Quando um sonho vem de Deus

Capítulo 37

Miguel

Ele abriu os olhos e pegou o celular que despertava no criado-mudo ao seu lado. Depois de desligar o alarme, Miguel saiu da cama e ajoelhou-se a beira dela para agradecer a Deus por mais um dia concedido e a oportunidade que Ele estava lhe dando por estar ali.

Ainda sonolento, ele foi até a janela de seu quarto e abriu as cortinas, revelando aquele cenário gélido europeu, típico de um inverno na França.

Seis meses já tinham se passado e Miguel não via hora dos três meses seguintes passarem rápido também. Por mais que aquela oportunidade fosse de ouro, sentia muita falta do Brasil, de sua família e, principalmente, de Milena.

“Minha Milena...” – ele pensou e suspirou, olhando para a foto dela ao seu lado, no papel de parede do celular.

A saudade era grande, mas era por uma boa causa. A lembrança de Milena negando o pedido de casamento para que Miguel pudesse seguir o seu sonho ainda estava bem clara em sua mente. E por mais que ele preferisse ficar ao lado dela, Miguel sabia que aquilo era necessário.

Ele sabia que Deus precisava trabalhar nessa área da vida de Milena, então decidiu embarcar nessa viagem. O momento em que se despediram no aeroporto foi um dos mais difíceis para os dois, mas Milena transmitiu a confiança que Miguel jamais vira nela antes. Isso era bom.

Agora Miguel estava a meio caminho de realizar um sonho antigo, seu diploma no curso gastronômico mais famoso da França. A distância era ruim, mas o amor era forte e real.

— Bom dia, meu amor. Que seu dia seja abençoado e seus passos guiados pelo Senhor a cada decisão que tomar – ele escreveu e enviou a mensagem, que sua noiva provavelmente só leria algumas horas depois por causa do fuso-horário.

Um outro fato difícil pela distância dos dois era que, enquanto Miguel estudava na Europa, Milena estava resolvendo tudo sozinha no Brasil. Casamento, Lua de Mel, moradia... Claro que as amigas e a família também ajudavam, mas a pressão estava na maior parte sobre Milena e isso muitas vezes a estressava bastante.

E esse lado de Milena era algo que Miguel estava aprendendo a lidar ultimamente. Tarefa difícil.

Ele vestiu toda a sua “armadura”, para enfrentar o frio que estava lá fora e foi até um café na esquina do condomínio onde estava morando. Já era um costume começar seu dia tomando um café ali, enquanto lia alguma revista ou material sobre gastronomia. Ele estava distraído em sua leitura, mas sentiu que alguém passou por ele e parou ao seu lado.

— Miguel? – uma voz feminina chamou.

Ele desviou a atenção da revista que lia e levantou a cabeça.

— Não acredito! – ela riu. – Mas que mundo pequeno...

Ele franziu o cenho, esforçando-se para lembrar daquela fisionomia.

— Você não está se lembrando de mim?

— Desculpe...

— Gisela – a jovem de pele morena clara se identificou e riu. – Eu não mudei tanto assim, primo!

— Nossa! Gisela! – Miguel riu e se levantou finalmente para abraçá-la. – Você mudou sim! Faz uns dez anos que não nos vemos.

— É... Verdade!

Assim que se soltaram do abraço, os dois se sentaram à mesa.

— O que faz aqui na França? – Gisela perguntou e lançou um olhar para a revista que Miguel estava lendo. – Gastronomia? Você realmente seguiu a profissão do tio Paulo?