Miguel
Miguel ficou atordoado com o esquecimento de Milena. Ele saiu do quarto do hospital, expulso pelas enfermeiras, ainda sem saber o que fazer.
“Meu amor... ela não se lembra de mim?” – Miguel pensava e repensava, encostado na parede branca e fria daquele corredor de hospital.
Ele olhou para os pais de Milena a sua frente e o casal estava abraçado. Lucy chorava no ombro do marido e o homem olhava para o teto com uma expressão feliz, provavelmente agradecia a Deus pela vida de sua filha.
Miguel estava feliz por Milena ter acordado, mas sentiu-se completamente deslocado.
— Acho melhor eu ir – anunciou Miguel aos pais de Milena.
— É... talvez os exames demorem... – disse Lucy pensativa. Ela se aproximou de Miguel e tocou o ombro do jovem, lançando um olhar de compaixão a ele. – As coisas vão se acertar. Deus não faz “meio milagre”.
Ele apenas apertou os lábios, num protótipo de sorriso, sem mostrar os dentes e então saiu.
Miguel dirigiu para casa com a lembrança de Milena confundindo-o com um médico e as palavras de Lucy. Ele estava tão distraído que dirigiu meio no automático e sem perceber, já estava estacionado na garagem de sua casa.
— Miguel? – chamou a mãe se aproximando, quando viu o filho entrar em casa. – Está tudo bem?
— Está... – ele respondeu fitando o chão. – A Milena acordou do coma.
— Sério?! Oh glória a Deus! – ela levantou as mãos animada. Suzana então percebeu que Miguel não parecia feliz. – Mas por que essa cara?
— Ela não se lembra de mim, mãe – ele disse não conseguindo mais conter as lágrimas. Suzana abraçou o filho e tentou consolá-lo.
Por alguns dias, Miguel se sentiu sem chão. Era difícil conseguir absorver todos os acontecimentos recentes. Primeiro ele tinha vivido momentos maravilhosos com Milena, ela era tudo o que ele sempre esperou. Depois veio o acidente, que o fez sofrer muito mas ele não deixou de confiar em Deus. Por último, o milagre aconteceu e Milena acordou bem, mas sem memória, ou pelo menos, alguma memória dele.
Ele não foi mais ao hospital para visitá-la. Miguel não se sentia pronto para lidar com o que estava acontecendo.
Lucy, a mãe de Milena, entrou em contato com ele depois de alguns dias e o informou sobre a alta da garota e que ele já podia visitá-la em casa. Miguel disse que iria, mas relutou bastante com a ideia.
“Deus, me ajude!” – ele pensou ao estacionar o carro em frente a casa da família Santos. Miguel respirou fundo e então saiu do veículo, em direção a entrada da casa.
— Miguel! – exclamou Lucy contente quando abriu a porta. – Que bom que você veio... Entre, por favor!
Ele entrou e seguiu a dona da casa até a sala de estar. Miguel olhava para os lados, esperando encontrar Milena em seu caminho.
— Sente-se, por favor – Lucy apontou para um sofá. – Eu vou chamá-la!
A mulher saiu animada da sala e Miguel percebeu que ela subiu por uma escada.
O coração batia descompassado, ele não sabia o que esperar. Miguel observou o local e viu pendurados nas paredes e sobre alguns móveis algumas molduras e porta retratos com fotos de Milena. Ele se levantou do sofá e observou de perto foto por foto. Tinha fotos dela na infância, na adolescência, de passeios com a família. Miguel estava adorando tudo aquilo, estava descobrindo algo novo sobre sua amada.
“Mas algo nunca mudou...” – ele pensou pegando um porta retrato da estante. “Esse seu sorriso sempre foi lindo.”
— Miguel? – chamou uma voz atrás do jovem, despertando-o de sua distração.
Ele se virou esperançoso. Era Lucy, mas estava sozinha e com uma expressão preocupada no rosto.
— Eu sinto muito... Hoje ela está um pouco indisposta e...
Miguel suspirou triste e colocou o porta retratos que segurava no lugar.
— Eu nem devia ter vindo... – ele resmungou meneando a cabeça desapontado.
— Miguel, eu imagino que não esteja sendo fácil, mas você já chegou até aqui...
— Eu vou dar um tempo – disse pensativo. – Não quero forçá-la a nada...
— Tudo bem... – a mulher concordou entristecida. – Continue orando por ela, como você sempre fez!
— Sim.
Miguel foi para seu restaurante pensando em tudo o que estava acontecendo com ele. Sentia que tudo o que havia feito por Milena fora inútil.
— Oi... – Letícia disse abrindo lentamente a porta do escritório de Miguel. – Está ocupado?
— Não – ele respondeu fechando o notebook. – Algo errado? – Miguel olhou para a irmã e massageou as têmporas.
— Sim – Letícia se sentou a frente de Miguel. – Tudo está muito errado com você! Miguel, vamos lá! Parece que parou de viver....
— Podemos não falar sobre isso?
— Eu estou muito preocupada com você, maninho. Você nem parece a mesma pessoa...
— Eu estou desanimado... Só isso!
— Miguel, as decepções fazem parte da nossa vida pra gente aprender e não pra gente desistir. – Leticia se levantou e foi andando em direção à porta. – E se eu bem conheço o meu irmão, ele nunca gostou de desistir.
Letícia piscou e saiu do local. Miguel suspirou, refletindo nas palavras da irmã. Ele precisava fazer alguma coisa.
Miguel abriu seu notebook e voltou ao seu trabalho. Precisava se distrair. Enquanto verificava seu e-mail, uma propaganda de um curso gastronômico na França surgiu em sua página.
— Talvez o melhor a fazer seja me afastar – Miguel murmurou, clicando na figura da propaganda para conferir o site. – Sim. É isso que vou fazer!
Miguel preencheu um formulário com algumas informações no site mas estava hesitante em concluir a inscrição. Ele intercalou a seta do mouse em confirmar e cancelar por várias vezes.
“Eu vou ficar bem, doutor?” – a cena de Milena confundindo-o com um médico surgiu em sua mente. Seu coração se apertou e uma lágrima rolou sem permissão por seu rosto.
— É isso! Vai ser melhor assim.
Miguel clicou na opção “confirmar” no site e então concluiu a inscrição no curso francês.
Continua...
Nãaaaaao! O que Miguel está fazendo?? Gente... ele está perdendo as esperanças. Como assim?!
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Quando um sonho vem de Deus
SpiritualÉ possível sonhar com alguém que você nunca viu? [CONCLUÍDO] PRIMEIRO LUGAR no Concurso Palavras de Ouro - Categoria Espiritual (Livro 1) Milena e Miguel são dois jovens tementes a Deus e que tem o sonho de se guardar para alguém especial. Os dois...