Acordei em um sofá, coberta por um lençol velho, em meio a uma sala de pintura clara. Uma TV velha passava um programa noticiário, mas a tela parecia destorcida. Apertei o lençol ainda mais em volta de mim, enquanto apertava os olhos.
-Tudo bem agora – alguém disse. Uma voz que eu já conhecia.
Matt tinha pouco mais de 1,80; olhos castanhos claros; uma covinha gigante que se formava em sua bochecha toda vez que ele sorria; a pele mais clara que o normal e um nariz um pouco rebitado. Seu cabelo entre liso e cacheado combinava com os olhos e caia em tons claros e escuros até os ombros. Ele era a única pessoa que eu me lembrava de conhecer que conseguia erguer apenas uma das sobrancelhas.
-Onde está minha mãe? – perguntei, esperando que ele tivesse descoberto.
Ele se sentou na ponta do sofá onde meus pés não alcançavam e descansou a cabeça no encosto.
-Não sei, mas eu não posso te dar esperanças – ele deu um sorriso triste. Sua covinha não apareceu tanto quanto sempre aparecia.
Franzi a testa e me sentei, ainda apertando o lençol.
-Você não acha que ela esteja com vida, não é?
-Eu não vou te dizer nada sem saber o certo, Allen, mas não posso dizer que acredito que ela esteja bem – ele baixou os olhos. – Sinto muito.
Mas eu não conseguia acreditar que ela não estava bem, ela tinha que estar... Alguém a tinha pego, ou ela tinha fugido achando que teria me deixado segura, mas ela estava viva. Eu tinha que acreditar nisso. Apertei os olhos segurando uma lagrima que quase escorreu.
-Quem é ela? – perguntei baixinho, mais para eu do que para ele. Eu havia falado um pouco com a mulher na noite anterior, mas ela não tinha respondido muita coisa.
-Ela? – perguntou Matt, com uma sobrancelha levantada.
-Sônia.
-Minha vó – ele sorriu, parecia ter sido automático ao em vez de proposital.
-Então ainda tem pessoas da sua família aqui – sorri.
Ele deu de ombros e pareceu se prender em algum pensamento.
-Só minha vó e meu tio, mas ele está a vários quilômetros daqui – ele brincou com os dedos da mão. - O restante da minha família está em outras cidades, ou já se foram... O importante é que ainda resta alguém com vida. Inclusive fico feliz que esteja bem.
-O mesmo de você – deixei meus pés tocarem o chão avermelhado - um vermelho tão sujo e escuro que parecia outro tipo de cor -, eles esfriaram assim que deixaram a coberta, porem os deixei lá. – É bom saber que ao menos alguém que eu conheça esteja vivo.
Ele assentiu, mas não disse nada.
-Alias, por que sua vó arriscou a vida para me salvar? Quase não sai da casa... – senti um arrependimento assim que as palavras saíram, parecia que eu não estava agradecida. – Quer dizer... Minha mãe mandou que eu ficasse no quarto.
-Porque eu pedi que fosse – respondeu ele, sem nenhuma diferença na voz.
-Por quê? Ela poderia estar morta.
-Quando invadiram minha casa quando eu tinha dez anos você mandou seu pai lá para tentar me ajudar a sair, inclusive não o vimos mais depois disso. Sinto muito – ele baixou o rosto até não dar para ver seus olhos. – Eu não poderia deixar você morrer.
-Mas ela é sua vó, e minha mãe...
-Tinha esperanças de que ela viesse com você. Quanto a minha vó, eu sabia que ia ficar bem, ela já tinha passado por coisas semelhantes antes.
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A Outra Vida De Allen - A Lenda Da Phoenix
Fiction généraleCerto dia alguns rebeldes - participantes de uma guerra diferenciada - estão atacando o lugar onde Allen vive. Ela se encontra sem a mãe e sem nenhuma maneira de se defender. Enquanto tentam continuar com vida Matt, um amigo de infância, conta a ela...