O trajeto foi tranquilo e Dante conseguiu desviar do trânsito lento facilmente. Todo o meu corpo gritava por descanso e sono, mas o vento forte e frio batendo constantemente em meu rosto me fez entrar em uma espécie de transe e batalha mental entre o torpor e a vigilância.

— Chique. — Ele disse depois de parar em frente ao hotel, observando-o. — Você sabe que pode...

— Não precisa, Dante. — Eu sabia o que ele iria perguntar, novamente seria sobre sua proposta para morar com ele, apenas antecipei a resposta. — Eu vou dar um jeito. — Há poucos dias desde que eu cheguei em Nova Iorque e meus planos resolveram não funcionar, o que é raro, então ter pelo menos uma coisa sob meu controle seria bom para variar. Bom, eventualmente, seriam duas coisas: as minhas coreografias para a Sensuous e o lugar onde irei morar. Novamente recusei a oferta de Dante e me despedi dele, devolvendo seu capacete.

Tentei aproveitar minha última diária ao máximo, enchi a banheira até a água quente chegar perto da borda, usei sais, óleos e pétalas de rosas. A água transbordou no momento em que mergulhei meu corpo na banheira, eu não me importei. O banheiro tem uma vista incrível de Nova Iorque, uma que eu nunca poderei esquecer, às vezes, antes do Sol aparecer, é como se estivesse nas nuvens.

Depois do longo banho, deitei na grande e confortável cama de casal, deixando minhas costas relaxarem aos poucos sobre os lençóis macios. Eventualmente o cansaço me alcançou e eu não lutei contra ele.

Paz. Era o que eu precisava.

Sábado. Uma nova jornada à procura de uma casa. Eu não estava pronta para sair do conforto do hotel três estrelas em que me hospedei, por isso tentei estender minha estadia. Não funcionou, o hotel é muito conhecido entre turistas e empresários que viajam para Nova Iorque a trabalho, portanto ele sempre está cheio de hóspedes e quartos lotados, os únicos quartos disponíveis custavam mais do que o resto do meu dinheiro poderia pagar.

Então procurei pelos panfletos amassados de casas a apartamentos para alugar no fundo da minha bolsa, praticamente rezando para que, no fim do dia, eu estivesse embaixo de um teto, livre de preocupações. Me custou algumas voltas pelo Brooklyn e uma parte do Queens até achar um prédio de apartamentos para alugar há vinte minutos de carro da Sensuous, o que é um ponto positivo.

O apartamento não é nada impressionante, tampouco o prédio, mas o aluguel não é caro, outro ponto positivo. A cozinha e a sala ficam em um ambiente só, em um conceito aberto, não é um espaço grande, o máximo que eu posso fazer aqui é me alongar no chão de madeira escura entre o sofá e a pequena televisão. Na cozinha tem um balcão que divide o espaço da cozinha do espaço da sala, o balcão também serve como uma mesa, contendo bancos altos embaixo dele. O espaço da cozinha é ainda menor e mais apertado, eu mal precisaria me mover para alcançar o que preciso ali, bastava girar o corpo. Há apenas um quarto no apartamento inteiro, intitulado como "suíte com banheiro", porém a cama de casal média lutava pelo espaço com o grande guarda-roupa de madeira clara, uma porta estreita ao lado direito levava ao também banheiro estreito, contendo apenas o necessário.

Eu poderia me sentir sufocada aqui se não fosse as grandes janelas da sala e do quarto, elas deixam muita luz entrar, muito ar circular, o que me deixa mais calma.

Consegui fechar negócio antes das três horas da tarde, o horário que deveria fazer o check-out do hotel. Subir dois andares de escadas com mais de três malas grandes não foi tão complicado quanto eu esperava, mas, mesmo assim, precisei encostar no balcão para retomar o fôlego.

O resto do fim de semana foi mais cansativo. Eu não sei quem viveu ali, poderia ter sido um drogado, um traficante de drogas, uma pessoa acumuladora ou alguém desleixado que deixou cair refrigerante de uva no sofá cinza. A limpeza durou por muitas horas e eu tive que arranjar ideias criativas para tudo estar no mais perfeito estado. 

Start Dancing [HIATUS - REESCREVENDO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora