Os culpados

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O mostrador dos níveis de emergência bruxa alertaram, soando os alarmes estridentes, piscando em vermelho berrante, justamente quando Tina surgiu nas escadarias abaixo. Carregava a maleta de Newt, olhando para todos os lados e percebendo a movimentação dos aurores, que se desembestavam a fim de descobrir o que estava acontecendo. 

A escuridão do horário fazia brilhar apenas o dourado do símbolo do governo bruxo norte-americano, quando Tina desapareceu por entre os elevadores. Ninguém impediu sua passagem. 

Metros acima, o conjunto político dos bruxos mais importantes do mundo se reunia em uma sala de reuniões sombreada por uma luz púrpura desbotada. Homens e mulheres vestidos com base na formalidade de suas culturas apresentavam o público mais vasto e excêntrico que poderia se reunir em uma cidade vigiada por pessoas conservadoras e lunáticas como Mary Lu Barebone. 

Naquele momento, quem falava era um representante de um dos países europeus, a barba castanha que se desfazia em fios grisalhos bem aparados se movimentava rapidamente enquanto ele discursava com efusão. 

— Nossos amigos americanos permitiram uma quebra ao Estatuto de Sigilo que ameaça  expor todos nós — disse ele, encarando a impressionante Madame Picquery, acima de um altar. Sua posição era quase sagrada em comparação aos demais, posicionados numa plateia de bancos de madeira escura. A presidente usava um robe azul escuro costurado com fios de ouro nas mangas e no peito, como asas abertas de uma águia. Sobre seus cabelos loiros, quase brancos, uma touca de folhagens de bronze lembrava uma coroa. 

Logo atrás, estava o assento principal, o trono do soberano governo estadunidense, em ouro puro e marcado pela silhueta de uma águia. 

— Não vou ser repreendida pelo homem de que deixou escapar Grindewald — replicou ela, olhando aos poucos, consternada, mas calma. À sua direita, Graves ergueu a cabeça ao ouvir uma voz conhecida que interrompeu a sessão. 

— Sra. Presidente, desculpe interromper, mas é que a situação é crítica... — a voz de Tina foi se perdendo enquanto ela se aproximava com a maleta e percebia onde havia adentrado. Todos os olhos se voltaram contra e ela e a ex-auror sentiu-se como se estivesse em um julgamento. 

Andou sobre o próprio eixo, vendo todos aqueles rostos diferentes a espera uma boa justificativa pela  intromissão. Abaixo da estrela de cinco pontas desenhada no chão, o fulgor de uma magia pálida que fazia lembrar um céu muito estrelado se desmanchava antes de chegar às cabeças dos presentes. 

— É bom ter uma excelente desculpa para esta intrusão, srta. Goldstein — disse a presidente. Tina engoliu em seco. Sentiu-se uma criança levada que saira gritando em meio a conversa dos adultos. 

— Sim, eu tenho — respondeu, tomando coragem de se aproximar, focando-se naquele rosto soberano, mas o único que não provocava-lhe o pânico. — Senhora, entrou ontem em Nova Iorque um bruxo com uma, esta mala...

Ela não percebera, mas às suas costas, uma figura holográfica bailava ao redor do salão sombreado. Tinha a forma do corpo de um homem morto que bailava sobre águas profundas. 

— ... cheia de criaturas mágicas. E infelizmente algumas delas fugiram. 

— Esse homem chegou ontem? — indagou a presidente, calmamente. Tina assentiu, obediente. — Você sabe há 24 horas que um bruxo sem registro deixou criaturas mágicas soltas em Nova Iorque e só resolve nos contar depois da morte de um homem? 

O peso da resposta se abateu sobre Tina como o das centenas de criaturas que carregava na diminuta maleta. Não era possível. Lembrou-se das luzes se apagando no centro da cidade, enquanto ela procurava por Newt e o no-maj. Era sua culpa, havia deixado a confusão continuar impune... Havia deixado um homem ser morto. 

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