Capítulo 13

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Milena
 
— Oi, Miguel. Como estão as coisas?
 
— Estão bem. Aos poucos estão conseguindo arrumar aqui, mas a inauguração foi adiada.
 
— Lembra que Deus sabe de todas as coisas e Ele faz tudo certinho.
 
— Eu sei sim. Tenho certeza disso.
 
— Vou continuar orando por você e pra que tudo dê certo no restaurante.
 
— Obrigado!
 
Alguns dias já tinham se passado desde o incidente no restaurante de Miguel, e Milena ficou bem preocupada. Ela percebeu que isso o tinha abalado e orava todos os dias pra que tudo se resolvesse logo.
 
— O que foi, filha? – Elisa perguntou quando Milena entrou na cozinha.
 
— Estou preocupada com o Miguel... – ela estava olhando para a foto dele no celular. – Ele está tão triste por causa do que aconteceu no restaurante...
 
— Eu posso imaginar...
 
— Chegamos! – Bruna anunciou empolgada, entrando na cozinha. – Tô doida pra comer a comida da tia Lucy! – ela se aproximou do fogão e tirou a tampa de uma panela.
 
— A Bruna é super mal educada – Jaque deu um beijo no rosto de Lucy. – Precisa de ajuda, tia?
 
— Eu só não perguntei porque sei que ela nunca deixa a gente ajudar... – Bruna justificou, sentando-se perto de Milena à mesa.
 
— Mas pelo menos seja educada – Jaque sentou-se à mesa também. – Mi, que cara é essa?
 
— Tô preocupada com o Miguel. Ele anda tão mal por causa do restaurante...
 
— Por que você não chama ele pro boliche? – Bruna sugeriu.
 
— Boliche?
 
— Boa ideia, Bru!
 
— Esqueceu que hoje vamos pro boliche com o pessoal da igreja?
 
— Ah... verdade. Mas... sei lá. Não é estranho eu chamar ele do nada?
 
— Ele precisa se distrair. Acho que é uma ótima opção...
 
— Além de vocês ficarem pertinho um do outro... – Jaque abriu um sorriso travesso.
 
— Pode parar com a brincadeira, tá? E... e se ele pensar isso também?
 
— Eu acho que pode ser uma boa ideia – a mãe se pronunciou. – Não serão só vocês dois lá e a sua intenção é somente para alegrar um amigo.
 
Milena ficou pensativa e então decidiu seguir os conselhos. Ela mandou a mensagem e Miguel gostou bastante da ideia.

[...]

No início da noite, as três amigas foram ao Boliche da cidade.
 
— Relaxa, Milena! Ele não vai achar que você está dando em cima dele...
 
— Vocês estão tranquilas porque não é com vocês... E vocês adoram me ver nervosa perto dele...
 
— Prometemos não fazer nada – Jaque levantou a mão direita.
 
— Eu tô de boa... – Bruna sorriu.
 
— Bru... pelo amor de Deus! Não faça nada...
 
— Olá meninas – Miguel se aproximou.
 
Milena olhou para ele assustada.
 
“Será que ele ouviu?”
 
— Milena, responde o menino! – Jaque deu uma leve cotovelada no lado da amiga.
 
— Ah, sim. Oi, Miguel – ela sorriu sem graça.
 
— Jaque, vamos ali, olha! – Bruna puxou a amiga e deixou Miguel e Milena sozinhos.
 
Milena revirou os olhos. As duas iam mesmo deixar ela ali sozinha com ele?
 
— Obrigado pelo convite. Faz um bom tempo que não jogo..
 
— Que bom que você gostou... Eu, na verdade, nunca joguei.
 
— Sério? Nunca veio aqui?
 
— Sim... mas eu geralmente fico só na torcida...
 
— Como é que é? – Miguel cruzou os braços e sorriu.
 
— Eu não sei jogar... Se eu jogar, meu time vai perder.
 
— Quanta negatividade, senhorita Milena.
 
— Juro que é verdade! – ela riu. – Não vou pagar esse mico na sua frente!
 
— Você não vai pagar nenhum mico! – Miguel pegou a mão de Milena e a puxou em direção à locação dos sapatos para boliche. – Vem!
 
Milena não conseguiu se concentrar muito bem no que estava acontecendo. Ela apenas olhava para sua mão, que Miguel estava segurando. E era a melhor sensação do mundo.
 
"Ele está segurando minha mão! Ai meu Deus."
 
— Qual o seu número? – Miguel perguntou ao chegarem no balcão.
 
Milena ainda olhava encantada para as mãos conectadas. Miguel soltou rapidamente e então Milena despertou.
 
— Me desculpe – ele pareceu sem graça.
 
Milena não conseguiu responder. Por mais que aquele fosse um simples toque, ela jamais tinha segurado a mão de um garoto. E aquela era a mão do Miguel. Ela se lembrou das palavras de sua mãe, sobre controlar suas emoções. Então, sorriu e se aproximou mais do balcão.
 
— Eu não acredito que você vai me fazer jogar... Meu número é 36.
 
— Você vai ver que não é tão difícil...
 
Depois de colocarem os sapatos adequados, Miguel ensinou Milena a jogar. Ele mostrou a ela como segurar a bola corretamente e jogou para ela ver como ele fazia.
 
Parecia fácil, mas as primeiras tentativas de Milena foram frustrantes.
 
— Eu não vou conseguir, Miguel. Eu sou péssima!
 
— Olha só... – ele ficou ao lado dela. – Olha bem para aqueles pinos – Miguel apontou. – Mira no meio deles. Esquece que tem pessoas aqui, só se concentra no que você está fazendo.
 
