou pra trás e por alguns segundos, Isabella não falou nada.

- Sammy, eu espero com eles aqui, vai lá. - Lica sugeriu. - Né? A mamãe Sammy vai lá rapidinho e volta com a Nina, enquanto isso a gente espera aqui, que tal? - Lica olhou pras crianças.

- Tá bom! - Isabella confirmou.

- Sim! - Lucas falava muito pouco, então seu entendimento quase nos matou de amor.

- Eu já volto, meus amores. - Anunciei, dando um selinho rápido em Lica e saindo do carro.

Levei comigo uma bolsa de bebê à tiracolo para trocá-la, com uma roupinha amarela dada de presente pela tia Ellen. Em poucos minutos saímos de lá, eu e Nina arrumadíssimas, ela enrolada numa manta branca.

Abri a porta do carro e encontrei Lica, Lucas e Isabella cantando Chiquititas a plenos pulmões. A mulher abaixou o som quando me viu, mas eu não podia deixar de comentar.

- Ei, Chiquititas é da minha época! Não sabia que as crianças conhecem.

- Da sua época é o original, né, amor? - Lica alfinetou. - Chiquititas não sai dos mais assistidos na Netflix até hoje!

- Cadê a Nina? - Isabella questionou, se jogando no banco da frente.

Eu abri um pouco meus braços e permiti que a irmã mais velha tivesse uma visão melhor da mais nova. Ela colocou uma mãozinha pra frente na tentativa de fazer carinho.

- Cuidado, sim? - Lica pediu. - Ela é muito pequenininha.

- Quando a gente chegar em casa você vai poder ficar com ela a vontade. - Garanti.

As músicas de Chiquititas continuaram baixinho, mantendo duas crianças animadas no banco de trás, porém em um volume controlável para não perturbar a bebê em meu colo.

- Vocês vão encontrar outras pessoas lá também, ok? - Lica lembrou de contextualizar. A gente não sabia se eles estranhariam ou não, achamos por bem avisar antes.

- Quem? - Isabella perguntou, com a expressão de pura curiosidade.

- Minha irmã, que vocês podem chamar de tia Clara, e minha mãe, a vovó Marta - Lica começou, explicando devagar. - a tia Keyla e o Tonico...

- Ele é criança também? - Eu ri com a interrupção da menina.

- Ele é um pouquinho maior que você, tem quase onze anos. - Eu respondi. - É filho da Keyla, uma grande amiga minha.

- E tem a vó das Dores também. - Eu finalizei.

A matriarca da família Rodrigues, devido a frustração de não ter bisnetos nem de Anderson e nem de Ellen, exigiu que fosse presente na vida dos nossos filhos, e claro que jamais negaríamos isso a ela.

- E depois, mais tarde, outros amigos nossos vão chegar também. - Lica completou. - São todos ótimos, vocês vão adorar.

- A gente vai morar aqui? - A nossa tagarela perguntou assim que o carro entrou na garagem do prédio.

- Por enquanto ainda não, meu amor. - Lica explicou, estacionando o carro. - Mas se tudo der certo, logo, logo, vocês vem. Se vocês quiserem, claro!

- Eba!! - Nosso menino falava poucas palavras, então quando se manifestava sempre arrancava risadas de todos.

Lica saiu do carro e ao abrir a porta de trás, encheu o Lucas de cócegas. O menino gargalhou alto e conseguiu escapar dela, saindo do veículo.

- Lucas, não corre! - Eu levantei a voz. - Cuidado com os outros carros. - Alertei, notando que ele prestou atenção em mim e Lica conseguiu segurá-lo.

Os dois deram a volta no carro e Lica abriu a porta para que eu saísse com Nina nos braços. Com a mão livre, segurei na mãozinha dele.

- Espera aí, já volto! - Lica colocou a cabeça dentro do carro e falou com Isabella.

Correu pra mala do carro e pegou a cadeira de rodas dela, logo depois tirou a menina do carro e a colocou na cadeira.

- Tudo certo? - Lica sorriu pra ela, suspirando. Isabella respondeu com um joinha levantando um dedão e um sorriso gigante. Adorável. - Então vamos?

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⏰ Last updated: Mar 24, 2021 ⏰

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