[28] A teoria da motivação

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A biblioteca do colégio soava como um retiro espiritual no meio de tanto drama que compunha aquele dia. Dei um alô para Alice, devolvi o livro emprestado e me aventurei pelos corredores atolados de livros, me sentando entre duas estantes quando me cansei de andar. Foi um alívio sem igual sentir o gostinho do silêncio e da onda de aconchego que eu sempre sentia quando estava rodeada de livros. Infelizmente eu não tinha tempo para apreciar qualquer obra dali. Peguei a contragosto o escrito de Paco Hernández, dois marca textos de cores pastéis e voltei a reler as aventuras daquele pianista chato.

1 de Agosto. Tudo ficou mais difícil por aqui. Minha esposa não está mais entre nós, mas sinceramente eu não estou triste por isso. Abalado seria a palavra correta para descrever um pouco do meu choro, choque e confusão que eu estou sentindo desde o funeral. Minhas crianças é que não param de chorar por um só segundo e isso está começando a me irritar. Mas enfim. Como não tempo para dedicar a elas, minha mãe virá morar conosco para manter um olho maternal em tudo. Não vou precisar abandonar o tempo livre que gasto em estudo e experimento com as faixas e acho que essa é a maior vitória.

8 de agosto. Fazem uns 2 dias que estou em  Carmel. Jace está comigo e estou me divertindo como nunca. Bebemos, fizemos apostas estúpidas e o melhor: Ele me contou lendas havaianas. Fiquei horas ouvindo as lendas mais fantásticas que eu já tinha ouvido. Uma delas tem uma relação absurda com a história de Galbone Hill. A história fala basicamente sobre uma princesa que escuta uma música, acaba subindo em um vulcão e morre. Não é incrível?

O parágrafo seguinte era um anexo da lenda na íntegra, escrita a mão. A letra não era a das mais fáceis, então estreitei os olhos para tentar decifrar algumas palavras. De repente senti um arrepio na nuca e levantei a cabeça. Mark Elliot e a senhora Alice estavam começando a entrar no corredor onde eu estava.

"Ah, aí está ela!" Exclamou senhora Alice, deixando escapar da sua voz uma espécie de alívio. "Sabia que você estava por aqui!"

"Voalá, me acharam." Cantarolei um pouco atônita pelo movimento. Mark olhou para mim, depois para senhora Alice, se balançando para lá e para cá sem sair do lugar. Me levantei e dei batidinhas na minha calça. "Hum, infelizmente vou ter que ir. Esse lugar é um santuário e por mim eu ficaria aqui para sempre."

"É minha vontade de todos os dias, minha filha. Foi por isso que resolvi passar a maior parte dos meus dias aqui, enfiada no meio desses livros. É a melhor coisa que eu poderia fazer."

Balanço a cabeça positivamente com um sorriso. Ela também sorri, fracamente.

"Tudo bem garota, vá. Boa sorte com o que estiver enfrentando." Ela divide o olhar em e Mark. "Vocês exalam ansiedade. Se pudessem ficar um pouco mais, com certeza eu lhes ofereceria um pouco de chá de camomila."

"Não recuso esse chá, senhora Alice." Mark disse em um tom que eu não consegui identificar. "Ao contrário, vai ótimo se nós pudermos remarcá-lo para um próximo intervalo."

Não sei se foi por causa da resposta ou do sorriso gentil de Mark ou da mistura dos dois, mas a senhora Alice abriu um sorriso grande e animado. Fazia um bom tempo que eu não a via tão empolgada.

***

"Você leu sobre a lenda?" É a primeira coisa que eu pergunto, quando andamos pelo corredor.

"Sim. E apesar de ela me deixar extremamente desconfortável, o que você, sua irmã e Pearl fizeram mais cedo com a Astrid superam isso." Ele parou de repente e me encarou. "O que vocês tinham na cabeça?"

"Não sei te explicar direito." Comecei a gaguejar. "Foi coisa do momento, ok? E você meio que deveria me agradecer por isso, agora que a Pearl sabe que o boato que ronda o colégio sobre nós dois não passou uma invenção da Astrid Berg."

A Teoria da Faixa TrêsTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon