○46. - Fortaleza de Amélia Conti

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 O outro soldado junta-se a eles na pequena tenda, muito parecida com a que Alex viveu. Naomi e Alex põe-se de pé em um instante, de frente para eles.

A mulher mais velha se explica.

— Meu nome é Kássia. Esse é meu filho, Paulo.

Podem notar as semelhanças entre os dois. O mesmo nariz e boca. Os olhos de tonalidades diferentes. Os dela são pretos como jabuticabas. Os dele, verdes cor de mar.

— Não estamos aqui porque apoiamos essas pessoas, estamos aqui porque desde o começo nos prometeram proteção se lutássemos ao lado deles. Não me orgulho disso, mas... fizemos o que precisávamos para sobreviver. Até que há alguns anos começaram os sorteios... Os filhos da puta estavam matando essas crianças, isso foi a gota d'água. Tenho certeza que não fomos só nós a achar isso, sabe? Muitos vieram com a mesma promessa que nós.

Alex concorda com a cabeça, se colocando no lugar da mulher e do filho com empatia. Teria feito o mesmo.

— Mas como nos rebelaríamos? É impossível, teriam nos matado antes mesmo que pudéssemos tentar. Então só... Estamos do lado de vocês.

Seu filho, Paulo, não dissera uma palavra. Deve ter a idade de Cauã, Naomi calcula.

As duas garotas se encaram. Mãe e filho parados à frente delas haviam acabado de salvá-los. Não teria porque não confiarem neles, mesmo que com o pé atrás.

— E as coisas não ficaram mais fáceis depois que vocês saíram. - A voz de Paulo é ouvida pela primeira vez, grossa, indicando com a cabeça à Alex e Nic.

— Como assim? - Nic pergunta, repousado na parede.

— Vocês sumiram, um depois do outro. Qualquer explicação que eles puderam dar a essas pessoas só podia ser inacreditável.

— Houve uma... revolta. - A mulher completa.

— Revolta? - Alex cruza os braços, intrigada.

— É claro. Veja bem, garota, vocês todos estiveram presos aqui juntos por quase uma década sem ter pra onde ir. No dia em que você ganha na loteria você supostamente foge, e seu melhor amigo, preocupado com o que aconteceu, desaparece no dia seguinte. É óbvio que estavam ocultando algo deles. E nós sabíamos...

— Então? - Naomi pergunta, permitindo-se sentar entre Levi e Nicolas, pensativa.

— Então decidimos tomar partido, já que dessa vez tínhamos motivo pra acreditarem em nós.

Antes que possam continuar, duas pessoas irrompem pela tenda, fazendo com que todos os presentes se sobressaiam.

— Cacete, que saudades! - Nicolas tenta se levantar para abraçar os amigos, mas eles são mais rápidos em ir até ele. O garoto excessivamente branquelo e a morena com tranças, o casal que estivera com eles no dia do sorteio, corre para abraçá-lo.

— Você é osso duro de roer, hein, Nicolas? O que aconteceu com a sua cara? - A garota pergunta, bagunçando seu cabelo.

— História pra mais tarde. - Ele comenta.

— Temos que terminar o que começamos aqui. - Kássia comenta.

— Como assim decidiram tomar partido? - Levi se esforça para perguntar.

Ava sorri. Fez parte de tudo desde o início.

— Esses dois vieram me pedir ajuda em uma falsa consulta no hospital. Me contaram o que havia acontecido com Alex e Nic e precisava de ajuda pra informar todas essas três mil pessoas. Todas mereciam saber.

Depois da RuínaWhere stories live. Discover now