O quinto dia de trabalho

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Para agradar à esposa, que não era flor que se cheirasse, e assim poder dormir no quarto, o fazendeiro mentiu-lhe, dizendo ter conseguido bom dinheiro com a venda dos porcos. Ainda, todo prosa, acrescentou à charlatanice:
— Não disse que comigo esse Pedro entrava nos eixos?
— Não quero saber de nada. Você só dorme no quarto quando essas casa tiver mobília nova — ralhou a esposa.
Por isso, no outro dia, ele chamou o Pedro e ordenou:
— Eu e minha mulher vamos até a cidade para comprar móveis novos para a casa. E, como meu gado anda muito triste com a falta de pasto, quando eu voltar, quero ver todos meus bois, vacas e bezerros rindo. Se você não conseguir fazer meu gado rir, tiro-lhe o couro hoje. Ando louco para isso.
— Sim, patrão! Se é essa sua ordem, eu cumpro — replicou o Pedro, como sempre fazia.
O patrão virou as costas, o Pedro não titubeou: chamou um vaqueiro e mandou-o cortar os lábios de todos os animais, a fim de que mostrassem os dentes como se estivessem rindo.
Nem é preciso falar do desespero do patrão quando voltou e viu seus bois, vacas e bezerros com os lábios cortados. Se não fosse ele tão mau como era, podia-se dizer que dava dó vê-lo chorando no ombro da esposa. Reconheceu estar ela certa quando afirmara que com o Pedro ele não podia. Confessou todas as suas mentiras. Admitiu estar arruinado por causa do Pedro e ter comprado fiado os móveis novos da casa. Jurou abrir mão de tirar uma tira de couro do Pedro e declarou que, agora, só estava preocupado de como ia pagar-lhe o ordenado previsto no contrato. Revelou que temia ser levado à Justiça pelo Pedro. Por isso, chegou a ponto de pedir conselho à esposa sobre qual ordem deveria dar ao Pedro que este não fosse capaz de cumprir e assim eles não ficassem ainda mais pobres.

Aventuras de Pedro MalasartesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora