Capítulo 22

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Miguel

Miguel ficou atordoado com o esquecimento de Milena. Ele saiu do quarto do hospital, expulso pelas enfermeiras, ainda sem saber o que fazer.

“Meu amor... ela não se lembra de mim?” – Miguel pensava e repensava, encostado na parede branca e fria daquele corredor de hospital.

Ele olhou para os pais de Milena a sua frente e o casal estava abraçado. Lucy chorava no ombro do marido e o homem olhava para o teto com uma expressão feliz, provavelmente agradecia a Deus pela vida de sua filha.

Miguel estava feliz por Milena ter acordado, mas sentiu-se completamente deslocado.

— Acho melhor eu ir – anunciou Miguel aos pais de Milena.

— É... talvez os exames demorem... – disse Lucy pensativa. Ela se aproximou de Miguel e tocou o ombro do jovem, lançando um olhar de compaixão a ele. – As coisas vão se acertar. Deus não faz “meio milagre”.

Ele apenas apertou os lábios, num protótipo de sorriso, sem mostrar os dentes e então saiu.

Miguel dirigiu para casa com a lembrança de Milena confundindo-o com um médico e as palavras de Lucy. Ele estava tão distraído que dirigiu meio no automático e sem perceber, já estava estacionado na garagem de sua casa.

— Miguel? – chamou a mãe se aproximando, quando viu o filho entrar em casa. – Está tudo bem?

— Está... – ele respondeu fitando o chão. – A Milena acordou do coma.

— Sério?! Oh glória a Deus! – ela levantou as mãos animada. Suzana então percebeu que Miguel não parecia feliz. – Mas por que essa cara?

— Ela não se lembra de mim, mãe – ele disse não conseguindo mais conter as lágrimas. Suzana abraçou o filho e tentou consolá-lo.

Por alguns dias, Miguel se sentiu sem chão. Era difícil conseguir absorver todos os acontecimentos recentes. Primeiro ele tinha vivido momentos maravilhosos com Milena, ela era tudo o que ele sempre esperou. Depois veio o acidente, que o fez sofrer muito mas ele não deixou de confiar em Deus. Por último, o milagre aconteceu e Milena acordou bem, mas sem memória, ou pelo menos, alguma memória dele.

Ele não foi mais ao hospital para visitá-la. Miguel não se sentia pronto para lidar com o que estava acontecendo.

Lucy, a mãe de Milena, entrou em contato com ele depois de alguns dias e o informou sobre a alta da garota e que ele já podia visitá-la em casa. Miguel disse que iria, mas relutou bastante com a ideia.

“Deus, me ajude!” – ele pensou ao estacionar o carro em frente a casa da família Santos. Miguel respirou fundo e então saiu do veículo, em direção a entrada da casa.

— Miguel! – exclamou Lucy contente quando abriu a porta. – Que bom que você veio... Entre, por favor!

Ele entrou e seguiu a dona da casa até a sala de estar. Miguel olhava para os lados, esperando encontrar Milena em seu caminho.

— Sente-se, por favor – Lucy apontou para um sofá. – Eu vou chamá-la!

A mulher saiu animada da sala e Miguel percebeu que ela subiu por uma escada.

O coração batia descompassado, ele não sabia o que esperar. Miguel observou o local e viu pendurados nas paredes e sobre alguns móveis algumas molduras e porta retratos com fotos de Milena. Ele se levantou do sofá e observou de perto foto por foto. Tinha fotos dela na infância, na adolescência, de passeios com a família. Miguel estava adorando tudo aquilo, estava descobrindo algo novo sobre sua amada.

“Mas algo nunca mudou...” – ele pensou pegando um porta retrato da estante. “Esse seu sorriso sempre foi lindo.”

— Miguel? – chamou uma voz atrás do jovem, despertando-o de sua distração.

Ele se virou esperançoso. Era Lucy, mas estava sozinha e com uma expressão preocupada no rosto.

— Eu sinto muito... Hoje ela está um pouco indisposta e...

Miguel suspirou triste e colocou o porta retratos que segurava no lugar.

— Eu nem devia ter vindo... – ele resmungou meneando a cabeça desapontado.

— Miguel, eu imagino que não esteja sendo fácil, mas você já chegou até aqui...

— Eu vou dar um tempo – disse pensativo. – Não quero forçá-la a nada...

— Tudo bem... – a mulher concordou entristecida. – Continue orando por ela, como você sempre fez!

— Sim.

Miguel foi para seu restaurante pensando em tudo o que estava acontecendo com ele. Sentia que tudo o que havia feito por Milena fora inútil.

— Oi... – Letícia disse abrindo lentamente a porta do escritório de Miguel. – Está ocupado?

— Não – ele respondeu fechando o notebook. – Algo errado? – Miguel olhou para a irmã e massageou as têmporas.

— Sim – Letícia se sentou a frente de Miguel. – Tudo está muito errado com você! Miguel, vamos lá! Parece que parou de viver....

— Podemos não falar sobre isso?

— Eu estou muito preocupada com você, maninho. Você nem parece a mesma pessoa...

— Eu estou desanimado... Só isso!

— Miguel, as decepções fazem parte da nossa vida pra gente aprender e não pra gente desistir. – Leticia se levantou e foi andando em direção à porta. – E se eu bem conheço o meu irmão, ele nunca gostou de desistir.

Letícia piscou e saiu do local. Miguel suspirou, refletindo nas palavras da irmã. Ele precisava fazer alguma coisa.

Miguel abriu seu notebook e voltou ao seu trabalho. Precisava se distrair. Enquanto verificava seu e-mail, uma propaganda de um curso gastronômico na França surgiu em sua página.

— Talvez o melhor a fazer seja me afastar – Miguel murmurou, clicando na figura da propaganda para conferir o site. – Sim. É isso que vou fazer!

Miguel preencheu um formulário com algumas informações no site mas estava hesitante em concluir a inscrição. Ele intercalou a seta do mouse em confirmar e cancelar por várias vezes.

“Eu vou ficar bem, doutor?” – a cena de Milena confundindo-o com um médico surgiu em sua mente. Seu coração se apertou e uma lágrima rolou sem permissão por seu rosto.

— É isso! Vai ser melhor assim.

Miguel clicou na opção “confirmar” no site e então concluiu a inscrição no curso francês.

Continua...

Nãaaaaao! O que Miguel está fazendo?? Gente... ele está perdendo as esperanças. Como assim?!

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