[39] A Teoria do regresso

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PENÚLTIMO CAPÍTULO


Algumas horas depois, eu estava bem o bastante para tomar um banho, juntar minhas coisas e me encontrar com Mark no corredor do hotel. Não podíamos perder mais tempo. Se esperássemos o dia amanhecer para pegar o primeiro ônibus, estaríamos ferrados. Nesse meio tempo, liguei para Gillian avisando que estava voltando e que provavelmente estaria na nossa cidade muito antes do horário de aula. Não sabia como teria energia para frequentar aulas, mas eu precisava ir ao colégio se não quisesse levantar mais suspeitas.

"Ah, que notícia boa." Ela vibrou do outro lado do celular. "Parece que você viajou há séculos atrás. Posso te esperar na rodoviária se quiser."

"Não, não se preocupa com isso." Eu disse, caminhando à fila de passageiros, ao lado de Mark. "Preciso ligar para Mia. Ainda nem falei com ela. Ela falou mais alguma coisa?"

"Hoje não. Mas é melhor você falar com ela mesmo."

"Vou falar. Bom, estou na fila, prestes a embarcar. Em breve estou aí!"

"Ok! Boa viagem amiga."

Encerrei a ligação e cliquei no contato de Mia. O número chamou, chamou e acabou caindo ma caixa postal. Quando eu estava prestes a ligar de novo, ela retornou em uma chamada de vídeo.

"Ai meu Deus. Ai meu Deus!" Eu olhei para os lados, não sabendo como proceder. Mark tentou olhar para minha tela.

"O que foi?"

"Mia está me chamando para uma chamada de vídeo! Se eu recusar, ela vai desconfiar."

"Deixa ela te chamar e depois diz que estava ocupada, inventa uma desculpa, sei lá."

"Não é tão fácil assim. Mia sabe quando estou mentindo apenas pelas mensagens que eu mando. Não vai rolar, vou ter que contar para ela onde estou pelo menos. O resto eu consigo inventar."

"Então acho melhor você atender. Invente uma história sobre nós dois. Diga que está completamente apaixonada por mim e que resolvemos viajar por impulso porque somos adolescentes, e adolescentes fazem esse tipo de maluquice." Ele abriu um sorriso maroto, no qual me fez sorrir também.

"Eu não posso dizer que estamos juntos logo de cara. Ela vai ficar chocada. Vai querer contar para meu pai e aí-" Ele se inclinou e deslizou seu dedo na tela do meu celular, atendendo a chamada. "O que você... Ah ei!"

"Até que fim!" O rosto delicado de Mia preencheu a tela do meu celular. Ela parecia deitada na cama e estava usando seus óculos de leitura. Notei que seus olhos deram uma passeada pelo ambiente rodoviário antes de se concentrarem em mim. "Tudo bem. Por onde você andou, Ashe? Te procurei ontem pelo Foutman como uma louca. E pelo o que estou vendo, você está em uma rodoviária?"

"Ah é, estou sim." Respondi, tentando pensar em como amaciá-la antes de inventar qualquer besteira. "Bom, como você está? Chego em casa amanhã."

"Ah sim. Você deixou um bilhete falando que dormiria na casa da Gillian. Ashe, sei que esse bilhete é mentiroso. Você não está dormindo na casa da Gillian. Para onde foi ou está indo? Quer me fazer o favor de me contar, por favor? Estou preocupada com você."

"Ah bem..." Nada vinha à cabeça. Nada mesmo. Nadinha de mesmo. "Bom, temos que começar pelo começo, eu acho. As histórias sempre começam assim, não é mesmo? É o tal do começo, meio e fim. Se bem que existem histórias que começam com um final e aí temos aquela volta ao passado, onde conseguimos compreender-"

Não consegui completar meus devaneios, pois Mark pegou o celular da minha mão e abriu um sorriso brilhante para a câmera. Tentei resgatá-lo, mas ele era mais alto e se esquivava um pouco cada vez em que eu dava um pulo para pegá-lo.

A Teoria da Faixa TrêsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora