[31] A teoria do carma

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Acordei na manhã seguinte metade ansiosa, metade decidida. Me arrumei ao som de Hotel California e me sentei na frente do computador antes que Mia gritasse lá de baixo que já estava entrando no carro. Aquele foi o momento no qual eu gosto de nomear como A Decisão. Foi o momento no qual eu senti que devia seguir meus instintos, mesmo que tudo pudesse acabar dando errado. Em poucos minutos concluí minha missão e desci para tomar meu café como se nada tivesse acontecido. O próximo passo era agir como se tudo estivesse dentro dos conformes. Era só questão de tempo para que meus olhos mudassem um pouco de cenário. Estava super animada para fazer as malas para Califórnia.

"Você está sorrindo." Gillian me encarou enquanto subíamos os degraus em direção a parte interna do Foutman Institute. Havíamos nos encontrado no estacionamento segundos a este momento. Ela estava prendendo sua bicicleta e eu estava saindo do carro de Mia. Quando a encontrei, fiquei tentada a contar que eu ia para a Califórnia, mas no último milésimo de segundo, desisti. Tudo bem ela ser minha amiga, mas não era como se ela fosse entender exatamente porque uma garota de 16 anos resolveu que iria largar as coisas por aqui, incluído as aulas e emprego e viajaria a Califórnia sem um motivo aparente. "Sem parar. Ganhou na loteria, é?"

"Quase isso."

"Parece até que..."

"Ei, Ashe!" Alguém gritou meu nome do nada e eu virei minha cabeça para trás. "Quase não te alcanço!"

"Ah oi Mark." Disse, fazendo com que Gillian arqueasse as sombrancelhas de modo sugestivo. "E aí?"

"E? E isso o que você diz? Você se esqueceu de ontem?" Ele franziu a testa Acho que nós precisamos conversar. De novo.

Gillian abafou uma risada. Nós havíamos parado ao lado das portas de entrada ao colégio e vários alunos corriam para suas aulas. O dia estava bonito, ensolarado, o que me deixava otimista com a vida. A não ser por aquela frase estranha acompanhada do olhar sério que Mark jogou em cima de mim.

"Bom, acho que vou indo." Gillian dividiu o olhar entre Mark e eu. "Não quero atrapalhar de modo algum a conversa. Até mais pessoal."

E saiu assobiando.

"Tá." Olhei para Mark. Ele estava muito
anos 90 naquela manhã. Pela primeira vez, aquele garoto não estava usando a jaqueta do time de futebol americano do Foutman, e sim uma blusa flanelada de manga comprida dobrada nos lugares certos e com os botões totalmente abertos que ostentavam uma camisa branca com a estampa de uma banda que eu não conhecia. Seu cabelo estava amarrado, mas algumas mechas rebeldes escapavam, garantindo aquele seu charme típico. Eu estava impressionada com todo aquele look. - Uau. Você está diferente. Resolveu pendurar o casaco? Ou ele está na lavanderia?

"Resolvi pendurar. Literalmente." Ele arqueou as sombrancelhas e deu um passo a mais na minha direção. "Saí do time."

"O que?! Por que? Como?" Não consegui evitar ficar de boca aberta. "Não acho que estou tendo alucinações. Me diga que estamos em um sonho por favor."

"É verdade. Não a parte do sonho, porque isso aqui é o mundo real, acredito eu. Depois que saí da sua casa, fiz uma ligação ontem à noite para meu treinador. Engraçado, um monte de coisas engraçadas aconteceram noite passada. Fiquei pensando sobre a minha vida e... Droga, eu só jogava no time com a intenção de ingressar em uma faculdade. Mas nem sei qual faculdade vou fazer, se é que vou fazer uma, então para quê perder tempo em uma coisa que eu gosto minimamente, se eu posso investir todas as minhas energias em coisas que realmente curto? Foi exatamente esse tipo de reflexão que tive ontem."

"Uau. De novo." Ele sorriu com minha expressão surpresa e eu também sorri porque ele aparentava estar animado com sua decisão. "Mark Elliot não é mais um quarterback? Abdicou seu posto em um time de renome estadual, abdicou sua popularidade por suas paixões? Tudo isso é muito chocante. Super chocante e empolgante! Estou muito feliz por você!"

A Teoria da Faixa TrêsWhere stories live. Discover now