Oásis (Yoonseok/Sope)

Seis.

O mais velho tinha o contado histórias em que pretendentes ricos perseguiam sua mão e dos horrores da atenção massiva que recebeu; Jae tinha sido molestado e abusado sexualmente várias vezes, e ao seu redor, ômegas o desprezavam por sua boa aparência que o ajudaria a escapar do ciclo da pobreza. Mas tudo tinha sido arrancado dele.

Um olho cego, metade do rosto queimado e horrivelmente desfigurado. Seu omma nunca falou como acabou assim e Hoseok nunca bisbilhotou, mas presumiu que a consequência tinha sido de um ataque com ácido — eles eram bem comum no passado, quando ômegas ousava desobedecer seus alfas. Jaejoong também nunca tinha o falado sobre seu appa mas, não havia dúvidas de que ele desprezava quem quer que fosse.

E não havia dúvidas que ele também desprezava o homem, tanto quanto.

As pálpebras do ômega se fecham e ele envolve seus braços ao redor de si mesmo. Anos já se passaram mas, ainda não conseguia se esquecer de quando viviam roubando restos de comida por aí e morrendo de fome até que suas costelas se projetassem grotescamente; seu omma dava o máximo de si, mas ele também estava se deteriorando. Dia após dia.

É, não era fácil desvincular-se de sua infância atormentadora.

— Hobi hyung?

Hoseok apressadamente enxuga os olhos e se embola no sofá, fingindo dormir. A voz grogue o chama mais uma vez, os passos crescendo em decibéis antes de parar. Momentos se transformam em pânico convoluto e nos terrores de suas pálpebras fechadas, a escuridão invadindo cada canto. O calor se materializa contra e ele quase comete o erro de se mexer.

Jimin coloca um cobertor sobre ele e Hoseok sente uma breve umidade contra sua testa. Uma risadinha suave escapa do Park junto com uma calmaria relaxante.

— Quando é que essa coisinha linda vai encontrar um alfa? — Jimin suspira, dedos enfiados nos seus fios negros. — Nesse ritmo, vai acabar se casando comigo. — ele ri e acaricia sua bochecha. — Sim, Hobi, eu não posso sair e conseguir um namorado por sua causa. Sabe quantas pessoas eu tenho que recusar por você? — ele mesmo se responde enquanto tagarela brincalhão. — Apresse-se e arranje um bom alfa para que eu não tenha que me preocupar mais com você hyung.

O calor da mão nos seus cabelos desaparece e os passos diminuem a medida que o amigo se afasta. Hoseok abre os olhos, o peso ainda em seus ombros. Não importa se Jimin estava brincando ou não, ele sabe que há um fundo de verdade no que o outro disse.

[..]

Horas passam e Hoseok se encontra no meio de sua rotina como de costume, caminhando pela rua com Jimin agarrado ao seu braço. É sufocante. O ar poluído parece se enroscar em seu pescoço e se contrair proporcionalmente. Sua mente se debate, mas ele abre um sorriso para o menor em uma tentativa de o tranquilizar. Min Yoongi o segura nos recônditos de sua mente e ele quase vomita no meio do caminho, estremecendo violentamente com a memória intrusiva e repentina. Jimin o encara preocupado e trata de balbuciar suavemente:  — Eu estou meio enjoado hoje. Acho que bebi muito leite.

— Eu te disse para não beber muito. — o mais novo reclama, dando tapinhas nas suas costas gentilmente. Ele se inclina para trás e o oferece um sorriso encorajador.

Hoseok força um sorriso de volta, acenando e girando roboticamente em direção à porta da empresa onde trabalha.  A cautela o acorrenta pouco a pouco enquanto caminha pelo prédio, aumentando sua sensibilidade que observa cada volta da cabeça e murmúrios incoerentes. Apesar disso, nada parece de fato errado. Jungkook o cumprimenta como de costume — os olhos brilhantes como o céu mais estrelado — e eles concordam em almoçar juntos.

Quando finalmente chega em sua mesa em segurança, Hoseok se acomoda desconfortavelmente. O tempo passa e enquanto muitos colegas se afastam para almoçar, ele se recosta na cadeira e fecha os olhos, cansado. Sinceramente, não sabia como ainda estava vivo; tinha enganado uma empresa multinacional e não apenas estava sendo liberado da lixação como também estava tendo permissão para manter sua identidade e continuar trabalhando lá? Não fazia sentido...