Milena assentiu e se posicionou. Ela segurou a bola como Miguel tinha ensinado e então lançou. A bola percorreu a pista com rapidez e derrubou alguns pinos.
 
— Eu consegui! – Milena gritou e começou a pular.
 
Ela não se importava de não ter derrubado todos os pinos, o importante era ter conseguido. Miguel sorriu parecendo estar orgulhoso e Milena continuou sua comemoração pulando. Só que ela foi indo para o lado sem perceber e acabou enfiando o pé na cavidade que a bola passa e caiu.
 
Algumas pessoas olharam para ela estranhando. Miguel correu até ela.
 
— Você está bem?
 
— Acho que torci o tornozelo – ela passou a mão no local, fazendo uma cara de dor.
 
— Vem comigo! – Miguel colocou o braço de Milena em volta de seu pescoço e a ajudou a se levantar.
 
— Não precisa fazer isso... – ela disse sem graça.
 
— Vamos só até aquele banco... – ele apontou. – Consegue andar?
 
— Não. Dói.
 
Miguel a segurou firme e Milena foi pulando em um pé só, até chegar no banco que estava próximo e se sentou.
 
— Eu vou ver se acho um pouco de gelo.
 
Ela nem teve tempo de responder. Miguel se afastou apressado e Milena percebeu que algumas pessoas a observavam. Por um lado estava se sentindo horrível, tinha pago um mico na frente da maioria dos jovens da igreja e de Miguel. Fora a dor que estava sentindo no tornozelo.
 
Mas por outro lado, jamais esteve tão perto dele. Numa mesma noite, ele tinha pego em sua mão e também ficaram bem próximos quando ele a ajudou a chegar até o banco. Ela ainda conseguia sentir o perfume dele.
 
— Consegui! – Miguel voltou com um saco de gelo na mão. – Ainda bem que tem uma lanchonete aqui... – ele se agachou à frente de Milena e posicionou o saco de gelo no tornozelo.
 
— Eu... eu seguro!
 
— Claro! – ele sorriu e sentou-se ao lado de Milena assim que ela segurou o gelo. – Me desculpe por isso...
 
— Não foi sua culpa. Eu que sou meio desastrada nos esportes mesmo...
 
— Mas eu insisti...
 
— Miguel, está tudo bem.
 
— Tudo bem... Acho que sou muito preocupado com as pessoas... Faço isso direto com a minha irmã.
 
— Você tem uma irmã?
 
— Sim. Eu não te falei?
 
— Não.
 
— Eu tenho uma. E ela é bem chatinha... – os dois riram. – Você tem irmãos?
 
— Não. Sou filha única. Nossa! Parece que não sabemos muita coisa sobre o outro...
 
— Bom... podemos resolver esse problema agora!
 
Miguel e Milena acabaram passando todo o tempo conversando, como um tipo de entrevista, descobrindo coisas um sobre o outro.
 
— Puxa... Te chamei para se divertir e distrair e olha só onde eu te meti.
 
— Está tudo bem. Eu gosto de conversar com você.
 
— Eu também... – Milena sorriu e não conseguiu evitar e viajar naqueles olhos azuis.
 
— Mi... – Bruna se aproximou e cortou o clima dos dois. – A gente precisa ir... Será que você vai conseguir dirigir?
 
Milena esticou a perna e tentou mexer o pé direito.
 
— Não... ainda dói.
 
— E agora? – Jaque perguntou preocupada.
 
— Você não pode dirigir? – Milena olhou para Jaque.
 
— Eu não trouxe minha habilitação.
 
— Eu posso levar vocês, se quiserem – Miguel se ofereceu.
 
— Não, Miguel – Milena olhou para ele com desespero.
 
— Eu tive culpa nisso, então, não vou aceitar um não como resposta!
 
[...]
 
Milena sentou-se no banco passageiro da frente e as amigas no banco de trás do carro. As meninas falaram o endereço de suas casas e direcionavam Miguel por onde ir.
 
— Vocês parecem um casal... – Bruna falou se aproximando do banco de Milena.
 
— Xiu! – ela sussurrou. – Não começa, por favor!
 
Miguel deixou as amigas de Milena em suas casas e por último, levou-a até em casa. Ele estacionou o carro e a ajudou a chegar até a porta de casa.
 
— Agora já sei onde a senhorita Milena mora!
 
Ela sorriu.
 
— Obrigada, Miguel, por tudo!
 
— Não sei se deveria agradecer, afinal, foi minha culpa.
 
— Não foi não! E estou agradecendo pelo seu cuidado comigo. Você foi bastante atencioso.
 
Milena ficou olhando para Miguel e sorriu. Ele estava bem ali à sua frente e aquilo tudo parecia uma cena de filme de romance. O mocinho levando a mocinha para casa. Tudo parecia perfeito...
 
“Isso não é um filme. Acorda, Milena!”
 
Ela balançou a cabeça, na tentativa de “recuperar o juízo”.
 
“Ele não é seu par romântico, ele é seu amigo!”
 
— Você é um ótimo amigo, Miguel. – Milena disse mais para se convencer.
 
Miguel estava sorrindo, mas ficou sério de repente.
 
— Sim... eu sou. – ele ficou sem graça.
 
— É... como você vai pra casa?
 
— Uber! – ele mostrou o celular.
 
— Quer que eu espere?
 
— Não... pode entrar. Você precisa descansar...
 
Ela assentiu e acenou com a mão, entrando na casa logo em seguida.
 
“O que foi tudo isso, meu Deus?” – Milena encostou-se na porta. – “Eu não posso me deixar levar... Não foi nada de propósito... Miguel é meu amigo... Tudo bem que é um amigo muito lindo...” – Milena riu consigo mesma. – “Ah, meu Deus... Me ajuda a fazer a coisa certa!”

Continua...

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